Capítulo 2

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Arrumei as minhas coisas como a patroa ordenou. As minhas poucas roupas, minhas bijuterias... Opa! A estátua cara da Dona Marta, meus objetos de higiene pessoal, um perfume francês que surrupiei. Perfeito! Mas ainda a minha bolsa está com muito espaço vago.

Vou a cozinha e pego o conjunto de talheres de prata. Deve render um bom dinheiro. Que pena que a geladeira de última geração não caiba na minha bolsa. Mas não faz mal. Tenho algo muito mais importante para pegar. O convite! E talvez aquele vestido de viúva negra. Ainda não conformei com tal mau gosto.

- Dona Marta! – Gritei a porta do seu quarto batendo nele com força, freneticamente – Dona Maaaarta!! A senhora está bem?

- O que ainda estas a fazer aqui? Pensei que já tinha-me livrado da tua presença.

- É que eu queria despedir-me da senhora. A senhora sempre foi como uma mãe para mim, Dona Marta. Queria dar-te um último abraço. – Ela abriu a porta desconfiada, fitando-me.

- O que estas a tramar agora?

- Nada, apenas quero dar-lhe um abraço. – Fui logo abraçando-a, apertando-a bem forte.

- Já chega criatura. Podes largar-me. – Ela disse sem fôlego. Larguei-a com lágrimas nos olhos.

- Posso ajudar a senhora a escolher um outro vestido? É o mínimo que posso fazer. Além do mais, os seus gostos ultimamente são duvidosos.

- Claudia, sai da minha casa. – Ela disse já irritada.

- Por favor Dona Marta. É o mínimo que posso fazer. – Fui logo vasculhando o seu armário, atirando os vestidos ao chão.

- Pelo amor de Deus. Escolhe logo um vestido, para deixares-me em paz de uma vez por todas.

- Olha Dona Marta. Que lindo! Muito melhor do que aquela mortaia que a senhora chama de vestido. – Peguei num vestido longo cor de vinho magnifico. – Venha ver!

Ela foi-se aproximando de mim analisando o vestido com cautela.

- Até que tens um bom gosto menina. É mesmo perfeito. – Ela disse pegando o vestido das minhas mãos ajustando-o ao corpo.

É agora! Joguei-a para dentro do armário e fechei-a a chave. Pela primeira vez esta maldita chave servia de alguma coisa. Ela sempre trancava o armário antes de sair de casa, como se eu não fosse uma pessoa confiável. Que injustiça.

- Claudia, tira-me daqui! Vou chamar a polícia. – Nem dei ao trabalho de responder. Vasculhei o quarto até encontrar o bendito convite dentro do forro de uma almofada. Até isso ela esconde de mim? Que afronta.

Tentei domar os meus cabelos cacheados, utilizando os mil e um cremes que a Dona Marta tinha exposto na penteadeira. Gente chique é tudo estranho! Que frescura.

- Tira-me daqui sua maluca. Prometo que não vou contar a ninguém. – Ela berrou lá de dentro. Pensa que nasci ontem. Sou loira mas não sou burra. Mesmo que de farmácia.

Passei maquilhagem e fiz um delineado divinal realçando os meus olhos cor de mel. Fiquei com a cara parecendo um carro batido. Droga! Porque isso é tão difícil?

Fui até a casa de banho e lavei o rosto, resolvendo passar apenas um batom. O quê? Pelo menos isso é fácil.

Agora vem a parte mais difícil. Vestir a mortaia.

Caracóis! Acho que é melhor enrolar-me num lençol. Mas assim não me deixariam entrar no baile, logo preciso utilizar aquele ataque aos olhos.

Peguei as chaves da Dona Marta e a minha bolsa recheada apenas com os meus pertences (só por caso de dúvidas) e sai correndo. Afinal, a cinderela não pode chegar atrasada. Certo?

- CLAAAAAUDIA!!!! TIRA-ME DAQUI. VAIS PAGAR CARO POR ISSO.

Que sem noção. Quem deve pagar o meu décimo terceiro é ela. Despede-me e depois eu é que vou pagar. Eu hein!

Quando abri a porta do carro lembrei que não sei conduzir. E agora?

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Glossário

mortaia - roupa utilizada para vestir os mortos

Olá gentxi linda. Quem virou da Claudia comenta "Caracóis!".

Amanhã tem mais. Bjs de chocolate!!! 😘😘😘

Entre Panelas e VestidosWhere stories live. Discover now