Capítulo 3

214 48 343
                                    

Fui a correr apanhar um autocarro. Caracóis! Esqueci-me de calçar! Agora paciência. Ninguém irá reparar nos meus pés, tendo como figura de destaque este belíssimo vestido.

- Ei. Para aí! – Disse gritando para o motorista.

- Estás maluca, minha senhora? Aqui não é paragem obrigatória. Vai procurar uma.

- Senhora são os teus caracóis, mal-educado. Pare este autocarro! – Disse atirando-me a sua frente. Ele travou assustado. Por pouco não triturou-me.

- Ficas-te doida mulher? Quase que te atropelei.

- Ainda bem que não atropelou, né? Senão irias para a cadeia. – Eu disse subindo no veículo.

- Ei. E o bilhete?

- Qual bilhete? – Perguntei com cara de inocente.

- O bilhete de autocarro, horas. Onde está o dinheiro?

- Quase que atropelaste-me e ainda pedes dinheiro? Que desrespeito. Este mundo precisa de pessoas com bom senso. Sinceramente. – Disse resmungando encaminhando-me para o fundo do autocarro.

O motorista deu partida no autocarro. Talvez já cansado de tanto discutir, não falou mais comigo. Esta gente precisa de educação. Não sei aonde vamos parar com um mundo assim. Agora não podemos nem pegar uma boleia num autocarro? Que coisa.

Chegando no Hotel Porto Grande, local onde iria acontecer o baile, percebi uma coisa estranha, TODOS ESTAVAM COM MÁSCARAS! O que é isto? Ninguém avisou-me que era um baile de máscaras. Gente incompetente! Vou mandar despedir todos.

E agora? Onde irei arranjar uma maldita máscara? Caracóis!

Analisei ao redor. Máscara. Máscara. Máscara. Não estávamos na época de carnaval e não tinha dinheiro. Que chatice.

Eureca! Já sei. Peguei uma pedra que estava no chão e comecei a batucar no meu vestido até retirar um remendo. Peguei-o e amarrei na cabeça tapando os meus olhos. Magnífica!

Fui até a porta do hotel e dei um tchau para o segurança, subindo as escadas com todo o meu glamour.

- Ei. Aonde pensas que vais?

- Para o baile, ora. – Coloquei uma das mãos na cintura e fiz a minha cara de chique, remexendo os meus caracóis.

- Vestida assim? - Ele perguntou com cara de nojo.

- O que é? Nunca viu uma pessoa fantasiada de mendiga? É o último grito da moda fofo. – Disse dando uma voltinha.

- Que seja. O seu cartão? – Ele perguntou com cara de tédio.

- Aqui! – Passei o convite na sua cara e depositei-a nas suas mãos.

- Tudo certo Sra. Marta, tenha uma boa noite. – Ele disse devolvendo o papel.

Ufa. Até que enfim no maldito baile. Wiliam que me aguarde!

Palavras: 412
Total: 1489

Glossário

autocarro - veículo de transporte de passageiros (ónibus)

bilhete - fornecido pelo motorista do autocarro aquando da entrada do veículo mediante pagamento do valor estipulado

boleia - quando vamos do ponto A ao ponto B no carro de outra pessoa usufruindo da sua boa vontade (carona)

Hotel Porto Grande - principal hotel da ilha de São Vicente

tchau - palavra bastante utilizada em Cabo Verde, quando despedimos de alguém. Também pode ser considerado um aceno de mão.

Oie. Mais um capítulo da maluquinha do ano. Vamos entrar neste autocarro da loucura, mas não esqueçam-se de pagar o bilhete 😜! Uma estrelinhaai vai!!!

Beijos de algodão doce para o domingo! 😘😘😘😘

Até amanhã encaracolados.

Entre Panelas e VestidosWhere stories live. Discover now