Capítulo 38 - Vozes de um passado

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Heitor

O peso no meu ombro indicava o cansaço de estar trabalhando em um sábado ou talvez era apenas a dor do soco que Vic havia desferido no treino de ontem. Aquela manipuladora ardilosa! 

Havia proposto uma aposta aparentemente inocente quando na verdade já tinha um plano em mente, mesmo tendo ganhado ela precisou da sua grande insistência para me convencer, deixando-me sem saber se sou uma boa pessoa em tentar ajuda-la ou um completo idiota em arriscar levar uma aluna em uma competição clandestina sem a autorização dos pais.

"Não se esqueça, as 19:00 na frente da academia." — ela enviou uma mensagem.

"Já me arrependi de passar meu número de telefone." — respondi.

Tomei um gole de café e voltei a fitar a sala repleta de pais que conversavam sobre seus filhos, já tinha dito que a reunião havia acabado e basicamente eles precisavam ir embora.

— Com licença. Acho que nós já nos conhecemos.

A senhora de olhos castanhos e voz calma estendeu a mão em minha direção. Segurei com mais firmeza o copo frágil e quente observando-a por alguns instantes.

— Prazer, Heitor. — retribui o aperto de mão finalmente tentando manter a tranquilidade. Era inevitável não a achar parecida com Kate com aquele cabelo castanho escuro. — A senhora?

— Joana. — respondeu sorridente com seus olhos a me encarar com poucas rugas ao redor. — Nos conhecemos em uma padaria, se recorda? Havia um rapaz com o senhor.

Retirei minha mão a colocando no bolso ainda segurando o café com a outra, com receio de qual era a verdadeira intenção daquele contato. Respirei fundo com um sorriso na tentativa de eliminar a tensão. Aquela senhora sabia sobre a minha relação com sua filha?

— Acredito que devo me desculpar pelo mal entendido. O garoto estava um pouco atordoado.

— Imagina! Sabe como são nessa idade. — pareceu insinuar algo, causando ardor na minha garganta. — Kate não falou que também era professor dela, não me surpreende, ela anda tão distante.

— É uma idade difícil.

Era difícil me referir a Vênus como apenas uma garota.

— Bom, na verdade gostaria de parabenizá-lo. — falou de forma cordial deixando-me confuso. — Em tantos anos nesta escola é o professor fixo mais jovem que conheci, olha que eu e meu marido estudamos aqui. Normalmente é entediante essas reuniões, porém o senhor a ministrou tão bem que fiquei atenta a cada detalhe, abordou assuntos importantes com clareza.

O alívio pareceu se estender por toda a extensão do meu peito a cada palavra dita.

— Agradeço! Significa muito, me dedico para honrar a oportunidade que me ofereceram aqui.

E era verdade, estava me dedicando como nunca havia feito antes, não só na escola, mas em casa planejando trabalhos, realizando pesquisas para cativar alunos desinteressados, corrigindo provas. Nos únicos momentos de folga Kate ia até o loft, nós transavamos calorosamente, conversamos, ela brincava com Niklaus e depois partia. Era irônico o fato do único momento que não estava trabalhando, estar causando justamente o que poderia arruinar tudo.

— Amor? — um senhor de camiseta social surgiu na porta da sala chamando atenção de Joana. — Finalmente a reunião do Cass acabou, podemos ir?

Ele perguntou entrando na sala, só parou ao me observar com as sobrancelhas franzidas.

— Querido, este é Heitor, o professor de língua portuguesa dos nossos filhos. — Joana colou a mão delicadamente no ombro do marido.

— JOSÉ PAULO MONTEIRO. — ele estendeu a mão, apressei ao retribuir. — Pai da adorável Katharine Monteiro, boa aluna, responsável. E do Lucas Monteiro, cujo acabei de descobrir ser um tranqueira.

Meu Romance ProibidoWhere stories live. Discover now