Capítulo 43 - Contraditório

1.5K 115 43
                                    

Kate

tic-tac, tic-tac, tic-tac...


O ruído que vinha do grande relógio pregado na parede indicava que o tempo estava passando, enquanto minha atenção permanecia fixada nos números pequenos do calendário de mesa ao lado do computador e do meu suco de maracujá. Fazia dias que não conseguia colocar uma gota de suco de laranja na boca e o maracujá ajudava a acalmar meus ânimos ou pelo menos, era o que esperava sempre que tomava.

A luz amarelada do escritório fazia sombra nas canetas que continham o nome da construtora gravada, sempre organizadas dentro de um potinho preto que vire e mexe derrubava quando Vitor aparecia de repente e me assustava. Hoje meu chefe chegou cedo, com a cara mais amarrada que o comum e já fazia quase quarenta minutos que ele deixava o senhor de terno azul esperando sentado em uma das poltronas a minha frente.

Karen estava dentro da sala com ele, ora ou outra saia e pedia paciência para o homem que aguardava, parecia apreensiva. Se pudesse chutar, a mesma tentava apaziguar alguma situação e com essa possibilidade só podia pensar que o projeto, qual dei a ideia, podia estar causando todo aquele rebuliço. Sr.Vitor culparia a mim se algo desse errado?

Entreguei o relatório há semanas, só agora eles começaram a execução. Segundo Karen, minha ideia foi o pontapé, carecia de muitos ajustes e correções obviamente. Vitor nada expressou sobre o assunto, sequer me deu um obrigada e dificilmente o faria, era difícil imaginar tais palavras saindo da boca daquele mal humorado.

- Senhorita? - o senhor de voz calma se manifestou, tirando minha visão do calendário para focar em seu rosto de quarenta e poucos anos. - Acha que irá demorar muito?

Sua expressão cansada e falta de cabelo demonstrava que talvez o desgaste de anos de trabalho estivesse o consumindo, jugando a paciência que apresentava ao aguardar naquela recepção e a educação em sua voz, realmente necessitava da oportunidade de conversar com o diretor. Por mais bem vestido que estivesse, existia traços humildes em seu rosto diferente de muitos que já vi por ali. Se ainda estivesse com meu bloquinho de anotação, diria que parecia alguém confiável.

- Não senhor. Tenho certeza que o sr. Gates logo irá o atender. - deixei um sorriso brotar em meu rosto, na tentativa de disfarçar a clara situação caótica que estava acontecendo dentro do escritório do meu chefe. - Gostaria de mais uma xícara de café?

Sinalizou negativamente ajeitando-se na poltrona em frente às grandes persianas, não acreditando muito em minhas palavras.

Talvez, eu mais do que aquele homem, esperava o fim da discussão. Nas últimas semanas fiz do meu trabalho o foco principal, cheguei cedo todos os dias e ajudei Karen com coisas que antes não me arriscaria a fazer. Conheci melhor as pessoas dos outros andares e setores, agora chamavam-me de menina prodígio. Claramente muita gente esnobe, alguns com postura um tanto duvidosa pendendo a falsidade, já outros eram tão receptivos que me faziam querer trabalhar mais horas por dia e poder ir tomar um cafezinho a tarde com eles, me sentia adulta.

Apenas aqui percebia certo controle e por isso não poderia desandar, precisava que as coisas estivessem bem no trabalho. Esforcei-me tanto para convencer Vitor me aceitar ali, que já até acostumei com sua cara fechada, só não conseguia aceitar sua grosseria e tentava ao máximo tolerar.

No momento em que passo pela porta da empresa e dou de cara com a avenida cheia de carros meus problemas voltam a atormentar minha cabeça, apenas coloco no piloto automático, de novo, quebrando a promessa que fiz a mim mesma na virada desse ano.

Quando não estava no trabalho ou correndo para finalizar alguma atividade escolar com antecedência focava em estar com a minha família, jogando conversa fora com Cass tentando ser uma boa irmã, me aproximando dos meus pais os dando o máximo de atenção e os ajudando com algumas coisas diárias. Minha família esperava ansiosamente pela alta da Cami e Madalena, nome escolhido pela minha irmã para sua primeira filha, agradeci fortemente a Deus a escolha ter sido feita por Camila, já que o Luan havia sugerido Deusarina, para homenagear sua avó.

Meu Romance ProibidoWhere stories live. Discover now