Capítulo 1

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Raquel

— Chefa — Tati me chamou pelo apelido que adorava usar. Já que ela achava a palavra Chef sem graça. — Pediram um steak tartare na mesa sete e uma limonada especial — informou, lendo o papel deixado pela garçonete.

Tatiana era a minha assistente na cozinha do Belle Damme, o restaurante que eu tinha herdado da minha avó e reformado aos moldes dos bistrôs parisienses, onde tive o prazer de conhecer quando morei um ano na França, terminando o meu curso de gastronomia.

Acenei concordando e enquanto ela separava os ingredientes, peguei a minha panela da sorte e a carne previamente cortada. Tatiana havia sido a primeira funcionária que contratei para trabalhar comigo. Ela era nova, com apenas dezoito anos e um sonho de um dia ser chef. Não demorou muito para que nos tornássemos amigas, mesmo que fossemos tão diferentes uma da outra. Ela era extrovertida e otimista, eu estava mais entre realista e sarcástica.

Tati alcançou com facilidade os temperos na prateleira acima da minha cabeça. Era uma das vantagens de ser alta, eu, ao seu lado, parecia uma adolescente baixinha e voluptuosa, mesmo que fosse sete anos mais velha. Não que eu estivesse reclamando do meu corpo, preferia as minhas curvas do que ser tão magricela quanto ela. Tampouco Tati era feia, com seu sorriso doce e porte de modelo de passarela, conquistava muitos elogios. Para o desgosto de sua namorada ciumenta...

Passando os itens, ela começou a assobiar um ritmo alegre.

— Fez as pazes com Priscila?

— Sim! Acho que ela finalmente entendeu que a amo e não há outra pessoa no universo para mim.

Esse era outro aspecto em que eu e ela éramos diferentes: Tati era uma romântica incurável e acreditava na pureza e verdade absoluta do amor. Eu não.

— E você? — perguntou.

— Eu o que?

Nós duas sabíamos que eu estava me fazendo de desentendida.

— Quer que eu soletre? — Colocou as cebolas para dourar. — Você e o bonitão do açaí. A festa será amanhã, já pensou no que vai dizer?

Diego era a droga da pedra no meu sapato. O conheci seis anos antes em um curso de culinária. Cada bancada tinha espaço para três alunos e deveríamos fazer as receitas ensinadas pelo chef. Eu e Miguel chegamos atrasados e só havia espaço livre próximo a Diego, que ocupava o fogão do meio. Pedi para ficar ao lado do meu primo e ele simplesmente olhou para mim e disse um sonoro "não".

Segundo ele, estava na melhor posição, em linha reta com o professor, e não mudaria só porque eu precisava que meu primo segurasse a minha mão. Fiquei muito irada, porém mordi a língua. As coisas só foram daí para pior. Ele sabia que estava me irritando e parecia gostar disso. Minha paciência se esgotou quando percebi que Diego estava usando as panelas dele e as minhas, que deveriam estar no meu lado da bancada. Antes que percebesse, o ataquei com o que tinha em mãos: uma colher comprida de plástico, que se quebrou por causa de sua cabeça dura. A partir daquele momento, sempre que Diego estava por perto, minha vida era um inferno.

Um inferno hormonal...

Em um momento eu queria bater nele (não entendia porque Diego despertava o meu lado violento) e no outro desejava arrancar as suas roupas e beijá-lo até que não houvesse amanhã. Para o meu azar, Miguel se entendeu muito com ele e até viraram bons amigos. O que significava muitas baladas com a sua ilustre presença. Uma coisa levou a outra e entre farpas, muitos beijos foram trocados.

Por que os mais idiotas tinham que beijar melhor? Isso deveria ser estudado! Talvez se ele ocupasse a boca com outras coisas que não incluíssem me irritar a cada palavra dita, fosse mais útil para a sociedade.

Entre tapas, beijos e bebês! (amostra)Where stories live. Discover now