O amargo sabor da desilução

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Cheguei à minha casa super bem humorado. Havia traçado alguns planos no caminho de volta para casa; eu não tinha o telefone da Camila – incrivelmente me esqueci de pedir –, mas tinha o de sua loja. Esperaria o horário do almoço para ligar, pois não queria atrapalhá-la, e então a convidaria para um novo encontro. Pouco me importava que o casamento estivesse próximo, só precisava arriscar e torcer para dar certo.

Pode parecer muito egoísta da minha parte – sei que Camila sofria com aquela situação complicada e sei também que podia trazer problemas pra sua vida –, mas eu precisava impedir que se casasse com um idiota. Não queria que as coisas fossem daquele jeito, mas também não podia ficar parado vendo tudo acontecer sem que nada fizesse.

Tirei a camisa que estava vestindo e desabotoei a calça. Vi Lulu deitada no sofá, por isso sentei ao seu lado e puxei-a para mim, colocando-a em meu colo. Foi quando vi um papel em cima da mesa de centro, não havia reparado nele antes. Peguei-o com bastante curiosidade e li instintivamente, sem fazer ideia do que me aguardava:

"Espero que seja o suficiente. Se for menos, fique com o troco. Se for mais, gostaria de que me ligasse para que eu possa fazer outro cheque. Aliás, queria muito que fizesse umas fotos no meu casamento, mas tive uma ideia... Sabe as fotografias que tirou da sua irmã? Quero algumas daquelas. Vou estar no hotel, já maquiada e penteada, às dezessete horas. Esteja lá, pago qualquer preço por elas, pois meu noivo irá adorá-las. Se não puder ir, mande-me um e-mail avisando."

Camila não havia assinado aquele bilhete – feito de papel arrancado de uma agenda –, mas era óbvio que o havia deixado pela manhã. Sinceramente, eu fiquei muito confuso com ele. A ficha simplesmente não tinha caído, até que encontrei o maldito cheque. Exato, havia um cheque de quatro mil reais, em meu nome, junto com o bilhete. Balancei a cabeça, ainda sem entender. Para quê raios Camila havia deixado um cheque? Estaria pagando pelas fotografias que eu nem havia tirado ainda? Certamente não cobraria tão caro, aliás, sequer sabia se conseguiria vê-la prestes a se casar.

...

"Meu noivo irá adorá-las". Hunft. Fala sério...

...

...

Camila posando sensualmente para mim antes do casamento? Quem ela pensava que eu era?

...

"Um garoto de programa, Shawn", fiz o favor de responder a minha própria pergunta.

...

Acho que li o recado umas cinco vezes para que a porcaria da ficha caísse – e devo acrescentar que caiu bem em cima do meu coração. O estrago foi grande. Enorme. Absoluto. Nem sei dizer se perdi o controle, se gritei, se chorei ou se parei de respirar. Só sei que doeu. Muito. De um jeito que não pude suportar.

A filha de uma mãe me pagou pela noite que passei com ela.

Pela nossa noite de amor.

Camila pagou para transar comigo, como se eu fosse um... um... garoto de programa.

– Puta... que... pariu... – murmurei, jogando-me com tudo no sofá. Minhas pernas se mostraram incapazes de manter meu corpo de pé. Todo o sangue do meu corpo pareceu ter se esvaído.

Permaneci em um estado catatônico. Simplesmente parei no tempo; não conseguia me mover, tinha dificuldade até para respirar. Uma parte de mim não queria acreditar naquele absurdo, mas a outra estava jogando coisas na minha cara. Coisas do tipo:

"Como você pôde ser tão idiota?"

"Por que se deixou envolver desse jeito?"

"É claro que ela só queria sexo contigo, você só serve para isso, Shawn."

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