Encontro de quarentena

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Não era para a gente se encontrar, mas nos encontramos. Você olhava para fora da janela do carro. E eu olhava pro tamanho dos meus quadris. Nariz, boca, olhos, frases no retrovisor do carro.
Especialmente as frases.

Você olhava demais para a janela e eu te admirava. Analisava seu rosto e você analisava o meu, as vezes. A gente fica melhor nas fotos. O rosto brilha mais e tem os filtros. Os filtros ajudam bastante. A gente acaba mostrando quem a gente é depois.

-- Odeio primeiros encontros!
Talvez eu tenha dito isso.
É uma questão de ângulo. Demoro pra entender que o que os homens buscam não é a foto, mas o fundo.
E aí eu fiquei te mirando e você me mirou. Eu tentei conversar sobre samba, já que tava tocando um no rádio do seu carro. Acho que você quis me impressionar com alguma coisa. Você não percebeu que eu não tava mais nem aí .

Nunca estive, na verdade.

Essas coisas de carro e ostentação . A cidade deveria se chamar a cidade da ostentação. A verdade é que eu sempre fui meio feia. E sempre vinha alguém falar que era exótico para minimizar a minha falta de charme.

Aí eu achei que a gente ia transar, mas você quis conversar.

E quando você me beijou.

Meu Deus.

Eu saí de mim e voltei. Foi uma sensação equivalente a descobrir um mundo é um pouco de ser criado pelo amor de Deus
Eu acredito em Deus. Não como as igrejas e as religiões dizem para acreditar. Não me revolto com elas. Eu respeito. Aquele respeito que é meio medo e meio aceitação.
Eu aceitei seus beijos 173 eram macios e quentes. Meus óculos se embaçaram . Eu nem tirei o óculos. Ele caiu. Demorei depois para encontrá-los. Sua mão foi me pegando o rosto inteiro e a nunca e passando para o ombro e o peito.

Você lambeu ele inteiro.

Passou a língua e chupou muito tempo como se fosse tirar alguma coisa de lá.

Eu fiquei pensando que eles estavam murchos demais e me imaginei como a Pamela Anderson ou a Joana Prado. Pensei que eu poderia colocar silicone também e não ficar pensando tanto nisso. Mas não adianta, pensamentos assim são corriqueiros

Mas não senti muita coisa ali. Curioso essa ideia. Mesmo assim eu tremi.

Meus pontos são outros. A nunca. A palma da mão. Eu gosto que me beijem a palma da mão. Ou acariciam. Quem sabe os pulsos. Eu gosto que me toquem no pulso.

Você pegou minha insegurança de longe e acho que se enjoou. Porque eu fico me perguntando e perguntando demais se está bom. E aí entro no looping do bom e do ruim e estraga tudo. Porque a coisa tem que fluir. Aquela dança do sexo. Bom. Do amasso, no caso.

Ninguém tem tempo pros inseguros e invisíveis. A vida é uma corrida que faz sentido exatamente quando a gente para e se vê numa dessas coisas.
E até agora não sei o que eu esperava que acontecesse.
Eu não queria te esperar e te esperei. E me acho ridícula por isso.
Aquela rejeição de sempre. Tão velha e costumeira
O acre aroma das despedidas  cortês.
Do Nao
Do ah espero que fique bem.
Talvez fosse melhor se não houvesse educação e fossem direto pro contato bloqueado.
Pros adeuses sem os méritos .
Pro você não presta.

O ambulante e o sabiáWhere stories live. Discover now