Capítulo 1

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Dois anos depois...

- Você ainda está tentando consertar a droga desse som? – Pleyson perguntou, colocando a cabeça para dentro do carro.

- Sim, eu estou.

Ele me lançou um olhar feio, só para variar.

- Você está trabalhando, não é hora de arrumar seu carro.

- Não tem nenhum trabalho para mim no momento.

Ele se afastou.

- Estou de olho em você.

Voltei a mexer no som enquanto ele se afastava.

Levou algum tempo para eu conseguir sintonizar em qualquer rádio, mas finalmente consegui fazer o aparelho sintonizar em algumas. Agora só faltava arrumar o leitor de CD.

- Pedro! – Pleyson me gritou – Será que você pode fazer o seu trabalho um instantinho?!

- Eu estou fazendo meu trabalho – disse, sabendo que iria irritá-lo – Estou arrumando o som do meu carro.

- O seu trabalho não é esse! – Pleyson gritou de volta– Vai resolver o problema para a garota se não quiser ficar sem o dinheiro para pagar sua faculdade esse mês.

Suspirei e levantei. Ele sempre botava minha faculdade no meio, o que era um saco. Eu dependia dele para pagá-la.

Saí do carro e andei até uma garota que estava de pé ao seu lado. Ela era alta, tinha os cabelos cacheados mais volumosos que eu já tinha visto e olhos incrivelmente azuis. Ela pareceu chocada ao me ver.

Me aproximei dela já acostumado com essa reação por parte do sexo oposto. Eu não era um cara narcisista, mas desde sempre as mulheres me olhavam assim. Quando eu era mais novo eu gostava. Antes de me apaixonar. Antes do coração partido... Então isso passou a não importar mais.

Parei na frente dela.

- Posso ajudar? – perguntei.

Ela continuou me encarando, sem responder, como se não tivesse me ouvido. De salto alto ela ficava quase da minha altura, seu cabelo estava muito bagunçado, mas de um jeito um tanto charmoso. Fazia tempo que não olhava para nenhuma mulher com interesse, mas eu era homem, as curvas femininas ainda me chamavam atenção, e aquela garota tinha muitas delas, de fato.

- Ah... – falei, quando ela passou muito tempo calada – Tudo bem?

- Hm... Sim, tudo bem. Desculpa. Eu... eu... – ela fez uma pausa, parecendo pensar – Eu preciso de um carro trocado. Não! Quer dizer... – suspirou fundo – Eu preciso trocar o meu pneu. É isso.

Fitei ela quase querendo rir. Ela estava tão desconcertada comigo que parecia não conseguir formular frases conexas. As mulheres que costumavam vir na oficina não reagiam desse jeito. Elas me viam e cresciam sobre mim, tentando me mostrar todo seu potencial e chamar minha atenção. Mas essa garota tinha uma coisa de... garota. Ela tinha corpo de mulher e jeito de menina. Mas ela também tinha cara de encrenca. E eu descobri cedo demais que eu estava certo.

- Tudo bem – eu disse – Só um instante.

Eu me virei em busca da minha camiseta preta de trabalhar. Eu tinha deixado ela em algum lugar por ali. Tirei a blusa branca que estava vestindo, não podia sujar ela de jeito nenhum, era um presente recente da minha mãe.

- Você viu minha blusa preta? – perguntei para Pleyson quando não vi a blusa em lugar nenhum.

Ele vasculhou perto da estante de ferramentas e depois jogou a blusa na minha direção.

O Ardor da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora