Quanta Coragem!

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DEZESSETE DE FEVEREIRO (Casa do Cullen)

- Carlisle.

- Tudo envolvendo... Tudo envolvendo Esme.

Ouvir aquele nome sair da boca dela foi quase tão insuportável quanto ver sua expressão de pena.

Eu não podia suportar. Agora ela não só sabia, ela tinha visto a parte da minha vida mais feliz, e também a mais triste. Ela viu minha maior fraqueza.

Fechei os olhos por um momento, tentado organizar os pensamentos.

- Carlisle, por favor...

Sua voz doce e cheia de pena me atingiu, mas eu me esquivei para longe dela. Eu tinha que sair dali agora, e foi isso que eu fiz. Não fui capaz nem de olhar nos olhos dela, eu já suportara muita humilhação e pena ao longo dos anos, não precisava de mais uma dose. Então, apenas lhe dei as costas e sai dali caminhando a passos largos em direção ao meu quarto.

Fechei a porta atrás de mim e me sentei no sofá diante da janela. Só ali, sozinho, foi que eu percebi que ainda segurava o livro e a foto de Esme.
Eu tinha lhe dado aquilo logo quando nos casamos. Ela amava romances, principalmente quando se tratava de Jane Austen, por isso lhe dei aquele livro que eu havia conseguido há muito tempo.

Sorrio, triste.

Quanta saudade eu sentia dela, do sorriso dela, da voz dela, do cheiro dela. Eu sentia falta das nossas conversas, do modo como tudo estava bem só pelo fato dela estar comigo. E agora eu estava sozinho. E tudo era horrível, sem vida. Como alguém morto podia sentir tanta dor?
E o pior de tudo era não poder nem ao menos jogar um pouco daquilo para fora com lágrimas! Eu não podia nem ao menos dormir para esquecer por um momento daquilo... Não podia. Aquela era a minha maldição e eu morreria sofrendo com o peso da culpa e do vazio dentro mim.
Pelo menos um lado bom: eu não temia a morte absoluta, eu a almejava. Estava pronto para me sacrificar se necessário, eu não tinha nada a perder.

- Snow White.

Provavelmente já passava das 3 da manhã.

Fiquei ali, caminhando de um lado para o outro na sala, me culpando por ser tão intrometida, por não conseguir me controlar, por ser tão descuidada.

Eu o havia afastado de vez. Ele não conseguia nem olhar na minha cara!

Não. Eu não podia deixar as coisas ficarem assim. Eu tinha que falar com ele.

Caminhei decidida, mas parei antes de sair da sala.

Mas e se eu piorasse tudo? E se eu só o fizesse se sentir pior? Eu não conhecia ele totalmente, mas sabia que parte daquela raiva cabia ao fato de eu saber algo tão pessoal dele.

Eu me sentia tão mal, havia o julgado tanto sem me dar conta de que eu não era a única com problemas.

Que se dane! Ele pode até me chutar de lá, mas eu preciso vê-lo.

Caminhei até seu quarto e dei três batidas leves na porta. Não obtive resposta, e para ser bem sincera, nem esperava.

Reuni toda a coragem que eu tinha e abri a porta, de forma firme e ao mesmo tempo cautelosa, e fiz o mesmo ao falar.

- Eu sinto muito.

- Será que você pode me dar o mínino de privacidade? - Sua voz estava carregada de frieza, mas não deixei aquilo me afetar, apenas dei mais dois passos cautelosos em sua direção, enquanto continuava a falar.

- Eu sinto muito por ter invadido sua privacidade, de todas as formas possíveis. Mas...

- Saia! - Ele tentou me interromper, mas eu continuei.

- ...ambos sabemos que não dá para voltar atrás. Porém, você pode conversar comigo...

- Eu não preciso disso.

- Talvez não precise, mas talvez precise! E isso pode ajudar...

- O quê? Acha que vou "me abrir" com você? - Perguntou cético. - Você já não sabe o suficiente?!

- Eu quero ajudar - Após eu dizer isso, ele se levantou da poltrona e em um segundo já estava na minha frente.
De novo senti aquela sensação... mas a contive e mantive a pose firme.

- Vou te pedir pela última vez: Saia. Daqui. - Ele dizia cada palavra pausadamente, friamente. Seu tom era baixo, mas intimidador. - Eu não preciso da sua ajuda, nem da sua pena. Então, apenas saia daqui.

Eu sabia o que ele estava fazendo, seus olhos brilhavam e qualquer um se sentiria intimidado com eles naquele momento. Mas a única coisa que eu via neles era dor e culpa. Eu não podia, eu não queria deixá-lo ali. E sabia que por mais que ele tentasse parecer uma fera, estava longe de ser isso.

- Não. - Falo de forma firme e me aproximo dele. - Eu não vou sair. - Sussurro levando minhas mãos até sua nuca e me inclinando um pouco para lhe abraçar. Não sei de onde tirei essa ideia, mas fiquei orgulhosa por ter coragem suficiente para executá-la. No começo ele tentou se esquivar, mas eu o apertei mais, até ele ceder.

- Carlisle.

Ela estava me abraçando?!
Por um momento fiquei perplexo, depois tentei me esquivar, mas ela se manteve firme.

Tentei formular uma frase maldosa, que fizesse ela se afastar, que a deixasse com raiva. Mas eu não conseguia, ela estava tão próxima, com o queixo apoiado no meu ombro, me abraçando!

Seu corpo emanava um calor que eu nem sabia que precisava, e por um momento me permite sentir um pouco do conforto daquele abraço, sentir o peso no meu peito diminuir.
Meu desejo era afundar o rosto em seu pescoço, retribuir o abraço, apertá-la contra mim, mas me contive em apenas deixá-la me abraçar.

Ficamos por alguns minutos assim, naquela situação estranha, mas ao mesmo tempo acolhedora, até ela virar o rosto na mesma direção do meu e dizer:
- Você pode ser orgulhoso de mais, mas eu realmente quero te ajudar. Não importa o que eu vi, eu quero ouvir de você. - Após dizer isso ela se afastou, me olhou nos olhos como se tentasse captar se eu havia entendido o que ela tinha dito, e depois saiu sem dizer mais nada, fechando a porta atrás de si.

Fiquei ali em pé, com meus pensamentos a mil. Por fim, caminhei até o sofá e me sentei.

Por que ela estava fazendo aquilo? Eu sabia que ela estava sendo sincera, mas por quê? E porquê, diabos, eu permiti que ela me abraçasse? Na verdade eu não permiti, ela me forçou com toda aquela sua determinação e teimosia.

Como tudo havia mudado de lado tão rápido: há algumas horas era eu quem estava na porta do quarto dela, pedindo desculpas. Porém, eu não tive tanta coragem como ela...

Caramba, ela havia me abraçado!

Querido Carlisle...Existem segundas chances?Onde histórias criam vida. Descubra agora