Você quer esperar a chuva passar?

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Cozinhar é sobre afagar o próprio ego. É sobre consolar a si, dizer que é bom em algo, dizer que pode fazer as coisas direito e que não é um completo inútil. Bem, foram essas as coisas que pensei quando havia cozinhado para o Kihyun. Escutar seu feedback foi de uma gigantesca importância, uma vez que não tinha uma certeza sólida sobre meu feito. Mas estava realmente gostoso. Então afaguei meu ego.

Eu sempre observo como Kihyun se comporta. De vez em quando detesto ser cego desse jeito. Ele chega cedo, conversa com o pessoal, entra na cozinha, sai depois de horas e se interna no escritório lá em cima. E eu aqui, limpando mesa e servindo as pessoas. Eu gosto de como minha vida está agora, embora essa rotina seja um pouco monótona. Acho que Kihyun faz tudo valer à pena.

À noite, ele diz que está um pouco cansado e que pode me levar em casa, se eu preferir. Como é meu desejo passar um tempo com ele, aceito. Espero que minha atmosfera de nicotina naturalizada não lhe deixe desconfortável. Na verdade, ele até esteve quieto por hoje. Tudo bem que reclamou da minha lerdeza — afinal, Kihyun sem reclamar nem é Kihyun. E hoje tudo correu normalmente, ainda que Kihyun tenha passado metade do expediente na cozinha e a outra no escritório, além de sair para cumprimentar alguns clientes.

Nada de ficar até tarde no restaurante, foi isso que pensei de hoje. Seu cabelo está mais longo do que quando lhe conheci e cobre metade do seu rosto quando inclina-se para trancar as portas. Ajeita a alça da bolsa no ombro e sai andando até seu carro. E eu estou quieto, em silêncio, pois não acho que o que eu venha falar vá mudar alguma coisa sobre o que ele me contou da última vez. E isso me deixa um pouco triste. Será que devo desistir? Queria pegar na sua mão agora.

Kihyun enfia uma parte da franja atrás da orelha e destrava o carro. Teu olhar não se encontra com o meu quando abre a porta do carona e joga sua bolsa lá. Não se encontra com o meu quando bate a porta e entra como motorista. Não se encontra com o meu quando puxa o cinto de segurança. Não se encontra com o meu quando liga o motor. Mas se encontra com o meu quando vira-se de repente e pergunta se está tudo bem.

— Tá sim — concordo com a cabeça. Talvez eu esteja só cansado, mas eu queria deitar no seu colo e escutá-lo falar qualquer coisa até cair no sono. Mas ele está calado.

— Tudo bem, então — daí ele acelera.

Eu queria perguntar a ele algumas coisas, mas ao mesmo tempo não quero. Ele liga o som, está tocando um OST triste daqueles dramas exagerados. Eu poderia ignorar, poderia ignorar de verdade essa porcaria. Mas não dá. Eu desmonto no piano, na voz, na letra... Essa porcaria deveria estar em russo, para que assim eu não entenda. Não posso, não posso compreender músicas do tipo. É um pouco cruel. Sim, é cruel.

A princípio, invade meu tédio com palavras sobre o casamento. Expõe sobre isso ser difícil, ser difícil encontrar alguém, ser difícil amar alguém, que isso não é para mim. Encosto a cabeça no vidro, vejo começar a chuviscar lá fora. Não recordo-me de encarar as gotas violentas, pois não estavam violentas antes de eu notar. Kihyun suspira alto, mas eu acho que ele não está prestando atenção na canção. Não tanto quanto eu.

Se ele saiu naquele dia ao escutar Lana Del Rey, devo deixar o carro após essa canção. Ela é triste e diz um pouco sobre quem sou, que faço, que está acontecendo. Mas isso é difícil para mim, é o que o cantor diz, então só estou assistindo TV sozinho, saindo de casa usando roupas confortáveis, comprando soju pra mim mesmo. Então eu penso: o amor é mesmo difícil assim? Parece que sim. Parece que voltarei ao mesmo de antes, antes de Kihyun aparecer.

Antes de Kihyun aparecer, era eu e minha TV. Era meu despertador das onze horas convidando-me a procurar um emprego de verdade. Era embalagem de lamen pelo apartamento. As roupas sujas, as pilhas que queriam dizer algo como socorro ou me nota. O café tosco que fazia para preencher meu interior com algo quente, mesmo sabendo que o que me aqueceria mesmo era algo que pensava nunca ter. E de repente estou aqui, dentro do carro, a chuva lá fora, o homem que amo num silêncio tão desgraçado que eu só quero perguntar se ele está vivo ou não. Sei lá, as coisas mudaram desde então, mas no fundo é a mesma coisa. Acho que me apaixonei pela coisa errada. O calor que eu quero é de dentro, então por que estou buscando fogueiras externas?

 café et cigarettes ┊ChangKiWhere stories live. Discover now