Adeus

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Depois que a Erika foi embora fiquei mais um tempo na cama, era uma segunda-feira estranha, levantei as 10:15 da manhã e fui procurar dona Carmen e ela ainda não havia chego.

Tomei banho e resolvi conhecer as praias de Santos, desisti no meio do caminho, além de não conseguir parar de pensar na Erika, no nosso beijo, em como toda aquela situação havia acontecido, eu sentia um nó na garganta, um aperto no peito, minhas mãos suavam e eu só queria chegar logo em casa. Assim que cheguei, deitei na cama em posição fetal e só sabia chorar, uma tristeza sem tamanho me invadiu o peito e eu passei a lembrar de todas as vezes que me sentia como uma presa nas garras do Jorge e do Camilo, eu vive dentro de um inferno e agora o inferno vivia dentro de mim e me assombrando.

Era pra eu me sentir livre, eu estava confusa, deitei com a barriga pra cima e reparei o quanto o teto da minha casa era velho, comecei a reparar o quanto a arquitetura era velha, dava pra ver a quantidade de tinta nas paredes.

Quantas histórias começaram e terminaram no quarto que eu morava?

Será que alguém nasceu ou morreu lá? Será que os antigos moradores se sentiam como eu me sentia?

Enquanto tentava ocupar a mente, fui ficando sonolenta até consegui pegar no sono de vez.

Sonhei que encontrava a Erika e a gente se beijada outra vez, era um lugar estranho, bonito mais estranho.

No sonho estávamos numa casa bem grande de dois andares, tipo sobrado, as escadas eram enormes, eu tinha a impressão que quanto mais subia, mas distante da chegada ficava, do nada, dona Carmen apareceu e acompanhada de uma outra moça, ela usava calça preta social, sapato social preto com detalhes em branco, cadarços também brancos, suspensório preto, uma blusa branca social, modelo três quarto, aparentando ter pouco mais que um e setenta de altura, chapéu preto com um detalhe em branco e sempre com um cigarro na mão.

Ela ficava o tempo inteiro ao lado da dona, me olhava mas eu não conseguir enxergar o rosto dela, porém podia afirmar que era muito bonita. De repente ela passou a andar atrás da Dona Carmen, não mais ao lado e dona Carmen parecia não ver ninguém, parecia não perceber a presença da moça.

Eu já estava em um outro lance de escadas, em pé, abraçada com a Erika e a gente se beijava com um pouco mais de calor, a moça desapareceu junto com dona Carmen, eu e Erika entramos dentro de uma casa grande e vazia, ela me olhava feliz como se aquela fosse a nossa casa, eu sentia uma sensação estranha, um misto de desapontamento com desconfiança. Depois de tudo isso a Erika desaparecia e eu estava sentada em um sofá, tentando pedir ajuda, ai a tal mulher de chapéu me pegou pelos ombros e me chacoalhou. Só depois eu me lembrei que a moça do sonho era a mesma que vi no dia em que cheguei em Santos.

Acordei com o celular tocando:

_ Alô

_ Dona Bruna

_ Sim, quem fala?

_ Aqui é do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Santos, o motivo da minha ligação é que nós temos dois pacientes idosos aqui e um deles, a Senhora Carmen me passou o seu telefone para contato.

A moça do hospital me informou que seu Juarez havia falecido e que dona Carmen passou mal quando soube da notícia, então eu precisava ir assinar os documentos.

Pus a primeira roupa que vi na frente, peguei o endereço, chamei um taxi e fui a Santa casa, assim que cheguei me levaram para o quarto onde dona Carmen estava, eles haviam sedado ela.

Confesso que fiquei bem assustada com a notícia, agora com o falecimento do seu Juarez a dona Carmen não podia ficar sozinha, ela já era idosa e algum parente precisava ir resolver coisas como o sepultamento e tudo mais, fiquei esperando dona Carmen acordar, quando ela me viu começou a chorar, chorou desesperadamente e eu não sabia o que fazer, a acolhi num abraço meio desajeitado e a deixei chorar tudo que pode.

Rasga MortalhaWhere stories live. Discover now