Amores Mecânicos [HIATUS]

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            O almoço na pensão foi servido no inicio da tarde. Já não eram mais os autômatos do jantar passado ou do café da manhã que serviam a comida, empregadas usando uniformes cinza e branco caminhavam entre as mesas levando carrinhos com bandejas, entregando a cada um seus respectivos pratos com cottage pie — uma torta em que uma camada de purê de batatas com queijo cobre o recheio de carne moída —, uma fatia de pão e dois ovos escoceses. O mesmo grupo da manhã sentava-se a mesa, apesar de que agora Mathieu estava presente, sentado entre Heide e Victoria. O almoço foi silencioso, nem mesmo algum comentário sobre suas apresentações foi feito ou sobre algo que ocorreu nos ensaios.

            Mathieu foi o primeiro a levantar da mesa, assim que acabou de comer. Deixou o prato sobre o carrinho em que a empregada trouxera a comida e saiu da sala de jantar. Victoria percorreu os olhos pela sala em busca de Mingwei, pois havia suposto que o amigo saíra para encontrar a menina, porém ela estava em uma mesa próxima a porta da cozinha, acompanhada de Ehrich e de um casal que Victoria reconheceu como sendo Angela e Giordano, o casal de malabaristas italianos. Mingwei não parecia tão feliz quanto quando estava conversando com Mathieu a beira do lago, ela estava mais quieta e a risada deu lugar a sorrisos tímidos que saiam quando um dos outros três que estavam com ela diziam algo.

            — Isso foi estranho – comentou Madeleine enquanto mergulhava o último pedaço de pão no molho da cottage pie, colocando-o na boca em seguida – O Mathieu está esquisito hoje – disse ao engolir.

            — Ele não costuma ser calado? – perguntou Heide, dobrando um guardanapo diversas vezes e desdobrando quando já não podia mais dobrá-lo, sem se importar em ter deixado os ovos escoceses intocados no seu prato.

            — Mathieu é a pessoa menos calada que você encontrará no La Gloire – respondeu Madeleine – Se ele está assim é porque algo está lhe incomodando e algo muito grave pois ele costuma ignorar coisas que considera pequenas.

            — Ele teve alguns problemas – falou Victoria, voltando a prestar atenção na comida ao invés de continuar olhando para Mingwei.

            — Eu não vi nenhum problema enquanto vocês dois trocavam sorrisos ao conversar pela manhã – disse Pierre, repousando o garfo sobre o seu prato vazio.

             — Deve ser porque eles se sentem confortáveis ao lado um do outro – Madeleine olhou para Pierre de maneira séria.

           — Está querendo insinuar alguma coisa, Maddie? – ele ergueu uma sobrancelha.

             — Não, de maneira alguma – ela ergueu as mãos como quem se rende – Eu nunca ousaria insinuar nada, irmãozinho. Por que insinuar quando eu poderia falar a verdade na sua cara?

            — Poderiam não discutir pelo menos uma vez? – Victoria olhou para os dois e depois para Heide – Tenho certeza que estão deixando ela desconfortável.

            A bailarina pegou o guardanapo dobrado e o apertou entre as duas mãos.

            — Não se preocupem comigo – ela abriu as mãos novamente, revelando um vazio onde deveria estar o guardanapo – Basta fingir que eu não estou aqui.

            Ela riu na direção de Pierre que balançou a cabeça negativamente, levantando-se e deixando o seu prato no carrinho, para então sair da sala de jantar.

            — Desde quando você faz truques de mágica? – a pergunta veio de Madeleine.

            — Desde o dia em que seu amigo aspirante a ilusionista foi apresentado a mim como sendo o amante de uma das minhas melhores amigas – respondeu Heide. Ela assumiu o mesmo tom frio que usara antes com Victoria ao falar sobre pensar demais e assim como antes a expressão se desfez em um sorriso – Não vou contar ao Ehrich, não é problema meu. Se eu quisesse já teria feito, mas não arriscaria conhecendo o histórico dele.