No verão seguinte (Dipper Pov)

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 Quando finalmente voltamos do nosso primeiro verão em Gravity Falls, a viagem para casa pareceu a mais longa que já fizemos. Eu estava sentado à janela distraído com o movimento da paisagem que o ônibus veloz deixava para trás. Ao meu lado, com a cabeça deitada no meu colo, minha irmã Mabel dormia profundamente, talvez tentando se sentir um pouco menos triste por termos acabado de nos despedir daquelas pessoas incríveis. Aquelas que nos acolheram e ajudaram a tornar o nosso tempo na Cabana do Mistério simplesmente o mais fantástico.

 Com os olhos perdidos no vidro, sentindo o perfume doce dos cabelos castanhos de Mabel, eu não conseguia parar de pensar em como aquele verão havia nos mudado. Claro, nós tínhamos ajudado a desenrolar um complicado nó familiar com a volta do Tivô ford e também impedido o fim do mundo, isso sem dúvida mudaria qualquer um. Mas me refiro principalmente em como o nosso modo de ver as coisas e até a nossa relação mudou.

 Quando chegamos em Gravity Falls, eu e minha irmã nos dávamos relativamente bem e tentávamos, de certo modo, nos esforçar para sermos mais independentes um do outro. Mabel se dedicava para arrumar um namorado e fazer coisas com as amigas enquanto eu ficava  obssecado pelos mistérios que surgiam. Agora, cerca de três meses depois, nós estávamos mais próximos do que nunca. Melhores amigos, você poderia dizer. Tínhamos a confiança de crescermos e enfrentarmos o mundo juntos, não importando que dificuldade nos ameaçasse. Para mim essa foi uma mudança consideravelmente especial. É estranho pensar nisso agora, mas antes dela eu estava convicto em ficar em Gravity Falls e ser aprendiz do Ford, praticamente deixando Mabel sozinha quem sabe por quanto tempo.

 Eu entendo que estava entusiasmado em seguir um sonho ambicioso, mas ainda sou muito novo. Mabel e eu temos recém 13 anos e ainda temos muita coisa para vivermos juntos.
Foi preciso um choque de realidade para ver que eu não poderia abandonar a pessoa mais importante pra mim nesse mundo. Mabel é minha irmã, minha parceira, a minha "outra metade", e eu tinha que manter as coisas assim. Essa mudança fez eu me sentir mais seguro e até mais firme para estudar e trabalhar pelos meus sonhos. Eu não deixei de querer me tornar um estudioso ou investigador de mistérios, mas fiquei mais tranquilo para me dedicar a isso, ainda mais considerando que tenho alguém que sei que vai me apoiar.

 Bem, pelo menos era o que estava pensando naquela viagem de volta. Olhando para a minha irmã sentada do meu lado novamente no banco do ônibus, quase 9 meses depois, eu sinto que as coisas mudaram de novo. Estamos voltando para Gravity Falls após um longo ano na escola e estamos bem animados, não posso negar, mas creio que algumas coisas não saíram exatamente como queríamos.

 Como comentei antes, eu e ela estávamos confiantes em irmos para o ensino médio e, em uma visão mais ampla, crescermos juntos, no entanto, tudo o que tivemos que enfrentar só nesse único ano pareceu tão ou até mais desafiador do que o Bill Cipher e seus capangas interdimensionais. Lidar com bullying, colegas de classe esnobes e mal educados, professores rígidos, isso e outras coisas com certeza exigiram muito de nós. Eu posso perceber isso quando vejo o semblante de Mabel agora. A garota que outrora fora sempre sorridente e brincalhona, tinha se tornado cabisbaixa, com os olhos perdidos e, em vezes que não conseguia esconder, deixava escapar as palavras num tom de voz mais pesado do que o habitual.

 Ver ela desse jeito me parte o coração, mas não posso fazer muita coisa. Eu também acabei ficando bastante melancólico e só o que consigo fazer é dizer que "vai ficar tudo bem". Por mais que eu queira que isso seja verdade, no fundo é o tipo de coisa que falamos no automático. Nesse ano eu praticamente não consegui fazer nenhum amigo, e mesmo já me sentindo mal com isso, também não estava dando conta das matérias novas do ensino médio. Os professores e os nossos pais começaram a me pressionar bastante quando minhas notas caíram um bom tanto na média. Fiquei numa situação que não tinha noção de como lidar, o tempo todo eu sentia uma espécie de enjoo ou mal estar na boca do estômago e, ás vezes quando tentava ficar na companhia da minha irmã, que era a única amiga que eu tinha, ela me afastava pedindo para ficar sozinha.

 Você poderia pensar que é egoísmo dela ou uma quebra da nossa promessa de parceria, mas eu sei que não posso culpá-la. Infelizmente não tenho uma ideia muito clara dos detalhes, afinal nós não conversamos mais tanto, mas eu soube que ela fez amizade com algumas garotas que traíram ela. Ou, melhor dizendo, fizeram Mabel confiar nelas para depois enganá-la e explora-la de algum jeito. A partir do dia que isso aconteceu, ela ficou mais quieta do que nunca. Era até surpreendente ver que ela não estava mais se cuidando, se maquiando ou se entusiasmando para comprar roupas novas. Pela primeira vez ela estava mais parecida comigo do que eu mesmo.

 Isso tudo foi muito complicado e me preocupa o rumo que nossa relação possa ter tomado. Eu amo muito a minha irmã e me dói pensar que poderíamos deixar de ser os amigos que sempre podem contar um com o outro. Pensando bem, acho que eu não sobreviveria longe dela. Mabel é mais do que uma pessoa com quem convivo, ela é parte de mim. Nós viemos a esse mundo juntos, vivemos e crescemos juntos e nunca cogitamos a possibilidade de não sermos mais companheiros de vida. No fundo, eu espero que esse novo verão em Gravity Falls ajude a nos mudar de novo. Espero que, da mesma forma que o último, nós possamos voltar a confiar um no outro e dizer com orgulho que nenhum mal ou obstáculo nos separará.

Algo Mais Que Irmãos - Parte 1Where stories live. Discover now