Desencontros

Lembranças

  ~ Sakura
 

  Entramos no apartamento, já um tanto escuro, e Kakashi bateu a porta com o pé, levou-me até o sofá e me sentou ali. Depositou a minha mochila ao meu lado, a sacola da farmácia na mesa e voltou até a porta para trancá-la. Antes de voltar, acendeu as luzes da sala. Sentou-se na poltrona ao lado do estofado maior, aonde eu me encontrava e me olhou de soslaio. Havia muito o que falar, mas Kakashi não precisava saber de tudo, até porque nada disso tem relação com ele.

  - Sakura? - perguntou ele, após permanecermos uns minutos nos encarando, em silêncio.

  - Pois bem. Você perguntou se eu estava bem e eu estou... - fiz uma pequena pausa para analisar se eu, realmente, precisaria falar algo. Recebi a resposta pelo seu olhar, mas como mantive-me quieta por mais um tempo, ele me incentivou a continuar.

  - Ainda assim, algo te incomoda. Tem relação com o acidente?

  - Não. Isso é outro assunto - na verdade, se eu for pensar bem, pode até ter alguma ligação, mas acho difícil - é mais em relação ao passado mesmo. Você conheceu Sasuke Uchiha, certo?

  - Hm - ele bufou. Mesmo eu não entendendo sua alteração repentina de humor, prossegui.

  - Nós namoramos por um tempo e nosso termino não foi muito bem resolvido. Não na época, pelo menos. Porque, depois de um tempo, ele resolveu dar uma volta pelo país e nunca mais voltar. A questão é que eu aprendi a não sentir mais falta dele, porém, nunca conversamos seriamente. Tsunade me ligou mais cedo dizendo que ele voltou e conversamos sobre isso no hospital.

  - Mas não tem o que se conversar. Você não sente mais nada por ele e quem sumiu foi o próprio - eu podia sentir sua tensão a quilómetros de distância e aquilo me fez sentir um certo alívio. Só não sei bem o porquê - ou sente? - sua voz saiu falhada e aquilo me abalou.

  Eu não sei. Sinto? Não possuía resposta para essa pergunta, mas por algum motivo, meu cérebro só projetava a palavra não, como se eu não conseguisse falar outra coisa ao prateado.

  - Não. Não sinto... - sei que não fui convincente, mas por que eu deveria? Por que não posso, simplesmente, dizer sim, sinto?

  Ele não me respondeu de imediato. Talvez pelo fato de estar se decidindo se apenas matava o assunto ou se demonstrava que aquilo era uma mentira. Será que era isso que ele queria ouvir?

  - Sendo assim - pronunciou-se - assunto encerrado - levantou-se e foi até a janela, abrindo-a, silenciosamente.

  Talvez ele não só saiba que menti, como tem ciência de que não estou falando tudo... e devo? Não compreendo essa necessidade repentina de ser sincera e honesta com meu antigo professor, de nada adiantará ele saber de algo ou não. Isso se ele já não souber de alguma coisa...

  - Itachi falou com você? - indaguei, fazendo-o congelar no momento em que pegava a sacolinha da farmácia da mesa de centro - eu o vi saindo da farmácia.

  - Nem reparei nele. - mentira.

  - Se eu soubesse que iríamos esconder fatos, não falaria metade do que expus, aqui - por algum motivo, seu semblante havia mudado. Estava mais sério e endurecido, desde que levantou-se.

  - Foi uma opção sua. - caminhou em direção a área de serviços. Idiota. O que o fez pensar que pode me tratar grosseiramente? Comecei a ouvir o barulho das rações colocadas nos potes. Nem um piu se ouvia naquele apartamento, além dos cachorros comendo. Até que passos se aproximaram e Kakashi voltou a sentar-se na poltrona, mais calmo - desculpe. Não tive a intenção de falar com você assim. Você ainda sente algo pelo Sasuke, não é? - medo? Decepção? Súplica? Não entendi o que ele sentia e expressava no momento, mas sua voz saiu baixa e fraca.