the truth

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Não posso negar que desde o episódio do vestiário me senti estranho em relação a vontades de meu corpo.

Comecei a ter sonhos frequentes com o infeliz do Sunwoo, e nesse sempre há a tensão sexual e no final sempre acabamos... Enfim.

Isso me rende vários banhos gelados de manhã.

Incrivelmente após aquilo o bendito não veio mais me provocar. Pelo contrário, parece até me evitar, sempre me olha bravo, porém não chega nem perto.

É estranho pensar nisso pois ele também passou a ser mais fechado, as vezes aparecia com alguns roxos em seus braços e pernas, mas não é como se eu pudesse me meter em sua vida e sair perguntando por tudo. É apenas estranho o ver tão abalado assim.

Talvez eu tenha adquirido uma preocupação com ele, seu rosto desanimado em todos os segundos de aula fazem meu coração pesar, de certa forma.

Mas talvez seja apenas uma coincidência.

Não é como se eu estivesse começando a sentir algo por ele, pshh, óbvio que não...

Ok talvez, mas não dou certeza, pode ser algo passageiro.

Ou não.

A lembrança de como seu corpo me parecia tão confortável junto do meu naquele momento não saía da minha cabeça. Era até irritante as vezes.

Mas resolvi afastar isso dos meus pensamentos e me concentrar na situação do agora.

Mais uma festa de final de mês e quase fim das aulas, essa promete..

Novamente, meu fiel escudeiro Changminnie está se arrumando comigo para irmos juntos até essa tal festa. Me disseram que ela será uma daquelas grandes que vem gente até que não é da escola.

Como não demoramos muito, porém já estávamos extremamente atrasados, chegamos ao casarão lotado que já continham pessoas mortas de bêbadas no quintal e ainda nem eram meia noite.

Entramos e nos misturamos em meio aos jovens embebedados, não perdendo a chance de poder encher a cara durante a noite.
—X—

Por incrível que pareça, pedi apenas drinks leves até então. Apenas me sentia alto, mas não bêbado.

Era engraçado ver a todos em seus estados eufóricos pela bebida, mas me cansei de estar ali sentado naquele sofá enorme e me dirigi até a área da piscina.

Ali estava quieto e calmo, acho que essa área não era aberta para as pessoas da festa, mas que se dane.

Sentei a beira da piscina, não me importando em molhar as beiras da minha calça com a água dali. Apenas fechei os olhos e aproveitei o momento.

Me veio em mente o garoto da festa de halloween. Quem me dera ter aquele garoto aqui comigo agora, ele me parecia ser alguém tão carinhoso e cuidadoso, com certeza estaríamos dando beijinhos nas cadeiras de descanso daqui.

Ok, se acalme, é apenas o efeito da bebida.

Senti certo movimento ao meu lado e o som de algo sendo tocado pela água se fez presente, olhei para o lado e vi algo que não saberia dizer se seria um delírio da bebida ou a realidade.

Kim Sunwoo estava sentado ao meu lado com um copo de bebida na mão enquanto aparentemente fungava.

— Oi. — Disse simples.

Ele parecia muito mais abatido do que nos outros dias, agora havia um corte em sua boca que pude observar melhor quando olhou para me cumprimentar.

— Oi...? Aconteceu algo?

— E você se importa?

Ok, essa doeu.

— Olha, não é porque nós somos uma espécie de rivais na escola que eu deixaria de me preocupar quando você se senta ao meu lado todo machucado e com uma cara de dor. — Suspirei.

— É só que... É complicado pra mim.

Cada lufada de ar que saía de sua boca parecia sair com um pesar. Este era um Sunwoo que eu nunca vi antes.

— Quer me contar o que aconteceu? Por mais improvável que seja logo eu quem está perguntando?

— Não me importo em lhe dizer, na realidade, acho que você é a pessoa mais certa para perguntar isso do que qualquer pessoa.

— Então sinta-se livre para contar..

— Meus pais são extremamente preconceituosos. Desde pequeno venho ouvindo comentários maldosos a respeito disso, sendo com comentários desnecessários sobre familiares ou até olhares feios para pessoas na rua. E isso apenas piorou quando me pegaram beijando meu melhor amigo na casinha dos fundos do quintal da minha antiga casa. Agora aqueles malditos comentários se viraram para mim. — Vi uma lágrima correr por seu rosto maltratado, mas logo foi limpada pelo loiro. — Nunca mais pude ver Kevin, meu primeiro amor e melhor amigo, e fui transferido para outra escola. Sofri por muito tempo mesmo dentro de casa, com pessoas que deveriam me amar, e por isso mudei. Criei uma máscara para eu mesmo, consegui o respeito deles novamente, mas fui pego pela segunda vez e dessa vez eles não tiveram perdão. — Mostrou seus braços com vários hematomas. — Isso tudo são as demonstrações de disciplina do meu pai, que diz que eu deveria ser homem e não uma bichinha. Eu só... não aguento mais isso

Ao final de seu discurso já se banhava em lágrimas, se embolando para desenrolar as últimas palavras.

— Você foi a primeira pessoa pra quem disse isso, não me pergunte o porquê, apenas acho que você poderia me ouvir e me compreender de alguma forma. — Sorriu sem graça em meio às lágrimas.

Suas palavras pareciam como um peso jogado para fora. Parecia que o loiro estava sufocado e agora poderia respirar livremente, a pressão de todos as coisas ruins vividas diariamente eram as mãos que lhe prensavam o pescoço e parecia que agora elas ficavam cada vez mais frouxas a cada sílaba dita por ele.

Me aproximei do loiro e o abracei fortemente. Não tinha passado por sua dor, mas a entendo e a respeito. Ninguém deveria passar por algo assim, mesmo alguém que acabou sendo idiota, como ele.

— Está tudo bem, já passou. Eles não podem te machucar aqui. — Seu choro poderia ser confundido com o de uma criancinha, mas era algo doloroso, sofrido, algo que carregava um pesar e cansaço de anos. — O que seu pai te pegou fazendo dessa vez? Se não for incômodo perguntar...

Ouvi o outro rir, ou tentar rir, em meio ao choro.

— Eu estava batendo uma pra você.

Arregalei meus olhos de um jeito que nem eu pensei que poderia fazer antes.

— V-Você o que?

— Relaxa, tô brincando. — riu baixinho. Isso é hora de brincar? — Mas é meio que verdade... Mas fora isso ele leu o meu diário. Isso mesmo, até badboys tem diários.

Pude rir um pouco com ele com suas piadas fora de hora, mas não deixei de ficar surpreso.

— É uma péssima hora para isso, Chanhee, mas eu sinto que se eu não fizer isso agora, eu nunca vou ter coragem novamente. — Saiu do abraço e respirou fundo antes de continuar. — Eu gosto de você. Sim, eu sei, é ridículo levando em consideração o tanto de vezes que eu te provoquei sem necessidade, mas eu quero que você saiba que eu estou imensamente arrependido e-

O calei com um selinho, o ouvindo reclamar de dor no local onde havia o corte nos lábios, ri e me desculpei logo após.

— Não precisa dizer mais nada, eu também gosto de você, Sunwoo.

Vi um sorriso iluminar seu rosto e foi natural naquele momento os nossos rostos irem se aproximando, assim como também foi natural o toque deles, o ósculo que veio logo em seguida, e até alguns gemidos de dor do loiro.

Naquele momento, naquele momento, naquele local e sendo recebido por aqueles lábios eu percebi:

Kim Sunwoo era o garoto da festa de halloween e eu estava perdidamente apaixonado por ele.

Halloween Night; sunnewWhere stories live. Discover now