Um breve momento de paz.

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Eu podia dizer muitas coisas a respeito de Hórus, mas não dava para negar a beleza de seu castelo. Eu já havia estado aqui, na festa dos iniciados, porém, com Apófis em meu encalço, não consegui dar a devida atenção aos detalhes que fazia de Heliópolis um lugar incrível.

Tudo era feito de ouro e mármore branco, haviam pinturas antigas nas paredes, que contavam histórias mais antigas do que eu podia imaginar e eram nelas que eu tentava manter minha atenção para deixar de ficar tão nervosa. 

Meus ouvidos zumbiam e eu ainda estava um pouco zonza pelo ocorrido de mais cedo. Estava sozinha em um dos quartos, enquanto os outros se dividiam entre cuidar do meu pai e controlar a situação. 

Minha volta dos mortos havia mudado muita coisa e muitos planos, o que, por incrível que pareça, me deixava momentaneamente em escanteio. Não que eu estava reclamando, afinal uma hora ou outra eu tinha certeza que ouviria um belo sermão. 

Bati meus dedos livremente na cabeceira da cama quando ouvi o barulho da porta. 

— Natália? - Perguntou Hórus. 

Eu levantei a cabeça.

— O que foi?

— Sua mãe, Erick e Rakel chegaram. - Eu sorri para o deus da guerra, indo até ele. - Achamos melhor preparar sua mãe para evitar um mau estar mas… - Hórus me lançou um olhar travesso. - Erick está na sala de estar.

Eu ri, ansiosa, encaminhando-me para a sala. Hórus me seguiu, visivelmente interessado em ver meu amigo tendo um treco. Adentrei a sala de estar e por milisegundos me senti culpada. 

Erick parecia mais magro, mais frágil. Estava com uma camiseta branca surrada e não parecia estar dormindo muito bem. Quando ele ouviu passos não se virou, apenas deu um forte suspiro. 

— Por que me chamou aqui, Hórus? Onde está Anúbis? 

Eu sorri carinhosamente, endireitando meu corpo e pigarreando. 

— Bem, não foi o Hórus que te chamou. 

Erick se virou rápido, perdendo a cor do rosto.

— Ah, aí… - O garoto colocou a mão no peito dramaticamente. Talvez não fosse sua intenção, mas para mim pareceu engraçado. 

— Eu venho em paz, ok? Apenas leve-me a seu mestre. - Falei divertida. Erick arfou e seus olhos se inundaram de lágrimas. 

— Por Rá… isso é verdade? - Perguntou ele.

Eu sorri, pulando em seus braços. 

— Isso é verdade pra você? - Perguntei. Erick riu entre soluços. 

— Sua… louca! - Ele bateu a mão em minha cabeça, apertando-a forte.

— Ei, isso dói - Gemi. - Por favor, não me bata! 

— Por que está viva?! Como está viva?!

— Não está feliz?! 

— Pelos deuses, Natália. Eu estou revivendo nesse exato momento! - Ele me largou, olhando profundamente em meus olhos. - Você está aqui. Eu quero te matar, por alguma razão, mas… você está aqui! Esqueça, não importa como, não importa. Só não me deixe novamente! 

— Já me desculpei tantas vezes essa noite que chega a ser chato ter que fazer isso de novo. - Reclamei. - Um abraço? Pode ser? Eu só quero um abraço. 

Ele soltou uma risada, agarrando-me novamente. 

Mais uma vez me senti estranhamente feliz e segura naquela noite. Erick tinha um cheiro doce apimentado de alcaçuz que me lembrava casa e família, então, quase como uma resposta ele suspirou contra minha pele, dizendo silenciosamente que sentia o mesmo. 

Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora