XXIII

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E cruzam-se as linhas no fino tear do destino. – G. Almeida.

El Qars, maio de 2012

    — Antonia, Antonia... – o sotaque italiano era estridente. – Acorde, falena.

   Antonia recobrou a consciência de repente, estava nos braços de Peasso. Do lado esquerdo o paredão de blocos continuava ali, encarando a mulher que tentara escalar sua grandeza. Estava com a cabeça deitada no colo do ex-namorado, que apresentava olhos extremamente preocupados. Fazia muito tempo que não tinham um contato tão próximos.

    — O que aconteceu? –levantou abruptamente, sua cabeça girou com o movimento.

   — Eu não sei, vi Ghandour saindo mal daqui. Decidi ver como estava e você estava inconsciente no chão. – explicou.

   Antonia pôs a mão na cabeça, procurando uma lesão que indicasse que havia caído e não encontrou nada. Ela se lembrava de está lá em cima, mas não havia nada em sua mente que demonstrasse como ela tinha saído. Procurou no cinto a amostra que recordava ter recolhido no buraco, o recipientes estava em perfeito estado. De supetão as imagens da visão inundaram a mente da arqueóloga, figuras tão claras quanto o café da manhã.

   “Não é possível que aquilo tenha sido real. ” – pensou. –“  Estou enlouquecendo. ”

   As palavras da mulher desconhecida continuavam a ecoar em sua mente.

    “Você deve impedir que a grande serpente chegue ao amuleto.

    O que aquilo significava? Estava tão integrada a própria pesquisa que começava a alucinar? Seu subconsciente estava tentando lhe pregar peças?

    Eram muitas questões, e ela tentou responder a todas elas de forma racional, ainda que sua alma ficasse contra essa solução.

   — Está tudo bem, mesmo? Você não caiu? – Peasso questionou.

   Ele sentia seu coração acelerar. O cheiro da colônia se Antonia ainda estava presente no seu olfato, assim como a textura do cabelo crespo da mulher ainda preenchia a ponta dos seus dedos.

   — Sim, eu acho que devo ter desmaiado por uma desidratação. – respondeu, limpando a areia da roupa.

   Os dois trocaram um olhar duradouro, Peasso estava legitimamente preocupado.

   — Olá! – Laura Payton chega, acompanhada de David Ghandour.

   — Está melhor, senhor Ghandour? – Antonia pergunta, rompendo a ligação com o outro o homem.

   — Estou sim, era só uma irritação na garganta. Vejo que conseguiu descer em segurança da sua pequena aventura. – o empresário parecia bem melhor.

    — Sim, consegui inclusive pegar uma amostra. – falou, eliminando qualquer possibilidade de interrupção por parte do italiano.

   — Que ótimo! Vamos levá-la para o laboratório, quem sabe o que a senhorita Payton poderá descobrir mais tarde. – o homem disse com entusiasmo gritante.

    A historiadora brasileira e o investidor seguiram caminho até às grandes instalações, ficavam a um pouco mais de duzentos metros das escavações. O lugar era um complexo paramentado com alta tecnologia de análise, não pareciam simples tendas de investigação preliminar, mas um espaço de estudo complexo e profundo.

   — Ainda gosta dela, não é? – Laura indagou ao italiano, que respondeu apenas com um suspiro.

    Os dois começaram a caminhar para a própria zona de trabalho, Laura não conseguiu conter uma onda de ciúmes. Sabia que aquilo era inadequado, principalmente com o trabalho que tinha que cumprir.

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