capítulo vinte e dois.

4.6K 352 66
                                    

   STORMI

   Não sei dizer há quanto tempo Scott e eu estamos correndo. O som diminuiu, mas eles não foram embora, posso ouvir os ruídos de suas vozes e um ou dois batimentos cardíacos a poucos quilômetros de onde paramos. Levantar e voltar até a moto para ir embora parecia a melhor ideia, mas não passaríamos desapercebidos. Entrar na floresta também nos pareceu uma ideia estúpida, no entanto, era nossa melhor opção.

Sinto meu corpo suado e meu coração dando marteladas dentro de mim. Encaro Scott, que está ofegante. Ele faz um sinal dizendo para não me mover e dá um passo a frente da árvore em que estamos escondidos. Eles estão perto, posso sentir. Não entendo como podem ter nos encontrado depois de corrermos tanto.

De repente sons de motores de motos começam a preencher todo o lugar a nossa volta. Tento chamar a atenção de Scott, que insiste em observar algo invisível na escuridão, mas ele não ouve. Me encolho atrás dele, com medo e desespero tomando conta de mim. Os motores são desligados. Os passos se tornam mais próximos. Scott não se move e eu não posso simplesmente deixá-lo aqui.

E então os passos param. Um grito de terror rompe o ar fazendo eco por todos os cantos. Me aproximo de Scott, finalmente enxergando o que ele tanto olhava. Uma mulher está pendurada de cabeça para baixo, erguida por concorrentes presas em seus pés. Ela rosna alto.

— Scott, o que… — minha voz sai trêmula.

— Eu estava tentando ouvi-la. Mas se escondeu, não conseguiu me reconhecer. — Scott sussurra.

— O que eles estão fazendo? Temos que ajudá-la! — dou um passo para entrar na frente de Scott, mas ele me puxa e nos esconde atrás da árvore novamente, de modo que podemos enxergar minimamente a mulher pendurada.

— Não podemos ajudá-la. — ele responde, como se tivesse acabado de concluir isso.

— O que está dizendo? Eles vão matar ela! — protesto.

A mulher grita outra vez com um ruído cortante acompanhando sua voz.

— Eles estão…

— Cortando ela… — percebo, horrorizada. — Mas vai curar, o que isso…

— Não se as lâminas estiverem banhadas em acônito.

Scott tem os olhos vidrados na cena. Ao contrário de mim, ele não parece horrorizado, é como se já tivesse visto isso antes.

— Você já…

— Sim — Scott responde antes que eu termine a pergunta. — Por favor, não olhe agora.

Quando estou prestes a me virar para saber o por que, Scott me puxa para trás da árvore por completo e pressiona meu rosto contra seu peito enquanto tampa meus ouvidos. Ele se afasta alguns segundos depois.

— Por que fez isso? — sussurro, me virando rapidamente para onde a mulher está. Mas ela não está mais lá. Ou melhor, apenas metade de seu corpo está lá.

Sufoco um ruído de horror na garganta e Scott me abraça.

— Por isso não podíamos salvá-la.

Não consigo dizer nada. Minha mente mergulha nos gritos da mulher e metade de seu corpo jorrando sangue pelo chão e milhares de suposições horríveis surgem na minha cabeça. E se fosse um de nós lá? E se eu tivesse que ouvir e ver Scott gritando por misericórdia sem poder impedir? E se eu estivesse lá e eles acabassem com toda a minha em um simples corte?

— Eles já foram — Scott avisa.

Sem perceber estou inclinada sobre o chão, vomitando - provavelemnte - tudo que comi hoje. Scott suspira atrás de mim e move meus cabelos para trás.

— Me desculpe — lamento, envergonhada quando termino.

— Está tudo bem. Vamos para casa. — Scott me oferece um sorriso, sei que ele está tentando fazer eu me sentir melhor, mas nós dois sabemos que não está tudo bem.

Depois de voltar com muito cuidado para onde deixamos a moto de Scott, finalmente estou em casa. Scott está no meu quarto depois de ouvir regras bem constrangedoras de minha mãe. Gostaria de poder me preocupar com isso agora ou até mesmo me desculpar com Scott pela vergonha que minha mãe nos fez passar, mas nada fica por muito tempo na minha mente além dos gritos daquela mulher.

— Achei que os caçadores de Beacon Hills eram seus amigos — comento com Scott que está deitado ao meu lado na cama. Estamos olhando para o teto em silêncio há meia hora.

— Não aqueles. Na verdade, apenas um caçador é meu amigo. Família, quero dizer.

— Como um caçador virou parte da sua família? — questiono, confusa.

— Bom, ele me caçou antes de ser meu amigo. Ele é o pai da Allison. Praticamente toda a família dela foi ou são caçadores e eles têm um tipo de código para matar monstros. Allison fez o pai enxergar o quanto aquele código era sujo, e depois aconteceram algumas coisas para ele perceber que estava do lado errado.

— Que código era esse?

Scott suspira.

— Nós caçamos aqueles nos caçam, ou algo assim.

— Mas nós não os caçamos. Por que eles viriam atrás de nós? Por que vieram atrás daquela mulher?

Scott se senta na cama.

— Eles não estão nem aí se matamos inocentes ou não, Stormi. Para eles somos monstros, ameaças, e monstros devem ser mortos.  — explica. — E aquela mulher… Não sei sobre ela, provavelmente era um ômega, um lobo solitário, e é com esses que eles não têm misericórdia nenhuma.

— Ela não tinha uma matilha? — ele nega. — Mas e o alfa que mordeu ela?

— Alguns lobisomens não gostam de viver em bandos. Como Theo. Outros preferem viver por conta própria e acabam se tornando ômegas. Eu quase me tornei um até perceber que tinha minha própria matilha, mesmo que ela fosse formado só por humanos.

Fico quieta por um tempo, absorvendo as informações. Ainda me sinto apavorada, mas não quero demonstrar isso. Não quero fazer Scott pensar que é culpa dele, porque não é. Ele salvou minha vida naquela noite e eu aprendi a ser grata por isso, mesmo que o que veio depois tenha sido estranho e um pouco assustador. Sei que se tivesse outra opção além de me morder, ele teria usado.

— Scott — ele levanta o olhar em minha direção. — Não sei o que está pensando, mas eu estou bem… E nada disso é sua culpa, ok?

Scott abaixa o olhar e começa a brincar com os próprios dedos.

— Isso não torna as coisas mais fáceis. Eu nunca quis te colocar em perigo, nem pensei nisso quando te mordi porque só estava pensando em te salvar. Quero dizer… sou assim. Tenho sido assim por muito tempo e às vezes acabo não pensando no que vem depois. — Scott responde. — Não pensei em caçadores e monstros vindo atrás de você. Não pensei no fato de que você é só uma adolescente e não tem obrigação de ficar fugindo dessas coisas.

— Scott, por favor.

— Eu sei que você não acha que a culpa é minha, Stormi. Fico aliviado de ter seu perdão e sua compreensão, mas não me perdoei ainda.

Seus olhos estão marejados quando ele me encara. Consigo enxergar a culpa, o medo e vulnerabilidade através deles. E não posso fazer nada além de puxá-lo para um abraço. Scott enfia sua cabeça delicadamente na curva do meu pescoço. Sinto sua respiração pesada e cansada em minha pele e solto um suspiro. Porque estamos os dois cansados.

Notas: obrigada por votarem!!! em breve mais capítulos ♥️♥️♥️

𝐁𝐄𝐓𝐀 | teen wolf Onde histórias criam vida. Descubra agora