Cap. 24

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       ⚜ Dois dias após o atentado sofrido por Estela e seu amigo Lombardo, tudo virou de pernas pro ar, estamos todos assustados, Renato já faz mais de horas que não dorme, parece que todos envelhecemos uma década, uma tragédia de repercussão int...

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       ⚜ Dois dias após o atentado sofrido por Estela e seu amigo Lombardo, tudo virou de pernas pro ar, estamos todos assustados, Renato já faz mais de horas que não dorme, parece que todos envelhecemos uma década, uma tragédia de repercussão internacional, autoridades espanholas caíram em peso sobre o consulado, a polícia,  investigadores, às vezes penso que isso não  tem somente o dedo de Wesley, como viemos cogitando desde o início, na realidade  também  não  entendemos até agora porque de repente Laura quis vir até nós, ao mesmo tempo em que luto para acreditar na garota, eu me pego confuso, uma  habilidade que  desenvolvi  por estar tão próximo a Estela e Renato,  estar em alerta e questionar sempre.

        Laura veio desesperada até  mim, só não  contava  que  Henrique estivesse aqui na casa me aguardando,  meu  amigo sempre  foi louco por ela, e ela também batia asas para o lado dele, uma época  inclusive achei  até  que  estavam namorando.


        Mas subitamente Laura mudou, passou a estar mais quieta, introspectiva, observadora, ela que sempre ia  bem  nos estudos de  uma  hora  para  outra   começou  abandonar  a  escola, e isso preocupou muito Henrique, que dizia que ela estava sendo vista  direto  com  uma  galera estranha, lembro  que ela nos dizia que um dia ia ser estilista, fazer roupas, dessas roupas que famosos usam, de grife, era  alegre simpática, resumindo  uma garota normal.

         Mas de uns três anos para cá Laura se afastou de todos, eu com minha luta diária, não consegui dar atenção  aos acontecimentos próximos  a mim, claro eu não  conseguia nem dar conta de minha própria vida, e de minha mãe.  Não sou  um santo, só não vejo motivos para sair dando socos  pelo mundo, uma vez que nada vai mudar,  tenho  uma  revolta  grande  dentro de mim. Pois  na  idade  em  que  eu  deveria  ser cuidado pelos  meus  progenitores, aconteceu  exatamente o contrário, era  eu  quem  tinha desde cedo que pensar e agir,  desde os meus sete ou  oito  anos, já   ia  nas  feiras,   nos mercados, fazer   serviços  de  ajudante  porque  minha  mãe havia  desistido  de  lutar,  viver  talvez?!

        Não  sei exatamente  em que momento  ela se entregou de vez as  drogas, acredito que  foi  no dia  em  que  meu  pai  se  afastou de nós, me  lembro  muito bem desse dia, foi  numa  tarde, estávamos  todos em casa, e  os  dois  já  estavam a um certo tempo bebendo e se atacando  verbalmente, um apontando erros e diferenças do outro. Num dado instante tudo se silenciou, ela de um lado no sofá, ele na porta da nossa casa, é  de  alvenaria, mas não  passa  de  um  barraco ajeitado, me lembro que ela fazia de tudo para ele  se sentir bem lá  dentro, mas a impressão que eu tinha  dele  é  que era bastante agitado nunca estava  em paz, se  é  que uma mente tão perturbada  e viciada possa  ter  paz, mas era essa a impressão que  eu  tinha dele,  e  minha  mãe  por  sua  vez apaixonada por ele como sempre foi, obcecada melhor dizer, percebia e tentava de todas as maneiras agrada-lo. Me lembro também  que chovia aquela tarde, ele como disse  estava  na porta de casa olhando a movimentação na rua e  calado, então  ele veio até mim que estava na meu sofá cama que ficava na sala,  pois só tinhamos um quarto na casa, ele passou a mão  em minha cabeça e eu pela primeira vez olhei dentro de seus olhos e vi todo o inferno que  era sua vida, um  homem  sem paz, sem direção, perdido, tocou meu rosto e disse um sinto muito quase mudo, minha mãe  então o abraçou por trás e foi se deixando cair ao chão, ele se virou e sem pegar nada, simplesmente nada, deixando  até sua carteira, saiu e nunca mais voltou. Daquele dia em diante acho que, por não  ter  recursos minha mãe o procurou, sim, o procurou dentro de todas as garrafas de bebidas que conseguia consumir, um belo dia cheguei em casa e comecei a dar falta das coisas, não  foi de uma vez, não  foi de repente,  foi aos poucos, tanto que eu não  me dei conta do que acontecia, era criança, uma criança  marcada,  diferente das outras, mas uma criança, então um dia eu não  tinha mais nem meu sofá  cama, tudo bem, eu não  tinha mais o meu pai, e minha mãe não trabalhava então  devia ser normal ela se desfazer das coisas para nos sustentar, mas eu sentia cada vez mais fome, estava crescendo e não  tinha o que vestir, entre outras necessidades básicas  que  é  até  humilhante demais  relembrar.

Armadilhas do Destino. (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora