Foi durante o intervalo de aula que Glace procurou Juliana,que estava sentada sob uma árvore,quieta. De vez em quando,passeava o olhar pelo jardim, absorta em seus próprios pensamentos. Decidida,Glace aproximou-se e sentou-se a seu lado no banco. Juliana não disse nada. Glace dirigiu-se a ela: - Com vai Juliana? - Bem. - Desde aquele dia no hospital não nos encontramos mais. - Tenho estado aqui todos os dias. - Não notei. Sabe,ando muito preocupada com mamãe. Ela não anda nada bem. Juliana não respondeu. Lançando furtivo olhar para ela, Glace prosseguiu: - O médico foi ontem lá em casa, mas ela não reage. Não sabe o que fazer. - Vá amanhã à casa de Juliana às quatro da tarde. Ela estará no quarto. Peça para a mãe dela chamá-la. Convide-a para ir a sua casa. Irei com ela. Juliana falara rapidamente. Antes que Glace pudesse responder,ela suspirou e perguntou: - Desculpe,o que foi disse? - Eu? Nada. Falava de mamãe. - Ah! ... Com licença- disse Juliana. Saiu pensativa. Era estranho! Juliana falara como se fosse outra pessoa. À noite,desabafou com Claudio. - Tem certeza que Juliana está bem? - Por quê? - Ela agiu como se fosse outra pessoa! - Dora! Era Dora! O que foi ela disse? Glace deu o recado ,finalizando: - Você acha que eu sou louca de ir à casa dela e dizer que a estou esperando? E se ela recusar? Claudio abanou a cabeça. - Nem pensar! Você vai e tudo vai dar certo.Se ela mandou,será fácil.Verá. - Não vou,não. Tenho medo. E se ela fizer alguma coisa inesperada? - Não fará. Dora é muito calma e, quando aparece,dá certo. Verá. - Não vou correr o risco. - Vai .sim. Olhe, eu vou com você. Procuro o Clóvis mesmo sabendo que aos sábados ele não está. - Isso não vai dar certo. - Vai sim. Garanto que vai. Na tarde do dia seguinte,pouco antes das quatro horas,eles dirigiram-se à casa de Juliana.Claudio perguntou por Clóvis,que não estava em casa. - Dona Norma.a Glace veio buscar Juliana.Ela combinou ir até em casa ver um trabalho da escola. - Juliana? - estranhou Norma. - É - apressou-se a dizer Glace. - Combinamos ontem no colégio. Fiquei de vir ás quatro. - Vou chamá-la - respondeu Norma satisfeita. " Teria Juliana finalmente arranjado uma amiga? " Bateu na porta e , para sua surpresa,a filha já estava pronta. Juntos ,os três saíram em silêncio. Claudio estava eufórico. Como Juliana caminhava calada, ele não arriscava perguntar nada. Ao chegarem,Glace perguntou: - Mamãe sabia que Juliana vinha? - Eu não disse nada.
Entraram. Amaury lia um jornal na sala. Vendo-os ,levantou-se. - Juliana! - Fomos buscá-la,papai ver mamãe. - Não vim ver apenas Rosa. Preciso conversar com vocês também. - Claro. Perfeitamente . Há muito esperava que viesse. O doutor Morelli tinha receio de chamar Juliana.Sabe como é ... o doutor Dagoberto poderia não gostar. Mas foi bom ter vindo. Precisamos da sua ajuda. Glace olhava assustada,sentindo arrepios pelo corpo. O rosto de Juliana modificara-se. Parecia mais velha e mais segura. Ao mesmo tempo,sua expressão era de paz e sua voz era firme ao dizer: - Sentem-se.Vamos conversar. - O problema é a Rosa. Estamos nos esforçando,mas ela não melhora. Não sabemos mais o que fazer - desabafou Amaury. - O problema não é fácil - disse Juliana. - Acontece que vocês não estão cooperando para solucioná-lo.
- Isso não é verdade - arriscou Glace,levemente irritada. - Todos temos feito o possível! Mais ,não podemos aguentar. Eu até já nem tento mais. Mais o papai continua se esforçando. Faz tudo para agradá-la! Chega a ser servil! O que mais podemos fazer? Ela não reage! - Claro. Vocês não acreditam que ela possa fazê-lo! Tratam-na como uma criança caprichosa e incapacitada. Foi a vez de Claudio protestar: - Não pode dizer isso. Sempre a respeitamos e fizemos tudo para agradá-la. Não temos culpa se ela prefere continuar depressiva! - Com tantas facilidades e tanto estímulos,por que ela sairia do cômodo papel de vítima? Com isso,não tem conseguido o apoio e a atenção de toda a família? Foi a vez de Amaury: - Ela é um vítima! Sempre foi excelente esposa e mãe. Eu fui o culpado. Erei e provoquei esse estado de coisas. Por isso tenho me esforçado. Preciso resgatar minha culpa. Tudo quanto eu fizer por ela será pouco. - Punir-se satisfaz seu orgulho,não é mesmo? Atenua a imagem de homem venal, leviano, fraco que você quer substituir pela de herói,do homem redimido dos seus pecados. Não é isso? Não é por isso que se esforça para agradá-la,obedecendo aos seus caprichos? Cada desprezo dela,cada atitude de vítima,cada gesto sofrido,ao mesmo tempo que o aborrece de um lado, de outro lhe causa prazer. Você está sendo punido pelo seu erro. Está se purificando. No fundo ,no fundo,não deseja que ela se recupere.
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Pelas portas do coração
SpiritualEnquanto a cabeça racionaliza,o espírito sente. A razão segue as conveniências do mundo. O espírito busca a essência daquilo que é. Quando a sensibilidade se abre,energias tumultuadas e emoções novas surgem trazendo insegurança,e é preciso estudar a...