Prólogo

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Vinte seis anos atrás...

- Nasceu! A minha filha nasceu cara, sou pai porra! -Meu melhor amigo Walter grita para todo o hospital ouvir.

- Parabéns cara, estou muito feliz por você e pela Tay! -Falo sorrindo. - Pai! Quem diria em Wal?

- Sim, e pai de menina! Tem noção disso? Eu vou preso meu amigo. -Ele diz, mas não para de sorrir um só minuto.

Passamos mais algum tempo conversando e só então uma enfermeira veio nos dizer que a Tay já estava no quarto. Walter faz questão que eu entre para ver sua menina que acabou de nascer e não sou capaz de recusar, então juntos entramos e vejo minha amiga com a aparência cansada, mas com um sorriso enorme no rosto.

- Venha Roger, venha conhecer a nossa menina. -Ela diz e posso sentir o tom orgulhoso em sua voz.

Me aproximo lentamente e inclino meu corpo para poder ver o rostinho vermelho e enrugado de sua menininha.

- Ela é linda, Tay. Parabéns meu anjo! -Falo e beijo sua testa.

- Linda ela não é, então não minta! -Ela diz rindo e eu olho horrorizado para ela. - Ela ainda está inchada e com cara de joelho, mas sei que será uma menina linda. Pega ela um pouquinho.

- O que? Não! O pai é quem tem que pegar no colo primeiro. -Tento recusar, mas quando dou por mim já tenho o pequeno pacote em meu colo. 

- O padrinho é como um segundo pai, sempre estará lá para quando ela precisar. Nós queremos que você seja o padrinho dela, Roger. Nós sabemos que você amará a nossa menina, que irá protege-la com a sua vida. -Walter diz emocionado.

- Mas Tay... Seu irmão...

- Não! Eu quero que seja você, ninguém cuidaria e amaria a minha filha mais que você. Eu sei que se acontecer alguma coisa com a gente, você vai cuidar dela. Agora escolha um nome para a sua afilhada. -Tay diz séria.

- Eu? Não Tay, isso é muita responsabilidade.

- Então escolha um lindo nome para ela. -Meu amigo diz rindo.

Fico olhando para o bebê em meus braços, tentando achar um nome lindo para uma boquinha como ela. Mesmo que ela esteja com carinha de joelhos, garanto que é o joelho mais lindo do mundo. E quando ela abriu os olhos em minha direção, parecia que meu mundo tivesse dado uma parada para voltar a girar ao redor dela. Foi amor a primeira vista e sei que daria a minha vida pela dela se precisasse.

- Vida... Seu nome é Vida. -Falo com a voz embargada. - Bem vinda ao mundo pequena, minha Vida mais linda. Eu cuidarei e te protegerei com todas as minhas forças.

E foi assim a vida toda.

Ela brigava com os pais e corria para o meu colo, Ela caiu a primeira vez e foi para mim que ela ergueu os braços. Seu primeiro beijo, quando ficou mocinha, duvidas sobre que carreira seguir. Tudo foi compartilhado comigo. Walter, Tay e eu eramos melhores amigos, sabíamos tudo um do outro. Meu irmão Sony também vazia parte do grupo, mas não era de se abrir muito, mas era tão ou mais leal quanto eu. Quando recebi a noticia que meus amigos e sobrinhos estavam mortos, meu mundo parou, escureceu, uma dor enorme me atingiu pois tinha  acabado de perder a minha segunda família. Só voltei a respirar novamente, quando meu irmão gritou na minha cara que a Vida estava viva.

Corremos como se o próprio demônio estivesse atrás da gente. Quando chegamos na casa do Wal, encontramos um banho de sangue e minha filhada catatônica sentada na mesa da área do churrasco. Sony e eu a abraçamos, falamos baixinho e seu ouvido, mas nada a tirava do estado de choque na qual se encontrava. Vida estava com dezenove anos e nem era para estar em casa nesse dia fodido. Os policiais que estavam no caso chegaram perto e começaram a falar, não havia impressões digitais, bilhete, nada! Mas tava na cara que era uma queima de arquivo. Sony ligou para o nosso chefe, que ficou de chegar o mais rápido possível. De alguma coisa meu trabalho serviria, nós tínhamos o poder que aqueles policiais não tinham. Depois que eles se afastaram, Vida olhou para mim como se só então tivesse me reconhecido. Ela me abraçou apertado e deixou o pranto cair, eu a abracei com força e dizia em seu ouvido que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que era mentira. Quando ela se acalmou, me olhou nos fundos dos meus olhos e soltou a bomba.

- Eu sei quem matou eles... Eu sei, reconheci a voz. -Ela disse baixinho.

- Sony! -Gritei pelo meu irmão que vem correndo em nossa direção.

- Oi Borboletinha, o tio Sony está aqui. -Ele diz e a pega no colo.

- Principessa, fale para o Sony o que você me disse.

- Eu sei quem fez isso tio... Eu reconheci a voz. -Ela diz entre soluços.

- Quem foi meu amor?

- Foi um homem e a secretaria da mamãe.

Depois que ela nos contou tudo, fiz o que mais me doeu em toda a minha vida. Eu a deixei... Mas foi preciso fazer isso, meus amigos, meus sobrinhos e principalmente a minha filhada, precisam de justiça. Alguns foram presos, a mulher foi a primeira e eu fiz questão que a vida dela fosse muito difícil na cadeia. Fechamos o cerco na organização que orquestrou o assassinato e matei... Matei lentamente cada um que entrou no meu caminho. Sei que sou um homem da lei, mas também conheço muito bem a justiça do Brasil. Se me orgulho? Porra lógico que não! Mas também queria que meus amigos estivessem vivos, queria que a minha menina nunca tivesse visto um crime tão brutal. Queria apagar tudo o que ela causou a si própria, queria arrancar a vontade louca de morrer que ela tinha. Queria poder preencher o vazio que habitava em seus olhos, olhos esses que brilhavam de amor, de alegria, de vontade de viver, mas não, tudo o que consiguia enxergar era a vontade insana de se destruir.

Mas a minha atitude tem uma cobrança, ninguém sai impune depois de matar alguém, mesmo que isso seja ossos do oficio. Eu matei por vingança e jamais me arrependerei disso, mesmo carregando marcas profundas dos meus atos, eu ainda assim não me arrependo. Minha alma tinha sido maculada pelo mais vil dos sentimentos. A vingança. Mas eu poderia viver com essa mancha, e eu vivi minha vida sem me importar com isso, sem dar a mínima para esse ato e muitos outros que vieram a seguir.

Mas a cobrança veio em forma do ser mais pura que já coloquei os olhos e isso me tirou o chão. Como você toca algo tão puro quando tem as mãos sujas de sangue? Eu preciso mantê-la segura, nem que seja de mim mesmo.

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