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[Nota Inicial: se não costumam prestar atenção à data inicial dos capítulos, sugiram que vão conferir qual a data inicial do capítulo anterior para não ficarem confusos. Basicamente, passam-se em momentos temporais diferentes.]


» I didn't want to fall in love, not at all. But at some point you smiled and, holy shit, I blew it. «

12 de julho de 2019

Há meses que o André me chateia porque quer conhecer o sítio onde eu cresci e por isso continuamente insiste para que eu o leve até lá. Por um lado, deixa-me feliz que ele queira conhecer mais sobre mim, sobre o meu passado e sobre o sítio onde cresci; contudo, por outro lado, é uma coisa tão minha, tão especial, que tenho medo de lhe mostrar. É algo tão pessoal e íntimo como levá-lo a conhecer os pais, se isso pudesse acontecer.

Como todos os verões, tenho aproveitado esta semana das minhas férias para ir todos os dias ajudar a dinamizar atividades ou passeios para os miúdos. Então, acabei por decidir que uma pessoa a mais talvez pudesse ser uma boa ajuda e eles adoram sempre quando vai alguém novo para os conhecer. Por isso, finalmente cedi ao pedido do André e combinámos que, uma vez que também ele está de férias, hoje irá comigo conhecer a instituição e as crianças.

Depois de acordar, tomar um duche e vestir uma roupa confortável para o dia, eu tomo o meu pequeno-almoço com calma, na varanda do meu apartamento. O dia promete ser quente, como têm sido os restantes desta semana, um excelente dia de verão. Só acordar e ver logo todo este sol deixa-me ainda mais bem-disposta, aliada ao facto de saber que vou voltar, mais uma vez, a casa.

Não consigo pôr por palavras o quão especial é aquele local para mim. Acolheu-me quando eu mais precisava de amparo, ajudou-me a crescer e teve uma grande influência na mulher que sou hoje. Aquelas pessoas criaram-me e deram-me amor, mesmo havendo mais dezenas de crianças como eu, a precisarem do mesmo. Nunca ouvi ninguém que tenha saído daquela instituição a dizer que foi maltratado ou que não gostou. Aquele sítio é a casa de centenas de pessoas que por lá passaram e será sempre um sítio muito especial para todos nós.

- Bom dia! – o André exclama, na sua habitual boa disposição, assim que lhe abro a porta.

- Bom dia! – cumprimento de volta, fazendo-lhe sinal para ele entrar – Estou só a terminar o pequeno-almoço e depois podemos ir.

- Sim, claro. – ele sorri, deixando um beijo nos meus cabelos – Como é que estás? Mal te vi esta semana, Carol.

- Tenho passado todos os dias na instituição, como te disse. – respondo, dando mais trinca na minha tosta mista – No verão, aproveito sempre que tenho mais tempo para ir lá mais vezes, fazer coisas com os miúdos. Os mais velhos já têm a sua autonomia e independência e vão saindo com os amigos, com autorização como é claro, mas os mais pequenos acabam por passar mais tempo ali fechados, então eu costumo juntar-me com mais algumas amigas que também viveram lá e preparar atividades diferentes. Na segunda, fomos à praia e na quarta ao parque aquático. – conto – E amanhã vamos preparar um arraial à noite. – sorrio.

- Uau, isso é incrível. – ele sorri, roubando um morango da minha fruteira e comendo-o – Mas nada que me espante vindo de ti. Tu bem tentas disfarçar, mas toda a gente sabe que tens esse coração gigante.

- Eu já fui uma daquelas crianças, sei o quão importante é perceber que há pessoas que se preocupam connosco e que querem ver-nos felizes. Por isso, só me resta contribuir para isso. – respondo, encolhendo os ombros – Que foi? – pergunto, perante o sorriso parvo do André.

Flirtationship | André Silva ✔️Where stories live. Discover now