Capítulo 19

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   Sorri para mim mesma já que o homem não poderia ver, eu nunca li livros sem ser os que a professora me levava, livros didáticos. Vicente se vira para mim e percebo que não lhe dei uma resposta.
   — Eu nunca li um livro — minha voz não saiu alegre, havia um tom triste, eu sempre tive a curiosidade de ler alguma coisa, de saber como era o universo dos livros, eu sabia que existia, pois, a maioria das minhas aulas de português falavam sobre citações de livros famosos.
   — Nunca? — parece surpreso com a minha resposta e eu aceno com minha cabeça que não, nunca li realmente um livro — eu já li vários — parece pensar o que seria "vários" e para alimentar mais o nosso papo eu continuo.
   — E quais gênero você gosta, tipo, quais são seus livros mais lidos? — por mais que eu nunca tenha os lido, não me importo de ouvir Vicente dizer de coisas que eu não sei, porque é assim que irei aprender. Respira fundo e traz nossa comida para à mesa, tira o avental que veste e o coloca sobre o balcão ao lado do fogão se sentando comigo, torce os lábios enquanto me serve, parece pensar.
   — A maioria dos livros que leio são de filósofos, alguns de romance, outros sobre reflexão, nunca parei para ler algo como fantasia ou algo do tipo, desde criança a maioria dos livros que Roman tinha em sua mini biblioteca era deste modo, então acabei tendo bastante sabedoria em muitas coisas na minha vida por isso, penso que o único livro que eu realmente li fora desses padrões foi o menino do pijama listrado ou até mesmo um livro que falava de um casal de pessoas que não enxergavam, não me lembro o nome — come calmo a minha frente e eu sorri de boca cheia.
   — Parece ser bom, acho que eles tiveram muita influência na pessoa que está na minha frente, aliás, por mais que você seja a primeira pessoa que conheço, não estou errada sobre o seu caráter. — Vicente tem seus olhos semicerrados em minha direção enquanto mastiga devagar, sorri com minhas palavras e olha para o relógio, faço o mesmo vendo que se passam uma hora que estamos aqui a dialogar, são nove e quinze da noite, lá fora parece estar a fazer um leve frio, não sei se estou cansada o bastante para dormir ou se ainda consigo assistir a algo antes de ir para cama, não sei se chamo Vicente para me acompanhar ou se deixo de o perturbar.

   No fim de tudo eu não fiz nenhum dos dois, não fui dormir e nem chamei Vicente para assistir, porque não fiz isso também, eu não o encontrei em nenhum lugar, então fiquei sentada na beira da janela a pensar milhões de coisas aleatórias, pensei tanto que já era meia noite e eu estava a sair do parapeito da janela para ir à minha cama, mas quando me virei de costas lá estava ele. Engulo em seco, veste calça moletom e está sem blusa, seus cabelos estão bagunçados e secos, meu quarto está apagado e a única luz presente é a que vem do corredor.
   — Se eu te fizer um pedido, você aceita? — me surpreende a pergunta e chego mais perto, tão perto que sinto a quentura do seu corpo.
   — Mas eu achei que estava aqui para seguir ordens, não escolher se deveria ou não — um traço se desenha nos seus lábios e ajeita sua postura para ficar de frente para mim, desta vez seu sorriso se vai e coloca uma mexa dos meus cabelos para trás da minha orelha.
   — Eu já disse e mostrei que sou diferente dos homens que treinam você para seguir ordens, acima de tudo vem o respeito, e quero saber se aceita o pedido que farei.
   — Eu não sei — sorri — você ainda não fez — olho no fundo dos seus olhos e o mesmo apenas retribui o meu olhar. De um modo gentil toma minha mão para si e me puxa com ele para algum lugar, descemos as escadas e viramos a direita, lá estava o corredor e me parou de frente a porta de mais cedo, na verdade, de ontem.
   — Dance para mim — me olha e está sério, a porta se abriu e eu vi a barra de ferro então engoli em seco, aquilo nunca foi um desafio para mim, por que fiquei surpresa? Mas o meu espanto se foi tão rápido quanto apareceu, pois deu liberdade a um sorriso nos meus lábios.

   Então foi minha vez de puxá-lo comigo, a porta se fechou atrás de nós e o sento no sofá de frente a barra, caminho até a mesma e o olho, Vicente se levantou e acompanho seus passos, logo uma música começou e eu sorri, isso era o que faltava. Voltou a se sentar e lentamente eu tiro a minha roupa, meu corpo a mexer no tom da música e meus pontos doloridos a doer, olhos a penetrar os seus, a barra é meu brinquedo e meus movimentos são atos curiosos em seus olhos. Quando subo a o observar sentado eu sorri descendo lentamente, e nesse mesmo ritmo se levantou e andou até mim, Vicente segurou meus cabelos e me puxou para perto de si, ali colou nossos lábios em um beijo me surpreendo com o ato repentino, é meu primeiro beijo e o nosso primeiro, sigo seus movimentos em ritmo calmo. Suas mãos nunca se distanciando da minha nuca e da minha bochecha a depositar um carinho, assim que pegamos distância e a música trocou nos olhamos nos olhos.
   — Amanhã eu tenho duas surpresas para você. — Suave e rouco.
   — Se continuar assim irá me acostumar mal — sorri de lado e se afasta de mim, desliga a música e retorna para minha beira, segura minha mão deixando um beijo sobre o dorso e me puxa com ele. Minha pele se arrepia pelo frio, a casa está escura, mas Vicente parece não notar, tem cada canto desenhado em sua mente como um mapa, quando menos espero já estamos na porta de seu quarto.
   — Estou aqui para agradá-la, cuidar de você e amar você — sua última frase faz meu coração palpitar — não me importo com nada a mais que sua felicidade, Sky. — Sorri, o modo como disse cada palavra - como me chamou pelo apelido que ele me deu - sério o bastante para saber que talvez não foi da boca para fora, seus olhos a olhar no fundo dos meus a passar confiança, não sei se é muito cedo para me apaixonar, ou para estar apaixonada.

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