Entro no quarto de Pina e Pietra e abro cortina e janela. O sol ainda tímido aponta no alto da serra e preenche o cômodo fazendo com que as gêmeas cubram, ao mesmo tempo, suas cabeças com o cobertor.
— Acordem! Vocês têm três minutos para saírem da cama — aviso às minhas irmãs caçulas que dividem uma cama de casal.
— Não quero ir para escola hoje — resmungam em uníssono.
Ter de criar uma irmã mais nova é difícil, mas quando é multiplicada por duas se torna uma tarefa que demanda toda a minha energia. Meu pai e eu quase não tivemos tempo de chorar a perda da minha mãe — que morreu por hemorragia pós-parto —, tínhamos recém-nascidas para cuidar. Eu, que na época estava prestes a completar dezoito anos, recebi mais que irmãs, recebi filhas.
— Dois minutos para saírem da cama — repercuto, separando os uniformes do colégio.
— Mas hoje é nosso aniversário — braveja Pina.
Jogo-me na cama, trazendo-as para perto e beijo o topo de suas cabeças.
— Melhor ainda, vão receber muitas felicitações e abraços no colégio, além disso, a professora Dora vai cantar parabéns para vocês — respondo, agarrando-as um pouco mais.
Elas se aconchegam a mim e ficamos as três juntas na cama por uns minutos.
— Agora é sério, levantem-se ou vamos nos atrasar! — digo, erguendo-me da cama.
Saio para a cozinha e encontro Dona Gertrude preparando o café da manhã. Ela trabalha conosco há muitos anos — desde antes das gêmeas nascerem — e nos ajuda a manter a casa em ordem, na verdade, ajuda a manter todo mundo na linha.
— Essas garotas não querem se levantar, não é? — Dona Gertrudes ajeita seu coque, encaixando de volta os fios soltos de sua longa cabeleira prateada. Em seguida, segue para o quarto de Pina e Pietra.
Da cozinha a ouço falar:
— Levantem-se ou vou esconder um punhado de lagarta-rosca nesse colchão.
Sorrio, enquanto encho minha xícara com café. As duas gritam e saem em disparada da cama para o banheiro. Não demora muito e tenho Pina e Pietra sentadas à mesa com o rosto lavado, os dentes escovados e vestidas com o uniforme escolar.
— Eu quero café puro porque hoje faço nove anos — expõe Pina, alcançando uma xícara.
— Tome seu leite e coma os ovos — contesto, tirando a xícara de café de sua mão.
— Tomar café puro na nossa idade pode impedir a assimilação de nutrientes e atrapalhar o desenvolvimento ósseo, além de irritar a mucosa estomacal. Café puro deve ser tomado a partir do final da adolescência e nós acabamos de fazer nove anos — argumenta Pietra, sorvendo calmamente seu leite.
— Mucosa? O que é mucosa? — pergunta Pina.
— Mucosa é o tecido que reveste as cavidades úmidas do nosso corpo — responde ela.
YOU ARE READING
Sem Destino
RomanceUm livro romântico e cheio de amor, que fará seu coração bater mais forte a cada capítulo. Se você gosta de romance e um enredo que mistura amor, paixão, drama e momentos divertidos conheça Zander e Pilar. Seguir carreira no exército foi o destino...