Capítulo 5 - Pilar

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-Assim que chegamos em casa, peço às meninas trocarem de roupa e irem brincar um pouco

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-Assim que chegamos em casa, peço às meninas trocarem de roupa e irem brincar um pouco. As duas entoam um sonoro sim e saem correndo do carro. Dona Gertrudes se equilibra entre as gêmeas velocistas e desce os pouco degraus da entrada para vir me ajudar a descarregar o carro com os enfeites da festa de mais tarde.

— Será que dá para arrastar? — lamenta Dona Gertrudes, colocando sobre a mesa da sala de jantar as bandejas que tiramos do carro.

— Quer acabar com suas costas? — Vou até ela e a afasto da mesa em maçaranduba com lugar para dez pessoas e que precisa de no mínimo três homens para tirá-la do lugar. — Vamos apenas colar as flores de papel na parede e enfeitar a mesa, não precisamos tirá-la do lugar.

Nossa casa carrega a essência dos avós, como os móveis antigos em madeira maciça que ocupam sala de estar, jantar, cozinha... a louça portuguesa azul que decora as paredes, o amarelo na fachada que é a cor escolhida muitas décadas atrás. É uma maneira de não esquecer quem somos e de onde viemos, é mantê-los vivos através do tempo.

— Não fica melhor para tirar fotos se a deixarmos rente à parede? — indaga, com as mãos na cintura.

— As meninas detestam tirar fotos. Caso consigamos algumas durante os parabéns já será muita sorte. — Abanco uma flor em papel para grudar na parede de onde tiramos dezenas de pratos portugueses.

— Seu pai não deu as caras hoje. Cada ano que passa ele sai mais cedo e volta mais tarde.

— Eu sei — respondo, saindo para à cozinha. Não posso arrastá-lo, não posso obrigá-lo a comemorar o dia de Pina e Pietra, não posso e não sei como fazer com que ele não sofra mais. Eu, simplesmente, não sei como fazer.

— Cheguei muito cedo? — ouço a voz de Suria.

— Chegou na hora certa, Suria — diz Dona Gertrudes, entregando-lhe uma bandeja cheia de brigadeiros. — Leve à mesa, por favor.

— Não estou aqui para trabalhar — contesta, enfiando um docinho na boca, antes de segurar a bandeja.

— E seu pai, onde está? — pergunta Suria, esticando o pescoço para olhar pelo corredor.

Suria chegou às nossas vidas quando lecionou para as meninas durante um ano. Foi inexplicável como nos gostamos de cara e logo aquela relação ultrapassou os muros da escola. Ela é uma mulher fascinante, independente, sábia e cheia de energia. Sei que ela não vê meu pai apenas como amigo, o único problema é que Martim Castanheda tem seu coração guardado a sete chaves. Tenho receio de que esse sentimento não correspondido acabe por afastá-la de mim e das meninas.

— Veio ver meu pai ou as meninas? — questiono, inclinando a cabeça.

— As meninas! Mas se estou aqui o que me custa cumprimentar toda a família?

Sem DestinoWhere stories live. Discover now