hopeless

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Todos os dias eram difíceis, mas eu vivia cada um deles simultaneamente.

Não tinha muito o que fazer ou o que falar. Todas as semanas eram as mesmas. Eu a acompanhava em visitas ao médico, compras de remédios, e assistia seus cabelos caírem.

De resto, estava tudo parado. Minha faculdade, meu emprego e o meu namoro.

Eu cogitei em terminar, Timothée não merecia isso. No entanto, ele não permitiu.

Nunca quis ser um peso pra ele, nem para ninguém, e era exatamente isso o que nosso relacionamento se tornou. Era difícil eu me animar ou aproveitar o que me restava porque eu sentia que tinham tirado tudo de mim.

Minha avó se culpava todos os dias, mesmo que eu a pedisse para não fazer. Não era culpa de ninguém. É a vida.

Ela pensou em todas as possibilidades, até me pediu para que eu fosse para Nova York sozinha, mas eu jamais a deixaria aqui, não enquanto ela estivesse doente.

Talvez eu tenha perdido a bolsa de estudos que consegui na faculdade de lá, eu não me preocupei em lembrar as datas de prazo que tinha para avisá-los caso acontecesse algum imprevisto. Dei tanto de mim mas parece que não foi o suficiente.

Eu nem tentei fingir que estava bem no meio dessa situação, porque eu não estava.

Timmy quis viajar até aqui e me dar apoio, mas eu não o deixei fazer isso. Iria me machucar mais ainda vê-lo nessas circunstâncias.

Faziam algumas semanas já e toda rotina era igual. A minha família estava mais abalada do que nunca. Nem sei como deve ter sido para eles lidarem com isso em segredo. Eu não gostei de terem escondido de mim, não sou mais criança, e agora eu estou enfrentando todos os demônios da vida real sozinha.

Eu acreditava que iriamos chegar no fim desse caminho assombrado e repleto de escuridão, sentia falta todos os dias de toda a positividade que minha família transmitia, das risadas e sorrisos em estarmos bem e juntos. Sentia falta até de mim e do meu senso se humor, que agora estava escondido, se ainda houvesse em mim.

Havia completado duas semanas desde que decidir ficar na casa dos meus avó para ajudá-los e, de alguma forma, me sentir mais perto de minha avó para compensar os meses em que fui completamente egoísta e cega.

Estávamos na cozinha agora, sozinhas, enquanto meu avó cuidava do jardim.

- A senhora vai querer chá de frutas vermelhas ou hortelã? – perguntei, esperando que a mesma escolhesse a primeira opção, já que eu não era muito fã de hortelã.

Ela estava sentada na mesa da cozinha, separando os feijões para cozinharmos mais tarde.

- Pode ser o de frutas vermelhas, querida.

Sorri com a sua resposta.

Chá me trazia lembranças das tarde em que eu e Timmy passávamos juntos. Ele gostava de tomar café gelado pela manhã e tarde, enquanto eu sempre preferi o chá.

Eu deveria me sentir grata por ter tido esses momentos com ele, eram bons, calmos, claros e agora tudo em mim explodia em saudades quando eu pensava nele. Desejaria não estar machucada para lhe dar a atenção que merece. Lidar com o sentimento de culpa era a pior sensação de todas.

Me sentei na mesa, ao lado de vovó e a servi um pouco de chá na xícara.

- Você está sendo tão atenciosa comigo, querida... – ela me agradeceu, tomando um gole da bebida.

- Nada do que a senhora não mereça.

- Eu nunca quis te colocar nessa situação. Era para você estar seguindo com a sua nova vida agora. – resmungou, como já fazia de costume.

- Eu estou bem, vovó. – menti, para reconfortá-la.

- Isso é só uma etapa. Eu prometo que assim que eu melhorar nós vamos voltar pra lá.

Às vezes ela dizia isso também.

O câncer não é só uma etapa. É uma contínua descida traiçoeira.

- E eu sei o que você está pensando. – afirmou, me tendo como atenção. – Mas eu planejei essa mudança quando já sabia sobre o câncer. Essa recaída foi apenas uma pedra no nosso caminho.

Eu me sentia confusa.

Não sei se era porque eu queria manter os pés no chão, ou a negação me transtornava, mas minha avó parecia não aceitar nunca as circunstancias em que estávamos.

- Não foi uma pedra. Foi como uma ponte se partindo ao meio, sem podermos conseguir terminar de atravessa-la, ou até mesmo uma rua sem saída.

Meu avó e meus pais nunca interferiram nas nossas conversas e até pequenas discussões. Vovó dizia que eu não queria enxergar o "pote de ouro" no fim do arco-iris. A verdade é que eu não enxergava todas essas cores. Tudo havia se transformado em cinza escuro para mim.

- Eu prometi que iria te ajudar a realizar seus sonhos, e não vai ser por causa disso que irá nos impedir. Lá também tem tratamentos, até melhores do que aqui, para falar a verdade.

- Vovó! O plano de saúde nos Estados Unidos é muito caro.

- Não se preocupe com isso, Aurora. Eu estou bem, e agora você tem que resolver os problemas da faculdade. No momento em que o médico me der uma alta nós partiremos.

Ela está louca?!

Por que minha avó falava sobre sua doença como se fosse uma simples gripe?

Eu não sou e nem vou ser a prioridade aqui. Não enquanto ela estiver idosa e doente.

Gostaria de saber a opinião dos meus pais a respeito disso, eles não poderiam permiti-la partir nessas condições.

Quantas noites desde que tivemos que desfazer nossas malas eu já não pensei nas possibilidades de voltarmos. No entanto, agora não era mais um momento de imaginar os acontecimentos, nós temos consequências concretas aqui e nada vai mudar isso.

Não sei o que irá acontecer de agora para frente, como eu irei lidar com minha família, meu futuro e meu namoro, mas preciso ser forte para aguentar cada bagagem que peguei.

Às vezes eu tentava ser otimista como eu era em relação ao seu câncer, mas eu ainda permanecia no estado de negação, e por mais que quisesse acreditar que eu ainda tinha uma esperança, tudo se tornava mais difícil.

Só espero não machucar mais ninguém.

***


VOLTEI!! Peço perdão pela demora, mas aqui se inicia finalmente a 2 temporada de NYC!

Vocês não estão preparados para o que está por vir 😈

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west village T. CHALAMETOnde histórias criam vida. Descubra agora