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• A ESCURIDÃO ESTÁ AQUI •

A manhã na casa de Aza continuava envolta em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo murmúrio ocasional das vozes de Jace, Isabelle e Clary enquanto discutiam o que havia acontecido na missão fatídica. A luz do sol entrava fracamente pelas janelas, lançando sombras compridas e frias pelas paredes, como se a própria casa estivesse retendo uma parte das trevas que envolviam os corações dos presentes.

Aza estava sentada em seu habitual sofá de veludo escuro, um copo de whisky em uma das mãos. Ela usava um vestido preto de mangas longas, que abraçava sua silhueta com uma elegância austera. Seu cabelo escuro caía em cascatas suaves, enquadrando seu rosto delicado, mas os olhos – aqueles olhos de um verde intenso, cortantes como lâminas – eram o que mais chamava atenção. Eles pareciam conter segredos antigos, um abismo de experiências e dores que ela raramente deixava transparecer.

Apesar de sua postura aparentemente relaxada, Aza não estava totalmente alheia ao que acontecia ao seu redor. O som das vozes na sala a mantinha ligada aos eventos que se desenrolavam, embora seus olhos permanecessem fixos no vazio, como se ela estivesse em outro lugar. Vlad, seu gato de olhos flamejantes, estava deitado aos seus pés, o ronronar baixo e constante sendo o único sinal de que ele também estava alerta.

— Estávamos na parte mais profunda dos túneis, onde a luz mal conseguia chegar, e foi aí que percebemos que algo estava errado. — A voz de Clary ecoou pela sala, carregada com a tensão que ela ainda não conseguia dissipar. — A escuridão parecia... viva, como se estivesse nos observando.

Jace estava sentado à mesa, a mão direita tamborilando nervosamente sobre o tampo de madeira, uma ação inconsciente enquanto ele tentava se concentrar nas palavras de Clary. No entanto, seus pensamentos se desviaram, sua atenção capturada pela figura de Aza no sofá. Ele não conseguia evitar; havia algo nela que o intrigava profundamente.

Aza era uma visão marcante. A pele pálida contrastava perfeitamente com o tecido negro que usava, e cada movimento dela, por mais sutil que fosse, exalava uma graça natural que parecia quase etérea. Seus traços eram delicados, quase angelicais – os lábios cheios e rosados, o nariz fino, os olhos que pareciam esconder um universo próprio. Mas, ao mesmo tempo, havia uma dureza em sua expressão, uma amargura que parecia perene, como se estivesse profundamente gravada em sua alma.

Jace se perguntou como alguém podia ter uma aparência tão angelical, quase ingênua, mas ao mesmo tempo carregar consigo uma personalidade tão ácida, tão ferida. Havia uma dualidade em Aza que ele simplesmente não conseguia compreender, e isso o fascinava e o desconcertava ao mesmo tempo.

— Jace? — A voz de Clary o tirou de seus devaneios, chamando sua atenção de volta para a conversa. Ela o observava com um olhar que misturava preocupação e algo mais, uma pontada de desconforto que ela não expressava em palavras.

Ele piscou rapidamente, disfarçando o fato de que havia sido pego olhando para Aza, e forçou um sorriso enquanto voltava sua atenção para Clary e Isabelle.

— Desculpe, estava apenas pensando... — Ele murmurou, tentando soar natural, mas a tensão em sua voz era perceptível.

Clary o estudou por um breve momento, os olhos castanhos dela capturando uma sombra de desconfiança, mas ela optou por não dizer nada. Ao invés disso, ela continuou com o relato, sua voz assumindo um tom mais controlado, embora ainda carregada de emoção.

— Quando finalmente vimos a criatura, ela não parecia ser deste mundo. — Clary continuou, sua voz se tornando um pouco mais firme. — Era como uma sombra que se moldava à vontade, e cada vez que tentávamos atacá-la, ela se desfazia, apenas para surgir de novo de outro ângulo. Nunca vimos nada assim antes.

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⏰ Última atualização: Aug 31 ⏰

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