XXIV. À beira das sombras

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Capítulo 24

AS LUZES DA CHAMA AZUL BRILHAVAM na fogueira de gravetos secos espantando a escuridão e as trevas que fervilhavam do lado de fora. Para além do nosso abrigo, escondido por debaixo de uma rocha, gritos e murmúrios ecoavam famintos, desejando-nos como bestas descontroladas desde que a luz se fora.

Lesly estava ao meu lado, apoiada em meu ombro com um graveto rodopiando pelo ar. A madeira azulada queimava somente na ponta e com a brasa formada ela desenhava figuras e símbolos com movimentos sinuosos. Lesly estava tentando se distrair, mas o clima tenebroso daquela noite ameaçava cada um de nós.

Sírian estava do outro lado da fogueira, sentada em uma rocha de musgo enquanto melodiava baixinho uma canção de ninar para o seu gnomo. O qual, vez ou outra, disparava pedras em direção à fogueira.

A fome já estava batendo e não havíamos encontrado nenhum alimento pelas redondezas, então, na tentativa de encontrar algo em meus bolsos, o vasculho me deparando com algo que já havia me esquecido há um bom tempo.

— Pissual, i mipa! ili istá iqui — Exclamei, manuseando-o.

— E o que vamos fazer com um mapa, Órion? Se vamos todos morrer antes de chegar lá? — Rebateu Dicksson.

— Mirrer? Do qui vicê istá filando, Dickssin? — Intrometeu-se Lesly.

O elfo se levantou na sua direção e pegou o graveto azulado que Lesly segurava.

— Ora, mas então vocês não sabem?... Tudo bem, eu conto a história que vocês, humanos, pularam quando entraram aqui — Rebateu ele.

— Dicksson?! Qual é o seu problema, hein?! — Exclamou Sírian.

— Problema? O problema é que eles acham que tudo aqui é um conto de fadas. Mas isso porque nunca lhe contaram o que tem do outro lado — Começou ele.

— E o que você sabe sobre o outro lado, hein? — Indagou o seu irmão Gerald espantado.

— Muito mais do que gostaria, irmãozinho — respondeu o elfo queimando a ponta do graveto no fogo.

Todos o fitaram com medo.

— Quando eu era pequeno em A.D.C, antes do colapso, quando meu irmão ainda era pequeno, fui levado para Rugnárick, o deserto vermelho, para servir como oferta a um dos planos de Robson. Por que acham que não existem mais elfos ou qualquer ser masculino em Fonday? — Questionou ele.

— Sírian havia mi cuntadi qui iles não existiam. I qui vocês iram aberrações — Admitiu Lesly.

Sírian suspirou nervosa.

— Já chega Dicksson! Essa história já terminou há muito tempo! Não precisamos ficar mais entediados do que já estamos — rebateu a princesa.

— Calma, Sírian. Eu ainda nem cheguei na melhor parte. A verdade, humanos, é que todos os elfos dessa dimensão foram sacrificados para a rainha vermelha alimentar a sua ganância!

— Rinha virmelha? Cumi issim?! — Questionei levantando-me.

— É, pelo visto vocês a conhecem —, mas não totalmente. A rainha, se é que posso chamar aquele monstro assim, sacrificou todos os elfos para adquirir a magia de que tanto precisava para se manter viva e bela. E não só ela, mas todos seus prisioneiros do Diabo.

— Prhi... Prhisioneiros? — Gaguejou Triston.

— Sim gnomo, milhares de prisioneiros... Na sua maioria, crianças e elfos. E sabe como ela os matam? — Começou o elfo levantando o graveto brilhante pelos ares. - Com suas próprias lágrimas.

ÓRION - DIMENSÃO em COLAPSOWhere stories live. Discover now