Capítulo 10

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A casa caiu

A inundação do apartamento foi resolvida pelo encanador de forma bastante demorada. O pior é que havia possibilidade de que aquele problema voltasse a ocorrer. Tirar aquela água suja da cozinha foi uma experiência extremamente desagradável que Noah e Sina tiveram que encarar juntos.

Noah ligou para o pai diversas vezes, mas ele sempre estava ocupado demais para ouvir o que o filho tinha a dizer. O senhor Marco Urrea, pai do rapaz, simplesmente não se importava. Para Noah, não havia nada mais irritante.

Uma semana depois, as coisas pareciam ter recuperado a ordem. Numa terça-feira, tarde da noite, o apartamento estava organizado e silencioso.

Sina estava confortavelmente deitada em sua cama. Ela ajeitou a cabeça no travesseiro, enquanto uma chuva violenta molhava a cidade. Raios e trovões cortavam o céu, espalhando clarões de luz pelo quarto dela. A garota fechou os olhos. Era reconfortante dormir ao som daquele barulho de chuva. E ela estava exausta.

Enquanto o sono começava a envolvê-la lentamente, a mente da garota divagava sobre uma centena de coisas. O estágio, os problemas no trabalho voluntário, as boas notas que conseguira nas últimas provas,Noah... Ela estava prestes a apagar completamente quando outro trovão emitiu um barulho estrondoso. Noah, ela pensou de novo. E então se obrigou a abrir os olhos. Sina se levantou da cama o mais rápido que pôde. Estava tonta de sono.

– Noah? – ela chamou, enquanto saía do quarto.

A garota o encontrou na sala, um pouco encolhido no canto do sofá. A televisão estava ligada, mas ele olhava para a janela, para a tempestade lá fora. Outro trovão ressoou, e cada parte do corpo dele estremeceu.

Graças à mãe de Noah, Sina sabia que ele tinha medo de trovão. Aquela era a oportunidade perfeita para zoar com a cara dele. Curiosamente, essa era a última coisa que ela pensaria em fazer naquele momento.

Ela se aproximou um pouco e assim que Noah notou a presença dela, se obrigou a olhar para a televisão.

– O que você está fazendo aí, a essa hora? – perguntou a garota.

– Assistindo televisão. – respondeu ele, rispidamente – Não tá vendo?

– Você está assistindo um programa sobre compra e venda de gado? – ela perguntou de volta, olhando para a televisão.

– Tá bom. – ele desistiu – Não tô assistindo. Só liguei a tv num canal qualquer.

Sina sentou no sofá ao lado dele. Mais um trovão cortou o céu e Noah estremeceu de novo.

– Vou te fazer companhia. – disse Sina. – Até acabar essa tempestade.

– Ah, que maravilha. Você acaba de descobrir meu medo idiota de trovão.

– É, eu descobri. – ela confirmou, sorrindo com doçura – Mas não é um medo idiota. Você tem astrofobia. É o nome pro medo irracional de trovões e relâmpagos. Muita gente tem esse problema. Pesquisei na internet, uma vez.

– Ah, legal. É bem melhor pensar que eu tenho astrofobia, ao invés de frescura. – disse ele, tentando manter o bom humor.

Não estava funcionando, porque a voz dele soava apavorada. Sina pensou em uma forma de tranquilizá-lo.

– Bem, se isso ajuda em alguma coisa, você devia se lembrar de que a velocidade do som é menor que a velocidade da luz. – disse a garota.

– Pelo amor de Deus, Sina! Eu estou aqui morrendo e você vem falar de física?

– O que eu quis dizer é que, como que o som é mais lento que a luz, toda vez que você ouvir um trovão significa que ele já passou e que você continua vivo.

– Nossa, saber que eu ainda estou vivo é super reconfortante. – ironizou Noah.

Sina sorriu suavemente.

– Vai ficar tudo bem. Eu prometo. Você quer um chocolate quente? – ela perguntou, olhando para ele com aqueles grandes olhos esverdeados e brilhantes.

O rapaz a encarou por alguns segundos e refletiu sobre o quanto aquela situação era bizarra. Noahe tinha zoado Sina durante todo o ensino fundamental e médio. Agora, ela tinha a oportunidade perfeita para dar o troco e em vez disso estava oferecendo chocolate quente.

Droga, pensou Noah, aquilo era tão fofo que chegava a ser irritante. Por que raios ela tinha que agir daquele jeito? Pra fazê-lo se sentir um idiota? Aquilo não estava certo. Seres vivos do gênero humano não podiam ser tão legais assim. Que ela fosse para a terra dos Ursinhos Carinhosos!

Ela fez mesmo chocolate quente. E enquanto a tempestade estourava lá fora, a garota tentou distraí-lo de todos os modos. Ainda assim, ele continuava com medo.

– Estou me sentindo uma criança de quatro anos. – comentou Noah, frustrado. Detestava sentir aquele medo idiota. Achava aquilo ridículo.

– Todo mundo tem medo de alguma coisa. Não é razão pra ficar com vergonha. – ponderou Sina.

– Ah é? Você tem medo do quê, então? – desafiou o rapaz.

– Do seu quarto, por exemplo. Se é que se pode chamar aquilo de quarto. Mas tenho medo principalmente do seu guarda-roupa, de abrir a porta do seu armário e ser soterrada pela bagunça que você enfia lá dentro.

Os dois riram, e Noah se esqueceu da tempestade por um momento.

– Ei. - disse Sina, olhando pro teto - É impressão minha ou aquela rachadura está aumentando?

Noah já tinha visto aquela rachadura antes. Ela realmente parecia estar ficando maior.

– Esse apartamento está caindo aos pedaços. E meu pai não está fazendo absolutamente nada a respeito. – reclamou Noah.

Eles ouviram um som estranho vindo do teto. A rachadura ficou maior e mais larga.

– Noah, levanta. Realmente acho que a gente devia sair daqui.

Os dois se levantaram do sofá a tempo de ver a rachadura crescer ainda mais, como um iceberg se partindo, emitindo um som apavorante. Sina puxou Noah para o lado dela com toda a força, e meio segundo depois, o teto despencou.

Foi rápido demais. Com um estrondo enorme, quase tudo acima deles desmoronou, com uma nuvem de poeira. Uma viga de ferro caiu bem ao lado de Noah. No meio de toda aquela poeira, o rapaz olhou para Sina e ficou extremamente aliviado ao perceber que ela também não tinha se machucado. Eles tinham escapado por muito pouco.

A sala de estar agora era apenas um monte de escombros. Noah olhou mais uma vez para a viga que tinha despencado do teto e caído a centímetros do corpo dele. Foi aí que ele percebeu: se Sina não o tivesse empurrado, aquela barra de ferro enorme teria esmagado a cabeça dele. "Ela acabou de salvar minha vida", foi o que passou pela cabeça de Noah naquele segundo.

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Deixem a estrelinha ⭐

Xoxo Anny 🥂

SOB O MESMO TETO - NoartWhere stories live. Discover now