19. A entrevista

3.3K 227 22
                                    

Alice

Rocei de leve meus dedos em meuss lábios, lembrando-me e tentando sentir os vestígios do beijo que eu sabia que não se repetiria. Não por um querer meu e sim da parte dele. Mas esquecer seria impossível, e prometer que esqueceria isso eu não poderia fazer. Essa seria uma boa lembrança para guardar.

Espantei os pensamentos impuros da mente sim que ouvi seus passos do outro lado da porta. Depois daquele beijo há dias atrás, aquela era a primeira vez que nos víamos. Preferi ficar mais afastada, Ethan tinha passado por seus conflitos interpessoais e ficar presente o tempo todo não ajudaria em nada.

― Oi!!! ― Petrificou a me ver, logo desviando os olhos. Presumi que ele ainda tinha vergonha de me encarar depois do que aconteceu.

― Oi. ― falei normalmente. Diferente dele aquele beijo não me abalou tanto. Foi apenas um beijo.

― A segurança desse prédio é péssima. ― maneou a cabeça. ― O porteiro deixa as pessoas entrarem sem autorização. ― olhou-me rapidamente.

Por mais que seu comentário tenha sido grosseiro eu não me deixei abater, eu era uma criança aos seus olhos, e criança levava tudo na esportiva.

― Sou um anjo. ― dei um largo sorriso sarcástico. ― Você está com medo de mim? ― uni as sobrancelhas ao perguntar com intrigada.

― Medo de você. ― fez pouco caso forçando uma gargalhada.

― Então não há o que temer. ― adentrei sem esperar convite, largando a mochila na sala que eu tinha o ajudado a arrumar. ― Mas o porteiro me conhece desde pequena. Não sei se você se lembra, mas te disse que uma amiga minha mora nesse prédio. ― esclareci.

O Calor, o porteiro era uma boa pessoa e não merecia ser chamado a atenção por isso.

― Tenho uma vaga lembrança. Mas o que trás sua honrada presença ao meu humilde lar? ― Fechou a porta atrás de si e cruzou os braços a espera da resposta, sem me olhar em nenhum momento.

Eu pensei que ele fosse mais adulto, mas acho que me enganei, a adulta aqui era eu.

― Temos um trabalho a fazer se lembra? ― sou objetiva, não quero estar em um lugar que pareço não ser bem vinda por muito tempo. ― Você se lembra né? ― insisto.

― A tal entrevista?

― Exatamente... Preciso adiantar isso hoje, não vou poder aparecer nos últimos dias. ― invento uma desculpa. ― E creio que você tenha suas coisas para fazer. ― me ajoelho no chão abrindo a mochila e tirando caderno e caneta. ― Relaxa Ethan, você está na sua casa, fique a vontade. ― Direcionei o sofá a minha frente para que ele se sentasse. ― da pra sentir sua tensão.

― Não estou tenso. ― ouviu o conselho e se sentou.

― Vou ser breve, apenas perguntas simples. ― Escrevi um número um no início da folha. Mas tive uma ideia melhor. ― Você se importa se eu gravar um áudio? ― Já preparava o gravador de áudio do celular, sem ele ter concordado ou não.

― Por que você não escreve?

― Porque estou com preguiça e assim fluirá melhor e mais rápido. ― Desviei os olhos da tela para responde-lo.

― Por que está com tanta pressa?

― Porque sinto que não sou bem-vinda.

Ele emudeceu. Dava para escutar seu cérebro trabalhar na tentativa vã de formular uma desculpa.

― Não é isso... só que o clima está estranho.

― Porque você insiste em continuar pensando nisso. Esquece isso Ethan. ― disse em tom de ordem.

Desapego - IMCOMPLETOWhere stories live. Discover now