Capítulo 6: E as estrelas irão oferecer sua proteção

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An Zi abriu os olhos.

E estava sozinho.

Ele não estava mais no lago, muito menos no bambuzal. Olhando para os lados percebeu que estava em uma rua bem movimentada, já estava anoitecendo...por que havia tantas pessoas?

Olhou para si

Ele era pequeno...muito pequeno, estava em uma memória de infância. Sua túnica azul escura era de material simples e grosseiro, porém limpo.Concluiu então que era uma criança pobre, mas bem cuidada. Mas onde estavam seus pais?

Tentou dar algum passo, mas não conseguiu sair do lugar, seus pés pareciam grudados no chão.

Foi aí que lembrou que estava em uma lembrança e, se Zichen não saiu do lugar naquele dia ele também não poderia sair. Tentou emitir algum som, mas sua boca não abria também.

"Estou aqui apenas para observar...e sentir" - concluiu seu pensamento quando um adulto esbarrou nele com força, sem olhar para trás, mas o menino voltou teimosamente para o lugar onde estava sem os comandos de An Zi.

A rua estava decorada com lanternas, haviam barracas vendendo comida ao seu redor e o movimento de pessoas estava aumentando a cada minuto, ele estava no meio de algum festival...ano novo? Festival das lanternas? Apesar do Clã An permitir passeios na cidade, raramente saiam em épocas festivas para evitar a perda de discípulos e a maioria não era muito chegada ao movimento intenso do período, devido ao convívio tranquilo nas colinas.

O tempo passava estranho, mesmo tudo calmo ao seu redor, sentia que estava anoitecendo mais rápido que o normal. Isso significava que ele ficou parado aqui por horas?Assim que percebeu isso seus pés começaram a ficar doloridos, e a brisa fria da madrugada arrepiava sua pele. An Zi queria se encolher ou ir para algum lugar mais quente, mas ele não controlava esse corpo.

Zichen não se mexeu

As pessoas passavam desviando do menino estático como se fosse um objeto qualquer, mesmo ele estando sozinho em uma noite fria. O cheiro da comida das barracas penetrava em suas narinas em teimosia. An Zi não tinha fome, mas ao sentir o aroma o corpo regia de imediato em uma sensação desconfortável, seu estômago parecia estar afundando em seu corpo.

Há quantas horas ele está parado aqui? E por quê?

A lua estava cheia e brilhante, exatamente como quando ouviu seu nome sendo sussurrado e encontrando Bai Long. Apesar de estar sozinho, com fome e com frio, olhar para ela o fez se sentir seguro. A multidão começou a empurrá-lo do caminho, pessoas nobres em grandes cavalos estavam passando pela estrada acumulando pessoas nas laterais. Não teve escolha a não se obedecer.

Toda a aglomeração o fez ser empurrado cada vez mais para dentro, batendo com força na parede de alguma construção...um restaurante talvez? Pelo menos encolhido ali ficava longe dos empurrões. Zichen conseguia ver vagamente os cascos dos cavalos passando ao olhar para o chão, mas era baixo demais para olhar os nobres em cima destes. Percebeu que uma criança não muito maior que ele estava nos ombros de um homem.

"Onde está o nosso pai, Daozhang Zichen?" - pensava angustiado, os seus sentimentos de dúvida estavam misturados os sentimentos de medo e abandono sentidas pelo dono daquelas memórias fazendo tudo ser ainda mais intenso dentro de si.

Quando os cavalos passaram e a rua estava voltando ao seu movimento um tumulto começou. An Zi começou a ouvir insultos altos vindo ao longe e pessoas sendo empurradas, vultos passavam entre elas com fluidez .

"Ladrão!"

"Mendigos miseráveis!"

"Segurem os dois!"

"Peguem-nos!"

"Pestes malditas!"

Um vulto foi segurado pela gola, era uma criança, talvez de uns 10 anos. Zichen ficou assustado com o olhar feroz do homem que o segurava, logo o menino foi erguido do chão com apenas uma mão. Aquilo fez An Zi sentir medo também. O garoto capturado lutava para escapar, parecia um peixe recém pescado. Uma grande quantidade de homens começou a se reunir em volta da presa. Com a atenção voltada para um certo indivíduo, as demais crianças fugiam silenciosamente por entre as pessoas. De repente sua mão foi segurada por alguém mais alto que o puxou rapidamente para o beco mais próximo.

Zichen não teve tempo de reagir.

- Não pode ficar tão visível, aqueles homens irão pegar você e as coisas que roubou. Deveria estar fugindo - levantou o olhar para quem estava falando. Era um adolescente como An Zi, mas estava com as roupas terrivelmente sujas, com uma trouxa de tecido nos ombros. O que ele disse mesmo? Roubar? Fugir?

- Não roubei! - Zichen disse levemente zangado

O rapaz franziu as sobrancelhas, escondendo ao máximo o fato de que achou o menininho muito fofo.

- Não? - o que fez a pergunta colocou as mãos na cintura e assumiu uma expressão exagerada de surpresa - Todos aqui roubam, se não veio roubar, o que faz aqui?

- Minha mãe me mandou esperar aqui - respondeu sem encarar o mais velho, andando para fora do beco.

An Zi finalmente começou a ter explicações

Zichen estava parado na rua há horas esperando sua mãe...mas quem largaria o filho por tanto tempo dessa maneira?

"Oh céus...por favor, não..."- enfim entendeu tudo e o mais velho provavelmente desconfiava disso também.

- Mesmo? Já está ficando bem tarde...- disse seguindo Zichen. O tumulto havia passado, provavelmente a criança antes pescada foi levada para outro lugar e o movimento voltou ao normal.

Ele realmente voltou, mas dessa vez ficou com as com as costas encostadas na mesma parede de mais cedo. O que observava estava chocado e com pena da insistência dele e se sentou no chão ao lado deste com as pernas cruzadas.Isso os fazia ficar com alturas semelhantes.

- Ah, minhas roupas já estão sujas mesmo, não tem porquê não me sentar no chão- disse sorrindo e seu argumento funcionou, fazendo o mais novo também se sentar - Sua mãe disse quando iria voltar?

- Logo - respondeu brevemente como se soubesse o significado da palavra, estava apenas repetindo o que a mãe havia dito.

- Hm, esperarei por ela com você - o mais velho ajeitou a trouxa no colo e abriu-a, revelando várias coisas aleatórias dentro, incluindo uma outra trouxa menor com restos de comidas. O cheiro indicava que eram oriundos de pratos diferentes - Você deve estar com fome - estendeu a comida para o garotinho.

A cara do alimento não era nada convidativa para An Zi, mas Zichen estava com fome há horas e aceitou rapidamente, comendo com as mãos. Ele não negou ou aceitou a companhia daquele ao seu lado, pelo menos estava aliviado por não estar mais sozinho.

"Ele sabia que eu acabaria morrendo aqui " - An Zi nunca sentiu tanta gratidão por alguém, mas Zichen era novo demais para entender tal coisa.

Seu estômago suspirava de alívio, mesmo não estando saciado. Ficaram em silêncio por um tempo. Era uma cena tristemente cômica ver dois meninos sentados no chão um do lado do outro sem emitir qualquer som. Logo a exaustão guardada chegou aos ombros do mais novo que desmaiou de sono, caindo para o lado. O mais velho o segurou para que não acabasse esparramado no chão de mal jeito.

As pálpebras de Zichen estavam fechadas, ele estava dormindo. Mas An Zi estava acordado em sua mente e conseguia sentir os toques do mais velho que o cobriu com um tecido, sendo uma tentativa quase inútil de mantê-lo protegido do frio, em seguida levou o ao seu colo. O discípulo do Clã An se assustou um pouco com o abraço repentino que recebia, aquele rapaz era realmente muito protetor...e ele se sentia completamente seguro.

Apesar das circunstâncias, era um sono tranquilo

- Parece que ganhei um irmãozinho. Não se preocupe, sei o que está sentindo. Eu estava sozinho, mas prometo proteger você - a voz veio de cima em um sussurro.

An Zi percebeu que os dois sabiam o que estava acontecendo.

A mãe de Daozhang Zichen nunca mais voltaria

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Além do que os olhos podem ver - SongXiao - Xiao XingChen e Song Lan  Onde histórias criam vida. Descubra agora