cap. 24 | ken

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Ken

Ano retrasado eu viajei com meus pais e Lulu para Baía do Sancho, em Fernando de Noronha. A praia era maravilhosa. Talvez a mais linda do país. Havia um quiosque beira mar, onde compramos diversas daquelas bugigangas de recordação. Camisas estampadas, chapéus de palha, pequenas esculturas feitas à mão. No meu caso, em particular, diferentes tipos de braceletes de couro. Até então, eu nem me lembrava que eles existiam, mas desde o começo do ano, tenho os usados todos os dias. Encima dos meus cortes.

Eu estava no banheiro, acabando de me vestir. A noite estava quente, mas como meus pulsos doíam pelo contato do couro, decido os substituir por uma jaqueta de mangas compridas. Uma festa me aguardava lá embaixo, frente ao campus, organizada por ninguém menos que Glamour Angel Evans. Com certeza não foi fácil convencer a nova diretora casca grossa, mas a número um deu seu jeito (ter pais que eram sócios da academia ajudava). A festa de boas-vindas "atrasada" para os calouros era uma tradição. Podia ser realizada se não houvessem bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de droga, mas obviamente haveria. Os ponches seriam batizados, e se você quisesse ir um pouco mais longe e puxar uma verdinha, sempre existia um cantinho às escuras para se esgueirar.

– Ken! Anda logo! – Filipo berra. Ele está do outro lado da porta, no meu quarto.

– Já tô saindo. – Jogo dois comprimidos dentro da boca.

Vejo Filipo deitado contra minha cama, assim que deixo o banheiro. Suas sobrancelhas se arqueiam, enquanto eu vou parar bem de frente a um espelho de corpo todo.

– Tá doente? – Ele pergunta.

– Não.

– E por que tá de jaqueta? – Ele exibe seus músculos. Está usando apenas uma regata preta colada.

– Porque ela me deixa gostoso.

– Concordo. – Filipo se levanta e vem parar bem atrás de mim. Reviro meus olhos quando ele tenta me agarrar a força, com um sorriso debochado. – Quer ser meu namoradinho agora que o Mio te deu um pé na bunda?

– Cala boca, arrombado. – O desgrudo do meu corpo com uma cotovelada.

Filipo se distancia, dando risada.

– Essa vai ser a melhor festa de todas! – Ele parece animado. Animado até demais. Quando o encaro de volta, percebo que está escondendo alguma coisa.

– Como assim? – Questiono.

– Relaxa. – Filipo comenta, sonhador. – Só o que eu posso dizer, é que nosso "amigo", o Hugo, nunca vai esquecer.

Saímos da ala leste alguns minutos depois. O prédio está praticamente vazio. A julgar pela quantidade de estudantes que se encontram no campus, a situação deve ser a mesma na ala oeste. Os veteranos e os novatos estão misturados por todo o lugar. A música soa frenética. Filipo e eu logo batemos de frente com uma mesa de bebidas. Nem era necessário provar o ponche para saber o que haviam jogado ali dentro. Até o cheiro do álcool era capaz de te deixar tonto.

– Quer um copo? – Filipo já vai logo enchendo dois.

– Não. Tô de boa. – Respondo. É claro que eu queria entornar, mas não sabia se era uma boa ideia misturar com os calmantes.

– Não te dei escolha. Bebe essa porra. – Filipo força o copo contra minha mão, então acabo pegando.

– Sabia que você é mongoloide? – Falo.

– Sabia. – Ele responde, com um sorriso.

Um aglomerado de pessoas abre espaço. Logo descubro que é para Glamour atravessar. Está usando um vestido vermelho sangue, na linha dos joelhos, de um ombro só. O batom é da mesma cor, criando um contraste perfeito. Na cabeça, uma tiara pesada de brilhantes, amparando suas longas ondas castanhas que se espalham pelas costas. Mas não está sozinha. Um grupo de garotas com narizes empinados a perseguem, feito um bando de cadelinhas. E claro, Hugo também.

Perfeitos [✓]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang