▪︎ ventuno

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Meu relógio biológico me desperta sem que eu perceba

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Meu relógio biológico me desperta sem que eu perceba. Sinto os raios de sol atravessaram as finas frestas da cortina e singelamente pairarem sob minha pele em meio a penumbra do meu quarto.

Olho para o lado e angelicamente Michela ainda dorme. Tiro de cima do meu corpo o edredom que me cobre e me levanto com movimentos leves para não acordar minha esposa.

Tomo um banho lento e relaxante a fim de ativar todas as minhas moléculas para mais um dia. Mesmo sendo sábado me comprometi a passar o dia com meus filhos já que Michela precisa revisar e concluir algumas questões de sua nova coleção.

As últimas semanas não tem sido fáceis, só sei remoer aquele maldito dia o tempo inteiro, ora me culpo por ter deixado meu orgulho se esvair daquela forma, ora a saudade aperta meu peito me causando uma dor e um incômodo quase físico.

Eu não consigo entender o que me liga a ela, Lorena desperta meu lado mais animalesco e irracional, meus instintos mais primitivos são automaticamente acionados só de pensar nela. A última vez que tive essas sensações eu era um viciado e mesmo estando mais de vinte anos sem consumir nenhuma droga a não ser o álcool lembro-me exatamente da sensação, da dependência, da intensidade e da força que aquilo tinha sob meu corpo como se eu fosse uma marionete.

É o que ela me causa.

Depois de quase três décadas estou aqui novamente em abstinência, mas dessa vez a droga é ela. A droga é aquela personalidade cativante, aquela voz suave, aquele carinho.. aquele corpo.

Ah, aquele corpo..

Que saudade.

O incômodo que vem me acompanhando nas últimas semanas me toma mais uma vez fazendo eu amaldiçoar minha mente traidora por me deixar tão dependente de alguém que não está aqui.

Me sinto tão impotente e estúpido, rendido de uma forma extremamente exacerbada. Lorena pra mim é como uma entidade divina da qual sou passivamente servo, reverencio sua imagem em minha mente todos os dias, endeuso seu corpo e seu sorriso como se ela fosse uma deusa.
Me dói saber que agora tudo isso será retido no meu coração, nunca mais poderei contempla-la frente a frente, tampouco senti sua pele molhada e suada encostando na minha.

Gostaria de entender o porque da injustiça de ser totalmente apaixonado por aquela que nunca será minha. Nunca será minha porque tenho uma família, uma vida estruturada e equilibrada da qual sou eternamente grato.

Ainda que eu a ame existem incontáveis empecilhos que não permitem qualquer possibilidade de ficarmos juntos.

Termino de tomar meu cappuccino e me levanto da mesa de jantar. A casa ainda está vazia, só eu e Fátima despertamos, mas logo todos estarão aqui em baixo reunidos para o desjejum.

Caminho até o jardim e começo a caminhar entre as poucas e minimalistas flores presentes ali, averiguando delicadamente se o jardineiro vem fazendo um trabalho digno das minhas preciosas.
Assim que me aproximo das rosas agacho diante delas observando suas pétalas intensamente vermelhas e reluzentes. Respiro fundo sentindo o aroma delas suavemente invadirem minhas narinas como um delicado perfume francês. Passo a mão levemente pelas pétalas sentindo a suave textura delas e sorrio satisfeito com a beleza cativante presente ali.

SFOGARSI Where stories live. Discover now