X

33 5 0
                                    

Um pássaro cantando sobre liberdade enquanto está preso em uma gaiola. Vazio e procurando incessantemente por um sentimento que o faça sentir vivo.

  Aqueles eram sentimentos tão conhecidos por mim que aparentava ter sido eu mesma quem o escreveu naquele livro, que julgo, agora, ser um diário. Abaixo de tais frases, encontrava-se um desenho, de um pássaro em uma gaiola, observo o traço e logo pego um dos meus cadernos que estavam na bolsa abrindo na última folha e lá estava, o mesmo desenho, o mesmo traço…

   Folheando outras páginas me deparo com outra partitura, eu sentia conhecer aquelas notas, guardo novamente as minhas coisas saindo apenas com o diário a procura de uma sala de música, nos corredores pergunto a uma aluna onde ficava e ela informou-me. 

 Por sorte, ao chegar lá, não havia ninguém, sento-me no banquinho ponto o diário aberto na página da partitura. Respiro fundo, uma, duas vezes. Minhas mãos estavam tremulas e minha respiração estava curta, sentia-me ansioso por aquilo, mas, em simultâneo, incerto daquele sentimento conhecido, eu realmente deveria ir atrás dessas respostas? O que eu encontraria? E eu irei gostar disso? 

  Eram tantas interrogações em minha mente… e respirando fundo novamente toco a primeira nota, seguida da segunda e da terceira, na quarta meus dedos já seguiam livremente martelando as teclas do piano com intimidade, meus olhos se fecharam e apenas minhas mãos trabalhavam avidas, tocando uma canção que parecia uma velha amiga, eu não precisava ver as notas que precisava tocar, meus dedos já sabiam o caminho e então me recordo, de toda o cantarolamento, de todos os dias que murmurava esta melodia que se prendia em minha mente, ela sempre esteve lá, eu a conhecia, mas nunca a reconheci.

 Meu coração palpitava, como se eu corresse uma maratona, o folego me faltava e de olhos cerrados eu deixei que a sensação me levasse, que os pelos eriçados do meu corpo me acordassem de anos de sono e que cada som me contasse a história que eu deveria saber. As imagens iam e vinham, borradas e sem sentidos, frases e sensações, apenas o sentimento de lembranças que se perderam no tempo. Até que, finalmente, fosse nítido.

  “ — Como tocaste divinamente bem, é como ouvir o som dos anjos.

   — Creio que não seja para tanto, mas fico encantado com o elogio.

  —  Eu julgo que sim, assim como tenho certeza que o céu é azul, tenho certeza que tu tocaste como o anjo que és.”

  Eu só conseguia ver um piano a minha frente, mas as vozes eram límpidas, uma delas era a minha, e não havia dúvidas, porém, a outra me era muito familiar, já havia ouvido ela outras vezes, mas por alguma razão não a reconhecia, sempre havia uma névoa sobre os meus sentidos.

  Sinto o calor de uma mão pousar sobre a minha destra, assusto-me abrindo os olhos e não vendo absolutamente nada. Eu continuava sozinho.

 Segundo a minha avó, eu teria que descobrir muita coisa por mim mesmo, mas eu não sabia como, tudo era confuso demais e eu ainda estava carregado de medo.

· · • • • ✤ • • • · ·

   Já era horário de almoço e Hiuningkai fez questão de me acompanhar até o refeitório, ele falava bastante e me contava sobre como era tudo por ali, as rotinas, as aulas, os seus amigos, os professores. Parecia que aquele internato era realmente muito legal e eles pareciam amar o local.

— Vocês realmente gostam daqui.

— Sim, nós gostamos. É bom ter um lugar onde podemos ser nós mesmos sem nos preocupar com o que vão pensar de nós, somos livres e ninguém vai olhar com medo para a gente aqui dentro. 

O anjo de asas negrasOnde histórias criam vida. Descubra agora