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Transcorreram alguns dias desde que fiquei ciente da informação sobre o tal easter egg. Até o exato momento, nenhum dos usuários que ousaram se expôr a tentativa, conseguiriam de fato pôr as mãos no artefato cogitado. Assim como as promessas de premiações finais durante as temporadas, o objeto começou a tomar uma denominação de boato, uma fórmula para gerar marketing em cima do novo evento. Desse modo, cada vez menos pessoas se expuseram ao risco de uma zona de combate para buscar algo que podia não passar de senso comum.

No meu caso, eu estava deixando as semanas passarem e o fluxo de visita da região diminuir para conseguir averiguar essa história. Durante esse tempo, ajudei o D com a taverna e com a sua ideia mirabolante de construir uma sala de jogos para a freguesia. Nesta ocasião, o estabelecimento recebeu, quase todos os dias, uma fila de usuários interessados nos fliperamas à moda antiga. Eu até contribui com alguns Scripts básicos para inserir jogos de luta mais modernos no equipamento padrão e atrair usuários mais jovens. Dentre estes, não esqueci de um jogo que se fez presente na minha infância, o Soulcalibur III, um pouco mais antigo do que outras versões modernas e mais conhecidas de Street Fighter e Mortal Kombat os quais estavam na taverna, contudo, ainda sim, muito chamativo devido ao design que mais lembrava um RPG. Eu ofereci a D o pouco que esbanjava de conhecimento em programação, conforme a noção básica que necessitei ter em meu atual emprego, e repliquei esse aprendizado dentro das infinidades do SPES, como forma de amparar um velho amigo.

No atual instante, meus dedos pálidos percorriam freneticamente os botões indiscretos do fliperama robusto, comunicando-se ao mesmo tempo com a minha memória, em busca dos comandos adequados para executar os golpes e enviá-los ao personagem que estava controlando no meu queridinho fighting game. Eu não conhecia o adversário que instrua o jogador número dois, e nunca havia o visto na taverna, mas estava me divertindo com o ato de procurar nas minhas gavetas cerebrais, o retorno das minhas habilidades enferrujadas.

— Incrível Celeste! Você ganhou mais uma vez! — Indagou D já pasmo, com seus grandes olhos arregalados de surpresa, após parar as ações que executava anteriormente para observar a partida.

Não é como se eu fosse profissional, os jogadores que não eram experientes o suficiente com o Soulcalibur III. Nos meus primeiros rounds, conduzi poderes que não fazia a minha ideia de como havia iniciado, entretanto, com a jogatina, relembrei das sequências e me permitir ganhar mais experiência, ficando um pouco imbatível em relação aos outros recordes tentados no lugar. Já que eu gostava muito de jogos de luta quando criança, não era tão impressionante que acontecesse isto, e como sempre, eu adorava conduzir uma personagem feminina.

— Sem lisonjeio, D! É exagero seu o que impõe em meu nome. — Retruquei de maneira descontraída, posto as mãos em minha cintura, deixando de lado o joystick.

— Começarei a lançar alguns desafios aqui na taverna com o intuito de compensar através de promoções, quem conseguir lhe derrotar. — Ele abre uma larga risada como se estivéssemos sozinhos no espaço.

— Não me faça o centro das atenções, por favor. — Olhei para o ogro fixamente e me deixei rir de suas brincadeiras.

Ao cessar por completo da partida, entreguei o controle do jogador número um para outro entusiasmado na fila, uma sequência que se perdia junto às outras na sala, como um plano de fundo para o verdadeiro espetáculo. Alguns avatares que constituíam a minha plateia resmungaram aos sussurros quando encerrei o entretenimento deles e a graça da tentativa falha em me abater. Todavia, o dever me chamava, pois durante as disputas, eu havia auferido algumas mensagens emitidas pelo grupo da guilda o qual mantenho envolvimento, e estavam recrutando membros para uma cerimônia de inicialização destinada aos novatos. Logo, eu abri o box de mensagens e dedilhei as palavras enquanto as recitava mentalmente.

SPES: The gameOnde histórias criam vida. Descubra agora