Capítulo IV; Pílula

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- Quer falar sobre isso, Harry?

Nos primeiros minutos pensei em ignorá-lo e fingir que tudo estava bem, talvez assim eu aceitasse que tudo o que Quirell disse seria apenas um pesadelo sem sentido e uma mentira completa. Uma mentira que não queria acreditar que era verdade. Mas Draco parecia pronto para me fazer falar por qualquer meio possível, seu olhar inquisitivo tentava arrancar alguma coisa de mim, qualquer informação útil para explicar minha expressão triste desde o início da manhã. Se ele suspeitava que isso tinha alguma ligação com o berrador do dia anterior ou com as tentativas de Harley de me dar um troco por tudo o que eu o tinha dito, ele não fez menção de comentar nada. Ao invés disso, ele se sentou sobre a mesa e assistiu eu beber uma pílula atrás da outra que Madame Pomfrey, a medibruxa da escola, me receitou para o meu pequeno problema.

A água em minha boca tinha um gosto tão ruim que levei quase dois minutos para engolir, descendo como ácido por minha garganta e me fazendo tremer em meu assento. As pílulas me deixaram com um ar sonolento e deixei minha cabeça descansar na mesa enquanto enfiava os frascos de remédio de volta em meus bolsos. O silêncio da biblioteca era bem-vindo para acalmar meus nervos e a dor que dominava a minha cabeça, dolorosa, fazendo pontos estranhos dançarem em minha visão. Me esforcei para dar uma rápida olhada para meu amigo e ele ainda carregava o mesmo olhar afiado e terno que vim a conhecer há alguns dias. Era algo que me fazia fraco, sentimental e eu o odiava por isso. 

Odiava que ele se importasse comigo porque uma parte de minha mente me dizia que ele iria me deixar assim como meus pais fizeram, como se um nó se enrolasse na minha garganta toda vez que ele era gentil comigo. Era terrível, mas queria mais disso. De sua gentileza e amizade. E sem força para o contestar ou enrolar mais do que já havia feito, resolvi contar para ele sobre os acontecimentos e empurrei esses pensamentos para o fundo de minha mente, tentando manter um sorriso descente no rosto enquanto minha voz oscilava de sono. Impedi o bocejo e me forcei a soltei tudo de uma vez.

- Eles me expulsaram da linhagem dos Potter, meus pais ou ex-pais? Enfim, eu nem mesmo tinha controle sobre a seleção. Mas acho que foi melhor assim, eu queria mesmo estar na Sonserina. - Comentei num tom resignado. Já havia me conformado com a minha nova situação e pensava com calma em meus próximos passos. Planejava ficar no Caldeirão Furado durante as férias ou quem sabe, ir visitar cada um de meus amigos como um pequeno parasita. Seria divertido. Draco se inclinou e fez um gesto para que eu continuasse falando. Ele podia não dizer nada, mas era ótimo em saber o que as pessoas pensavam e sentiam. Talvez porque ele mesmo guardava seus pensamentos e sentimentos bem dentro de seu coração. 

- E Quirell me contou sobre um fenômeno peculiar... Ou, ah, uma doença, melhor dizendo, que acontece quando se é expulso da árvore genealógica. Eu nem sabia que isso era possível?

O silêncio que se seguiu foi proposital, enquanto o louro me olhava com confusão aparente, processando tudo o que dissera. Assisti cada uma das emoções que passavam pelo rosto dele, mordendo os lábios. Depois de alguns minutos em que somente os sons de passos e vozes abafadas eram ouvidas do lado de fora da sala, realização pareceu o atingir com força total e ele arregalou os olhos, se impulsionando para frente e olhando para todos os lados enquanto tentava pensar em alguma coisa. Qualquer coisa que pudesse me ajudar, palavras e frases, que eu não entendia, saindo de sua boca como uma cachoeira prestes a jorrar. Sem dúvida, como um puro sangue, ele deveria saber disso mais do que eu. E a expressão dele também não era das melhores. Sem esperança.

- Não posso dizer que nunca houveram expulsões da família Malfoy antes, mas... - Draco parou por um momento, fechando os olhos com força como se ele precisasse se lembrar de algo super importante. Mas eu estava mesmo é surpreso que Malfoys, sempre tão puristas, pudessem ter sido expulsos antes. Me perguntava o que deveria ter acontecido para isso, mas não tive tempo de o perguntar sobre isso. - Se você me desse a sua autorização, talvez eu pudesse mandar uma carta para meu pai explicando a situação e perguntando como podemos te curar disso. Você autoriza, Harry?

Laço PerdidoWhere stories live. Discover now