Capítulo 1: O início

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Ohm ainda não sabia como tinha chegado até ali. Tudo de que se lembrava era de ter ouvido seus amigos da faculdade dizendo que conheciam essa cartomante misteriosa e que ela poderia ajudá-lo a ter mais sorte. "Sorte em quê?", ele se perguntava. Não era o aluno com as melhores notas da turma, mas sempre havia acreditado que o conhecimento é mais importante que números e classificações. Não vinha de uma família rica, mas tinha estabilidade financeira. Tinha seus amigos para passar o tempo e, no geral, não tinha ambições maiores que levar uma vida tranquila.

Contudo, aqui estava ele diante da tenda da tal cartomante e imaginando como seus pés o levaram até ali sem a permissão do seu cérebro. Talvez seja porque quem o guiou foi um outro órgão um pouco mais abaixo: o seu coração. Porque se fosse totalmente sincero, existia algo que Ohm queria e sabia que jamais conseguiria: conversar com aquele garoto popular do curso de História da Arte. Enquanto Ohm pensava como a leitura de cartas ou uma bola de cristal poderiam ajudá-lo a conquistar seu crush, passava por ele um grupo de jovens barulhentos e com a coordenação afetada. Estavam bêbados demais para saber por onde caminhavam e acabaram empurrando Ohm para dentro da tenda.

Ok, se existia algum motivo para hesitação, ele foi removido de Ohm ali mesmo. "Talvez seja coisa do destino?", foi um pensamento que passou por sua mente enquanto analisava o interior da tenda da cartomante. Como não tinha ninguém à vista, ele aproveitou para analisar o ambiente sem aquela polidez obrigatória que convém às visitas inesperadas e as impede de observar os detalhes.

A tenda tinha uma iluminação âmbar, dando aos objetos no seu interior um aspecto etéreo. Se alguém dissesse que foi a própria Sininho quem arrumou o lugar, Ohm acreditaria. Ele sentia algo mágico ali dentro. Ou, talvez, fossem apenas as suas esperanças ditando o tom do lugar. De todo modo, ele não teve mais tempo de criar comparações para os efeitos que visualizava porque uma mulher apareceu de repente à sua frente.

─ O que o traz aqui, Nong Ohm ka? ─ A mulher verbalizou com sua voz rouca e um olhar presunçoso.

Ohm se poupou de perguntar como a mulher sabia o seu nome, já que provavelmente, seus amigos a haviam alertado da sua visita. Ele queria uma ajuda da "Sorte", mas não era ingênuo a ponto de acreditar em qualquer truque fantasioso. Ao invés disso, agiu como se estivesse num clima comum e com o qual sabia lidar:

─ É isso que P' vai me dizer krup? ─ Sabia estar sendo infantil entrando no jogo da suposta cartomante, mas seu lado brincalhão não podia evitar.

─ Oh, pois bem! Sente-se aqui e falaremos sobre seus motivos para esta visita! ─ A mulher disse enquanto eles se sentavam nas cadeiras diante de uma mesa que Ohm ainda não havia notado, como se tivesse brotado do ar sem dar sinal disso.

Agora que estava sentado diante da mulher, Ohm notou que ela não devia ter mais que 30 anos. Na verdade, removendo a maquiagem pesada e a peruca (que ela definitivamente estava usando), talvez ela fosse apenas 2 ou 3 anos mais velha que ele. Contudo, antes que Ohm pudesse analisar mais a fundo a aparência da cartomante e encontrar boas respostas para o que viria em seguida, ela atraiu sua atenção dizendo o seguinte:

─ Vejo que sua vida no campus é bastante agitada. ─ Ok, primeiro erro aí. Ohm tentava se afastar de tudo que remetesse ao mais leve sinal de agitação. Ele preferia a segurança e estabilidade a troco de qualquer emoção repentina. Mas ela continuou traçando padrões de comportamento genéricos para universitários desta geração: ─ Você está procurando uma vaga de estágio e pode ser que consiga em breve. Contudo, se não tiver esta confirmação é porque algo maior está reservado no seu futuro. ─ Como eu disse, genérica.

Percebendo que Ohm estava se distraindo e perdendo o interesse na sua fala, a cartomante resolveu arriscar sobre o outro tema tão popular entre pessoas de todas as idades: o amor.

─ Mas o que o traz aqui hoje não é nada disso. Você está apaixonado! ─ Ohm recuperou o interesse na fala ensaiada da mulher que continuou: ─ Vejo que o seu futuro guarda um grande amor, basta falar com ele. Os olhos lhe dirão a resposta! ─ Ohm não conseguiu evitar a risada de escárnio.

Aparentemente, isso irritou bastante a cartomante que se levantou batendo na mesa e assustando o rapaz. Algumas oitavas mais alto do que estava falando antes, ela anunciou em tom de ameaça algo que pendia entre um encantamento e uma maldição:

─ Você que se recusa a olhar nos olhos de quem ama está destinado a apreender todos os olhares que encontrar! ─ Ao terminar a frase, a mulher se jogou na cadeira como se tivesse sido empurrada por alguma força invisível e perdeu os sentidos.

Logo depois que a cartomante acordou e garantiu que estava bem, Ohm quis pagar pelos seus serviços (mais por remorso e menos por acreditar nas palavras dela), mas ela se recusou. "O preço que você vai pagar é mais alto que qualquer taxa que eu possa cobrar. Encare como um desconto amigável.", ela disse sem maiores explicações e quase o empurrando para fora da tenda.

Caminhando sem direção outra vez, pois ainda não queria voltar para o dormitório estudantil, Ohm se viu em frente a uma loja de bubble tea e resolveu entrar para comprar um. Quando chegou a sua vez na fila, disse seu pedido, mas percebeu que a moça do balcão não se movia. Ele repetiu, experimentou estalar os dedos, tentou dar um susto nela, mas nada adiantou. Quando virou para olhar em volta em busca de algo que explicasse aquele comportamento, percebeu que todas as pessoas dentro do estabelecimento continuavam suas ações naturais. Ao voltar a atenção para a atendente, percebeu que ela havia saído para preparar o seu pedido.

Quando a atendente voltou e o entregou o bubble tea, evitou olhar nos seus olhos e disse que era por conta da casa. "Estranho!", Ohm pensou, já que nunca havia comprado ali antes e não sabia de nenhuma promoção ativa no momento. Enquanto parava na calçada esperando para atravessar a faixa, reparou que havia algo escrito à mão no rótulo do copo de bubble tea.

"Caso queria sair uma hora dessas, me chama no Line!"

A frase vinha seguida do perfil do Line e vários corações desenhados ao lado. "O que aconteceu aqui?", era a única pergunta lógica que Ohm conseguia se fazer no momento.

O encanto do seu olhar Where stories live. Discover now