Capítulo 6: Encontrando você - Parte 2

375 52 6
                                    

Foi preciso paciência e algumas repetições para conseguir transmitir e receber os pedidos, porque a mulher parecia enfeitiçada por Ohm, mas eles finalmente estavam sentados com uma fatia de torta para cada e dois cafés.

Agora que estava frente a frente com Ohm, Fluke se sentia ainda mais incapaz de elaborar uma conversa. Apesar de ser o mais velho ali, se sentia como um adolescente que estava saindo com o crush pela primeira vez. Na verdade, isso não estava de tudo errado, mas não mudava o fato de que ele precisava falar algo, já que Ohm parecia igualmente distante.

Fluke percebeu que Ohm havia ficado bastante frustrado ao fazer o pedido, mas tentava não demonstrar isso, apesar de falhar miseravelmente. Eles estavam sentados em lados opostos da mesa o que, teoricamente, lhes daria a chance de se olharem de forma direta, porém o oposto acontecia. Ohm tinha os olhos por toda parte: no creme da torta, na colher que usou para mexer o café, na paisagem noturna que era visível pela vidraça da janela, menos em Fluke.

─ Como foi a pesquisa, Phi? ─ Ohm perguntou de repente assustando Fluke que jurava que ele estava distraído a ponto de esquecer da presença dele ali. Parece que estava enganado.

─ Ah, foi tranquila! Sinto muito por ter me atrasado! ─ Fluke disse sorrindo no final.

Ohm que havia olhado discretamente em sua direção quase espelhou o sorriso, mas no último instante desviou o olhar novamente. Assim passaram durante todo o encontro: Fluke falava, Ohm interagia, mas logo desviava o olhar como se tivesse medo de alguma coisa.

Mesmo assim, Fluke não se irritou, pois havia percebido certo traço de timidez nos modos de Ohm. Apesar de muito educado e gentil, sempre perguntando a opinião dele ou sua versão sobre alguma história, acabava cobrindo a boca ao sorrir e sempre desviando o olhar evitando fazer contato. Era fofo de certo modo, apesar de absurdamente frustrante.

As tortas e os cafés foram consumidos, o assunto poderia se estender por muito mais, mas descobriram que o Café não ficava aberto depois das 22 horas e precisaram se despedir, mas decidiram se encontrar novamente na próxima semana. Fluke sentia que poderia morrer esperando 7 longos dias, mas valeria a pena para ver Ohm outra vez.

No dia seguinte, Fluke era quem se encontrava distraído nos próprios pensamentos e acabou chamando a atenção dos amigos.

─ Ei, o que tá acontecendo com você? ─ Pao perguntou enquanto balançava a mão na frente do rosto de Fluke como que para recuperar a sua atenção.

─ É verdade, você tá muito esquisito! Nem tá comendo seu macarrão! Tá passando bem? ─ Sammy completou as preocupações de Prem.

─ Bom, na verdade, tem algo me incomodando. ─ Fluke começou e tão entretido estava nas próprias teorias que esqueceu de comunicá-las à sua pequena plateia ansiosa que precisou recuperar mais uma vez a sua atenção. Então, ele continuou:

─ Ontem saí com o Ohm. Na verdade, nós só tomamos um café de forma bem informal. Eu mandei a mensagem dizendo que tinha que estudar e queria me encontrar com ele. Ele não questionou e foi. ─ Fluke disse com um suspiro no final.

─ Isso não é bom? ─ Sammy perguntou olhando de relance para Prem, buscando aprovação.

─ Ele não recusou, é um bom começo, Fluke! ─ Pao tentou animar o amigo.

─ Eu sei, mas tem algo estranho sobre isso. Ele não olhava pra mim! O tempo todo em que conversamos ele olhou pra todo lugar, menos pra mim! ─ Fluke disse apontando para o próprio rosto.

─ Ué, como assim? ─ Pao questionou.

─ Ele evitou te olhar? A noite toda? Não creio que ele acreditou em mim! ─ Sammy disse em tom assustado enquanto confirmava a última parte.

─ O quê? Como assim? ─ Fluke e Pao se viraram ao mesmo tempo para Sammy exigindo explicações.

Foi então que Sammy, enfim, explicou o acontecido naquele dia na tenda da cartomante que, na verdade, era um projeto do Clube de Teatro da Faculdade e do qual ela fazia parte.

─ Tudo bem que a tia de consideração da minha bisavó achava que era vidente, mas eu não imaginava que a minha performance tinha sido tão boa! ─ Sammy disse com certo orgulho na voz.

Fluke ficou incrédulo diante daquela informação, mas considerando o contexto que Sammy havia explicado, poderia ser possível que Ohm tivesse acreditado nela, sim. Aliás, o comportamento de desconforto que ele demonstrou ao repetir o pedido no Café na frente da atendente quase babando em cima dele fazia total sentido!

Desconfiando da grande probabilidade dessa nova informação que recebeu ser real, Fluke traçou um novo plano. Na verdade, o encontro que marcou com Ohm para o próximo final de semana seria a ocasião perfeita para tranquilizar o rapaz e, enfim, conseguir ganhar dele um olhar direto!

O encanto do seu olhar Where stories live. Discover now