Balões são barulhentos 🎈

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  O som de algo estourando no meu ouvido foi o que me despertou, dei um pulo mínimo ao me sobressaltar, meu estômago revirou em resposta.

  Meus olhos continuavam fechados enquanto eu associava onde estava e o que tinha acontecido.

  Eu havia levantado para arrumar a decoração da festa da minha mãe...

  Estava tudo pronto...

  Faltou balões...

  Eu saí para comprar...

  Uma van vermelha...

  Um garoto sorridente...

  Esse lugar úmido e frio no qual estou deitado...

  O cheiro doce e enjoativo...

  Um sedativo!

  Abri meus olhos rapidamente e me encolhi ao me deparar com dois pequenos olhos negros me encarando tão próximos. O garoto levantou a cabeça se distanciando de mim, se mexia de forma estranha, como um animal descobrindo algo.

— Está acordado? — Ele perguntou agarrando um balão negro que flutuava despreocupado.

  A van, eu estava dentro da van!

  Uma onda de pânico maior me abateu, eu queria gritar, mas minha boca estava dormente e meu corpo mal respondia aos meus comandos de se afastar daquele louco.

  Ele apertou o balão até estourá-lo, tremi com o som que soava dez vezes mais alto em minha cabeça.

— Eu perguntei, — Ele agarrou outro balão e, agachado, se aproximou de mim. — se está acordado! — Gritou. Sua voz era rouca e grave, senti a primeira lágrima escorrer pela minha bochecha, ele me assustava muito.

  Com muito esforço abanei a cabeça para cima e para baixo. Ele sorriu abertamente, como se não tivesse acabado de se zangar.

— Bom, bom, bom, — Ele concordava sorrindo enquanto puxava as cordas dos balões fazendo-os cobrir seu rosto. — eu também estou acordado. — Falou baixinho por trás daquele monte de cor que se misturava em meu cérebro ainda drogado.

— E-Eu q-quero ir emb-bora. — Falei com um soluço. O outro garoto afastou os balões parecendo horrorizado com o que eu havia acabado de falar.

— Embora? — Ele inclinou a cabeça para o lado, sua boca permaneceu entre aberta enquanto ele parecia pensar no significado da palavra. — Você quer ir emb-bora? Mas...mas, — sua feição ia mudando de confusa para chateada. — eu não comecei meu show! Eu não comecei MEU SHOW!! — Gritou estourando um balão com a boca.

  Me encolhi outra vez e acabei pocando um balão ao imprensá-lo no fundo da van. Ali dentro estava frio e escuro, o pouco de luz que entrava vinha das frestas dos panos que cobriam as janelas. O garoto se afastou para perto do banco do motorista, seu corpo passou pela luz criando uma sombra grotesca no chão.

— O q-que você q-quer de mim? Por favor, m-me deixe ir embora. — Choramingo ao sentir o início de um ataque claustrofóbico. Eu precisava sair daquele lugar pequeno, escuro e estranho.

— Eu amo balões. — Ele falou engatinhando na minha direção, tentei me encolher ao máximo quando o estranho deitou ao meu lado, ele encarou o teto da van com uma respiração descompassada, ao seu lado, pude sentir seu cheiro, convenientemente não era tão ruim. Açúcar queimado e pipoca, esses eram os cheiros do garoto. Porém havia algo a mais, se respirasse profundamente - como eu estava fazendo naquele momento em uma tentativa de não surtar - um odor azedo também estava presente, não era suor ou nada que eu já tivesse cheirado, era algo esquisito.

𝐛𝐚𝐥𝐥𝐨𝐨𝐧𝐬 | 𝐤𝐭𝐡 + 𝐣𝐣𝐤Where stories live. Discover now