Would You Erase Me?

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30 de Outubro de 2003 — Um dia antes do Halloween

Ele ainda não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Quer dizer, de modo geral, aquilo fazia muito sentido. Mas era difícil aceitar. Doía de modos muito específicos e quase físicos. Era como se um pedaço dele tivesse sido arrancado a sangue frio. Um pedaço que ele vinha mantendo com cuidado e afeto, diferentemente de todos os seus outros fragmentos. Um pedaço que levava junto o resto de esperança que fora cultivada nos últimos cinco anos.

Suas mãos tremiam descontroladamente enquanto ele caminhava até o conjunto de lareiras ligadas à rede Flu no térreo do Hospital St. Mungus Para Doenças e Acidentes Mágicos. Flu não era seu método de transporte favorito, mas entre as poucas certezas que tinha no momento, a maior de todas é que ele não estava em condições para aparatar. Numa tentativa frustrada de se controlar e não causar uma cena em público, ele inspirou profundamente, prendeu o ar, contou até cinco e expirou. E então repetiu o processo mais um vez. Não era a melhor ideia do mundo causar confusão no hospital mágico apenas dias depois de retornar de seu exílio. Embora ele soubesse que o Profeta Diário rodopiaria de felicidade com a manchete.

Seus olhos ardiam e ele sabia que atingiria o fundo do poço caso alguma lágrima fosse derramada em público. Ele não precisava daquilo. Não precisava de mais humilhação em um único dia. Ela não merecia aquela tristeza... Aquele luto.

Pisando nas cinzas da lareira com um pouco de pó de Flu em sua mão, ele exclamou "Beco Diagonal" de modo claro, sendo consumido pelas chamas verdes. A entrada principal do hospital desapareceu de vista.

***

A chuva lavava as ruas do Beco Diagonal, que nunca parecera tão cinzento quanto aquele dia, aos olhos de Draco. Lançando um feitiço para manter suas roupas impermeáveis, ele ajeitou sua postura e caminhou de cabeça erguida, feições fechadas, até seu recém alugado apartamento, estrategicamente localizado ao final do Beco, apenas alguns metros antes da Travessa do Tranco.

Ele ainda estava se sentindo mal e confuso, mas a caminhada na chuva ajudara a acalmar seus pensamentos mais sombrios e a lavar o ódio que sentira horas antes. Ele não gostaria de ter uma recaída, estava lidando bem com o tratamento prescrito por seu psiquibruxo dos Estados Unidos e pretendia continuar, mesmo depois que passasse pelo processo de apagar memórias seletivas. Na verdade, agora que parara para pensar sobre isso com calma, talvez o LACUNA fosse realmente ser útil e agilizasse a cura. Ou a aceitação dos fatos, pelo menos.

Já passara da hora de Draco crescer e se desvincular daquele relacionamento conturbado e juvenil, de qualquer modo. Toda a ideia deles juntos, de um final feliz. Aquilo nunca daria certo, estava destinado ao fracasso. Era hora de deixar o passado onde o passado pertencia e, por mais dolorido que pudesse ser agora, amanhã ele não se lembraria. E aquilo que não é lembrado definitivamente não machuca.

Subindo as escadas, Draco entrou em seu apartamento e foi até a janela checar o correio. Nada muito importante: uma nota de sua mãe intimando-o a comparecer ao café da manhã no dia seguinte. A edição do Profeta Diário de dois dias antes — que, como de costume, ostentava uma bela manchete em sua homenagem — jazia em sua escrivaninha como uma piada de mau gosto: a foto de Draco Malfoy deixando a Floreios e Borrões parecendo levemente desestruturado se repetia incansavelmente:

"HERDEIRO MALFOY RETORNA AO REINO UNIDO".

Após cumprir pena de um ano em Azkaban e quatro anos em exílio, o único herdeiro da família Malfoy, Draco, 22, por fim retorna ao Reino Unido.

[DRAMIONE] Meet Me In The HighlandsOù les histoires vivent. Découvrez maintenant