𝙲𝙰𝙿 𝟸

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As coisas não melhoraram.

A mãe de Lamar aparentemente amava lírios e minha cabeça ficou zonza com o cheiro doce e abundante.

Tínhamos lugares reservados lá na frente, junto da família, o que foi bom, porque a igreja estava cheia.

Foi esquisito em vários níveis estar sentada com os Morris, já que eu mal os conhecia, mas era onde Noah queria que eu estivesse. A segurança se posicionou na frente, bloqueando qualquer pessoa que não tivesse sido convidada. Apesar dos seguranças e do mau tempo, um grupo de fãs se reunia lá fora. Eles clamaram por Noah, balançando camisetas e outros objetos para serem autografados por ele quando entramos.

Eu quis gritar para eles que estavam sendo abusivos, mandar que fossem se catar.

Noah não estava lá por eles.

Você pensa que vai haver mais privacidade porque o cara está na cidade dele, ainda mais numa situação como aquela. Algumas pessoas simplesmente não pensavam, ou não eram aptas a pensar.

O que elas desejavam era mais importante e todo o resto que se danasse.

Meu Deus, como eu odiava gente assim.

Lá na frente, o pianista pôs-se a tocar um hino e os presentes cantaram junto o melhor que conseguiam.

A fala de Noah seria em seguida. Seu rosto ainda parecia mais pálido do que o normal. O homem não estava pendendo para o meu lado, mas ele claramente não estava bem. Tomei sua mão na minha e segurei-a, mesmo quando ele tentou fugir ao contato. O olhar que ele lançou às nossas mãos unidas foi de clara desorientação.

- Está tudo bem - eu disse.

Ele desistiu de tentar se livrar de mim, então começou a mexer na gravata.

- Você vai arrasar, Noah.

A música atingiu a todos em cheio.

Lamar se voltou para nós e, meu Deus, a cara daquele homem. Seu aspecto estava devastado, a perda era visível no seu olhar. Diarra, a namorada do baterista, estava ao lado dele, com o braço envolto em sua cintura. Tinha rolado um tumulto com o grande caso de amor deles uma ou duas semanas atrás.

Foi bom vê-los juntos de novo, especialmente em uma ocasião como aquela.

Lamar fez um sinal de anuência para Noah, e podia ter começado comigo agarrada a ele, mas agora os papéis tinham se invertido: seus dedos cruzaram os meus, comprimindo-os com força, mas ele não se moveu além disso. Estava congelado.

Do meu outro lado estava Joalin, que pendeu para a frente, elevando as sobrancelhas.

- Jacob?

Havia um burburinho no salão; a multidão cada vez mais impaciente.

No púlpito, o pastor deu um passo à frente e alongou o pescoço, à procura de quem enfim falaria.

Alguém tinha que fazer alguma coisa.

- Vamos lá. - Posicionei minha mão nas costas dele e o empurrei.

Vigorosamente.

Ele piscou com lentidão, como se eu o tivesse despertado de um sono profundo.

- Tá na hora, Noah, é a sua vez - sussurrei. - Levanta.

Com passos lentos e doloridos, ele foi até o altar. Eu o segui, e o peso de todos aqueles olhares fizeram meus pelos da nuca se arrepiarem. Não importava. Andamos lado a lado, minha mão o guiava, posicionada atrás de suas costas. Um passo após o outro em direção à plataforma.

𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora