• A BIBLIOTECA • [capítulo 10]

71 10 84
                                    

Como em todo o Natal, a casa de verão estava gloriosamente enfeitada com luzes, guirlandas e um presépio digno da família De Santis

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Como em todo o Natal, a casa de verão estava gloriosamente enfeitada com luzes, guirlandas e um presépio digno da família De Santis. Durante toda a noite, o melhor vinho da adega foi servido, junto com cappones e strufolis, brindando ao discurso robusto de Papa para comemorar mais um ano do nascimento de Jesus e chorar pela morte dos jovens em nome da honra e integridade da máfia italiana.

Mesmo aos 17 anos, o Natal ainda era uma das minhas épocas favoritas do ano. Não só pela ceia que Matilde preparava, nem pelo tempo que podia passar com Gianne ou os presentes extravagantes que Papa me dava. Na verdade, o que eu mais ansiava nas noites de Natal era pelo momento que eu e Vincenzo mantínhamos como tradição.

Depois que todos iam embora, um pouco depois das três da manhã, eu e ele nos encontrávamos na estufa. Tudo começou quando eu tinha 8 anos, ele estava na estufa comendo um pouco de panetone quando o encontrei. Quando perguntei o que ele fazia ali, ele me mostrou e disse: "era o preferido do meu pai". Desde então, temos mantido esse segredo.

— Você nunca pensou em beijar Matheus? – Gianne me confrontou, mais uma vez.

Eu olhei para Gianne um pouco consternada pela escolha aleatória. Matheus estava a poucos passos de nós, entre meu pai e o dele enquanto tinham uma conversa aparentemente não tão animada.

— Papa me mataria, você sabe disso. E eu nem conheço Matheus direito.

— Você poderia... Isso nunca me impediu de beijar antes.

— Você já tem vinte e um, Gi. E seu pai não é como o meu.

— Claro.

— Quer parar?!

— Então, nós vamos fingir que não há outro motivo além de Leonel?

Mesmo tentando desesperadamente esconder meus sentimentos de Gianne, nunca conseguia. Ela podia me ler como um livro. Felizmente, só ela parecia perceber minha obsessão por Vincenzo.

Motivos para manter distância sempre existiram, nossa diferença de idade, nossa relação, sua posição dentro da Máfia, meu pai. E tão protetor e carinhoso como Vincenzo era, eu sei que em sua cabeça ele nunca me viu como nada além do que uma prima.

— Pare de olhar... – Gianne avisou.

— O que?

Tirei os olhos de Vincenzo e Giovanni e voltei minha atenção para Gianne. Eles também estavam perto, junto com outros soldados de sua idade.

— Giovanni pode ser mais lento, mas não vai demorar muito tempo para perceber.

Desde que os anos se passaram e Vincenzo fez vinte anos, as coisas começaram a mudar entre nós. Em alguns anos, comecei a perceber que meus sentimentos não eram recíprocos. E doía ver essa constatação a cada noite em que ele saía. Ele era mais discreto que a maioria e não flertava como Giovanni fazia. Na verdade, ele parecia evitar as filhas dos Capos e Soldados a qualquer custo, sabendo o que isso poderia significar no futuro. Mas uma vez, quando estava o procurando pela casa, um desses dias em que me sentia mais sozinha, eu o vi sair de moto. Ele não voltou até depois do meio dia, no outro dia. Eu não precisava perguntar, eu só sabia. Mesmo com os meus quinze anos de idade, o ciúme me dominou como nunca e eu o evitei por uma semana. Essa distância se tornou ainda mais comum entre nós, desde que eu completei dezessete. E desde esse dia da sua saída, seus encontros noturnos se tornaram mais constantes, assim como o meu ciúme.

HEREDITÁRIO • Série Mulheres da MáfiaWhere stories live. Discover now