A especialidade

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Minha mão segura a cabeça cansada usando de sustento unicamente o cotovelo na madeira. A minha mente se atormenta ainda com as cenas que presenciei entre meus pais há algumas semanas atrás, sabe o quê é um casamento perfeito que você sempre admirou no final ser uma grande e elaborada farsa? Eu não posso esconder o meu desgosto, o nojo todo que eu sinto.

Naquela biblioteca gigante da UFRJ, tento prestar atenção no livro que seria super importante para a conclusão do meu TCC, mas a
ansiedade misturado ao nervosismo estava me acompanhando nessa jornada de trezentas páginas amareladas sobre de direito processual. Vejo que, não estou preparada emocionalmente para lidar com tantos aspectos da lei. Ou se tem coração ou se forma em direito.

- Desisto. - digo fechando a capa resistente do livro gigante que saltou até uma certa poeira fazendo com que o meu nariz se irritasse.

O professor Conrado havia me enviado por mensagem essa recomendação de leitura para o meu último trabalho. Eu nem sei que profissão seguir depois que terminasse o curso, poderia atuar como uma advogada ou qualquer outra coisa. As vezes acho que não sou merecedora de tantos privilégios, sendo que próximo daqui havia várias pessoas sem ter a chance de optar por uma educação superior.

Frustrada comigo mesmo, torno-me desistente e caminho para outra parte da biblioteca. Confiro o professor Vega com um montante de livros ao seu lado, ele tem sua mesa exclusiva para fazer sua leitura diária no fundo de um dos departamentos, são tantos volumes que nem sei como conseguia carregar.

Me ergo rapidamente indo até ele com um grande pesar.

- Bom dia, professor. - aumento meu volume vocal para ter algum resquício de voz, estou pálida e fraca. - Eu estou te atrapalhando demais? - nem peço permissão e coloco o livro que estava lendo bem perto dos seus. Eles são cansativos agora.

- Você nunca me incomoda. Nenhum aluno faz isso. - sorri, enquanto seu lápis marca um último parágrafo e escreve uma última anotação no caderno que gosta de carregar. Por mais que hoje exista mais meios tecnológicos para ele fazer isso, Conrado consegue se manter fiel aos seus hábitos antigos.

- Eu só vim devolver o livro e te agradecer por conta do que fez. De certa forma, eu fiquei bem melhor depois da nossa conversa.
- expando um largo sorriso por estar tendo esse momento de proximidade que me causa um bem estar incrível. Conrado, olha-me após desocupar as órbitas com a preparação intelectual antes de iniciar as aulas.

- Somos da mesma família e é pra isso que ela serve. Sempre será a garotinha do meu coração de tio. - espreme a pele que há ao redor dos verdes, derrumbando com uma frase a minha auto-estima. Tem algo pior no mundo do que se sentir insuficiente para o homem que você tanto deseja? Se sim, eu desconheço sensação pior no campo do amor.

- Eu sei... - desfaço o sorriso que custei a conquistar hoje em míseros segundos.

- Se precisar de aulas de reforço, eu estou disponível mais tarde. - volta a realizar anotações depois de dizer o que me abala intensamente. Eu preciso muito de um auxílio para conseguir lidar com os exames, já que passo o tempo todo recorrendo aos pensamentos negativos sempre que me lembro da pauta família.

- O senhor mesmo fala que não é ético ter as respostas diretamente de um conhecedor nato da fonte. - imponho uma distância entre o que eu queria e o que ele julga ser correto.

- E quem disse que vai ter esse privilégio? Eu só estou te dando essa ajuda porque eu sei que se continuar como está, não vai passar. Sua nota no último exame que eu apliquei, foi muito inferior e estou preocupado. - regressa com os olhares diretos para o meu. Conrado fala aquilo que precisa, sem se importar em revelar as verdadeiras intenções por trás do ato. - Sabe o esforço que fiz para não te dar vantagem em relação aos outros, mas dessa vez, até alguns professores me perguntaram o que houve com você. - Conrado me informa endurecendo o tom que usa para me "sacudir", para me acordar.

Sem medo de amar - Romance Erótico  (+18)Where stories live. Discover now