Capítulo 12: Sinta-a sussurrar

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Meia noite.

O suor escorrendo pelo meu corpo.

Meia noite.

Não!

Minha consciência está de sacanagem...

As traças, as formigas...

Os vermes andando pelo seu corpo.

Buracos no lugar de olhos.

O rosto desfigurado.

O cheiro da carne apodrecida.

Dedos longos e finos com unhas compridas.

Dentes sobressalentes, mas não há lábios.

Não!

Ela não é Helena!

O cabelo de apenas um lado da cabeça.

Seus braços se movem em minha direção.

Meu Deus eu vou vomitar!

Meia noite.


(Petrus)


Caí do colchão. Encontrei o chão e só não fui de cara porque meu braço chegou primeiro.

Não me mexi. Sentia minha respiração fora do ritmo, meu coração estava acelerado. Ah, eu preciso oxigenar o cérebro!

Relutante eu ergui o rosto em direção ao relógio. Era meia noite e quinze. Quase como no sonho.

Na verdade um pesadelo. Mas foi tão real...

Devastador é claro. Horrível também. Completamente fora de cogitação.

Helena morta. Morta em um caixão. Morta em uma sepultura. Morta em uma cova. Abaixo da terra. Inerte...

Eu cavo sua cova rasa. Eu abro seu caixão. Seu rosto corroído como se ela estivesse ali por meses. Nenhuma expressão.

E eu estendo a mão para segurar na borda do caixão. Seus dentes se mexem lentamente e no susto caio para trás.

Ela se senta e olha, olha com o quê? Ela não tem mais olhos! Mas, olha diretamente como se me enxergasse, sentisse minha presença.

Helena coloca suas pernas para fora. Consigo ver um osso aparecendo em uma delas. Ela engatinha na minha direção. Com o vestido, outrora tão bonito no velório, e agora aos fiapos.

Seus braços vêm como que para me abraçar. O cheiro de carne podre. O cheiro da morte!

Meu estômago se revirando. Ânsias, vertigens.

E então puf. A realidade.

A realidade tão sombria quanto aquele "filme" assustador. Talvez aquelas cenas grotescas nem se distanciem tanto do que pode realmente acontecer.

De repente a insônia. Cada vez que fecho os olhos, os flashes retornam com força.

Respiro sôfrego, cansado, assustado. Filmes de terror sempre me fizeram cócegas porque talvez eu soubesse que era apenas ficção, mas pensar na simples possibilidade de eu abrir uma cova em um cemitério há meia noite e desenterrar um caixão que teoricamente abriga um corpo sem vida me faz congelar.

E se Helena não voltar? Se algo der errado, como vou conseguir me perdoar?

Sem forças é como eu me sinto. Derrotado por algo além da minha compreensão. Impotente.

Depois do Sol se PôrWhere stories live. Discover now