Sete

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Nicolas estava sendo torturado impetuosamente pelas mãos do rei. Estava morrendo, com gemidos baixos escapando dos seus lábios vez ou outra.

Seus braços estavam suspensos no ar por correntes que vinham de uma viga alta. Sangue escorria por seus lábios desidratados. Seu peio subia e descia como se tivesse corrido uma maratona. Sua roupa estava toda suja e rasgada, com grandes marcas rubras por toda a camisa. Seu rosto estava pálido, sem vida, implorando pelo fim.

Tentei chegar até ele, mas era impossível. Príncipe Elian me mantinha presa em seus braços, imóvel. Fazendo com que assistisse toda aquela cena aterrorizante, enquanto eu gritava e me debatia para tentar ajudar...

Minha cabeça doía com o esforço, e com um breve piscar de olhos não era mais Nicolas que estava ali, mas eu. Havia tomado o seu lugar, e eu não o enxergava em nenhum lugar, apenas sentia a dor aguda em meu corpo e fraca pressão do meu coração em meu peito. Estava morrendo... Soltei um soluço involuntário com lágrimas que não queriam escapar dos meus olhos já turvos. Senti uma dor fulminante em minha barriga, e observei uma lamina quente a atravessa-la e me queimar no processo. O rei sorria enquanto agonizava, sem poder me mexer com uma enorme possa de sangue se formando ao redor do meu peito. Ao lado dele, antes de eu finalmente ceder ao vazio que estava inundando minha mente, pude ver a rainha Celize ao lado de Richard, se deleitando com toda a cena. Mais ao fundo eu vi o corpo de alguém caído, e o príncipe Elian correndo em minha direção.

E depois eu estava caindo no mais profundo vazio... Estava morta.

Acordei com um sobressalto, e pulei da cama. Meu corpo estava todo suado e parecia prestes a convulsionar com os tremores excessivos. Abracei-me tentando conter esse pavor que se acumulava em mim, mas nada parecia me acalmar. Eu estava bem, não havia o que temer. E Nicolas também tinha de estar, eu tinha certeza. Pois se ele não passasse bem eu saberia. Saberia? Estávamos ligados pelo amor, e isso me parecia quase certo.

Caminhei até a mesa de cabeceira e peguei um copo de água. Minha pele parecia estar meio febril. E minha cabeça se encontrava ainda mais distante, em um mundo confuso de preocupações e medos agonizantes. Fechei meus olhos por um breve segundo tentando acalmar as batidas rápidas do meu coração.

Hoje de manhã recebi uma carta da minha irmã, que parecia estar preocupada comigo. Ela havia me relatado brevemente como estavam às coisas em Ryce, e como se sentia com saudades minhas. Do meu jeito ousado de ser, mas não mencionou uma palavra sobre Nicolas. E mesmo tentando não pensar no envelope que me foi entregue hoje de manhã, não conseguia conter a vontade de me jogar na escrivaninha e escrever uma resposta imediatamente. Porém meus planos foram interrompidos ao lembrar que estava atrasada para me preparar para o jantar real.

Olhei para o bilhete amassado na mesinha.

Jantar hoje á noite, ás 20:00. Não falte, e não se atrase.

Aguardarei sua presença.

Príncipe Elian.

Recebi esse bilhete logo de manhã, e no momento em que li, o amassei e o joguei no outro lado do quarto, frustrada com toda essa situação. Não me lembrava de tê-lo juntado e o posto ali, mas deveria ter sido Ariadna que o tenha feito. Ela mesma me alertou que era melhor que eu fosse para não irritar e desafiar o príncipe. Eu não precisava de mais problemas, ainda mais, quando Ariadna me relatara que ele não andava de muito bom humor ultimamente. Fui forçada então a aceitar a ideia de que deveria ir.

Quando pensei em quanto seria horrível esse encontro, a porta do quarto se abriu, e minha única amiga que tinha no palácio entrou.

Olhei para Ariadna um tanto pesarosa que sorriu para mim de maneira reconfortadora.

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