Dezessete

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Assim que adentrei a ala sul, perdi completamente minha postura e comecei a correr. Meus pés tocavam o chão, e eu simplesmente ignorei o fato de meus sapatos estarem me matando, e eu estar lutando para ter equilíbrio em meus saltos baixos à medida que seguia em frente. Não havia calma em minhas ações e os guardas mal conseguiam me acompanhar. Estava tão ansiosa, que saltei para dentro do quarto assim que cheguei até ele. Sem nem pensar bati a porta na cara de quem me acompanhava, e me encostei-me à madeira sólida, sentindo meu peito subir e descer, enquanto eu lutava para recuperar o fôlego.

Minhas mãos tremiam à medida que eu abria o papel amassado por mim. Minha ansiedade só aumentava a cada momento, como se eu demorasse mais para ler as palavras que minha irmã direcionou a mim, fossem simplesmente desaparecer. Eu não acredito que Leonardo estava com a minha carta! Fervi de raiva, mas ao mesmo tempo estava feliz por ele ter me entregado, mesmo não confiando nele. Respirei fundo e coloquei a carta sobre minha escrivaninha, fiquei a encarando por longos segundos até ter coragem de me sentar e passar meus olhos sobre tudo que estava escrito ali.

Maira...

Não sei muito bem em como começar essa carta. Em minha cabeça as palavras fluem facilmente, mas toda vez que encaro o papel em minha frente, elas simplesmente desaparecem. Tenho medo de te magoar, mas sei que se não expor minhas opiniões e meu sofrimento aqui, não serei eu. Sua irmã mais velha, que sempre demonstra sua desaprovação diante de atitudes tolas. E eu queria tanto estar aí com você agora, e arrancar essa loucura de sua cabeça. Sinto muito começar escrevendo á carta assim, mas falo com um tom bem enfático: Você não pode fugir.

Nossos pais estão desnorteados com suas palavras, pois esperavam mais de você. Eu esperava mais de você. As coisas podem ficar estritamente mais complicadas com a possibilidade de uma fuga sua. Tudo em Ryce está começando a ficar difícil, o rei anda mais atento aos pequenos delitos acontecidos por aqui, e tenho certeza que não nos perdoariam mesmo que não soubéssemos onde estaria seu paradeiro. E com isso eu me pergunto: Será que você não está pensando em nós em nenhum momento? Em nossa segurança? O que realmente sua família significa para você? No fim, tenho a convicção de que nunca se importou conosco, afinal nunca cometeria erros atrás de erros. Seriamos mortos no mesmo instante que ousasse seguir com qualquer plano tolo que tenha em mente.

Você sempre agiu com liberdade, com pensamentos contraditórios a monarquia, porém, independente dos olhares reprovadores que lançávamos para suas ações, que sempre foram ignorados, não preciso salientar que sempre fez o que quis, pensando apenas em si e nos seus sentimentos. Eu nunca implorei para que agisse de modo normal e plausível de acordo com todos em nossa nação, com o sistema rígido em que vivemos. Entretanto, pela primeira vez eu imploro: não faça nada. Aproveite as joias exuberantes que pode ter, assim como o poder que terá em suas mãos. Mas se isso não bastar para que tome consciência dos seus atos, e o impacto que eles causarão em nossas vidas, talvez outro argumento comova seu coração...

Eu estou noiva. Sim! Eu estou noiva... Nicolas me pediu em casamento, um dia após você ter partido. Nem eu acreditei nesse acontecimento, pois sempre alimentei em segredo sentimentos por ele que faziam meu coração disparar, que faziam com que eu me sentisse uma garotinha ao invés de uma mulher culta. Não peço que entenda agora... Mas eu não posso, e não quero que nada atrapalhe a minha felicidade. Não dessa vez.

Agora é a minha vez.

Melissa Bennett.

O choque paralisou-me por completo

Quando terminei de ler a carta, senti como se tivesse acabado de levar um soco em meu estômago. Meu corpo tremia tão violentamente que parecia que eu estava prestes a convulsionar, o suor frio começou a escorrer por minha testa, e o calor subir pelas minhas bochechas. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, borrando a maquiagem cuidadosamente preparada em minha pele. Mal tinha percebido que havia começado a chorar, mas foi o papel molhado a minha frente que denunciou o quanto eu estava devastada.

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