† O Primeiro Radiante †

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A Chinesa não se assustou ao escutar o barulho alto de ar sendo sugado para o vácuo atrás dos equipamentos médicos que estavam a sua esquerda. O cheiro de enxofre tomou o laboratório assim como a voz gutural que se seguiu.

-Como você chegou aqui?- A figura escura começava a ganhar forma humana enquanto se aproximava

-O que não faltam por aí são rumores, Omen! Se eu não viesse, outros viriam, e você sabe disso!

-Por quê você ainda tenta? Isso é perigoso demais!

-Nós precisa...

-Não!- Ele segurou os pulsos de Sage com cuidado, agora com seu corpo completamente solido. -Não precisamos! Já esta difícil esconder os que temos! E se você trouxer alguém que fique do lado deles? 

Sage estava com um cristal grande de Radianita em seus dedos, ela o olhou e depois olhou para o rosto vazio do homem sombrio a sua frente.

-Quem ficaria do lado de seu próprio assassino, Omen? O que eles iriam querer com a Kingdom depois de tudo isso? Olhe para você mesmo! 

-Nem todos são como eu, Sage! Olha no que eu me transformei!

Ele soltou os pulsos da mulher e cruzou o laboratório agora prestando mais atenção na garotinha que estava na maca no meio da sala.

-Quantos anos ela tinha?

-14, eu acho. A temperatura baixa manteve o corpo dela intacto. Dessa vez não vou ter muito trabalho -Disse quebrando o cristal na mão como se fosse um pedaço frágil de gesso

-Sage!

Ela se virou para ele com uma expressão preocupada. Ficava nervosa sempre que fazia isso. Algumas vezes tinham alguns problemas. Como o Omen ao voltar a vida.

-Você já se perguntou de onde vem a vida que você dá?

-Toda hora! - Ela fez um movimento rápido com a mão jogando os pedaços quebrados de Radianita no corpo da criança na maca.

Após alguns segundos a garotinha voltou a respirar e se levantou como se acordasse de um sono bem curto. Como aqueles que fazemos de tarde, e acordamos pensando ser um novo dia.

-Qual o número dela? -Omen estava atrás de alguma roupa nos armários no canto da salinha.

-Acho que ela foi a numero 132. Olá! Me chamo Sage, e você? Como se chama?

-Esta perdendo seu tempo Sage! Você sabe que não nos lembramos de nossas vidas! -Ele voltava com um Jaleco de tecido bem grosso.

-Meu nome é Manys, May Manys.

Omen embrulhou a criança e saiu de perto indo para a saída de emergência do laboratório. Parou bruscamente antes de cruzar a porta.

-Como é possível? 

-Eu disse. A temperatura conservou o corpo dela. As ligações neurais podem não terem sido afetadas também. Omen...

O barulho de ar novamente indicou a partida de Omen. Sage ajudou May a ficar de pé, sem sucesso. A menina estava fraca demais, e a coloração roxeada de sua pele ainda não havia sumido. Se Sage não aquecesse ela, iria morrer de hipotermia em alguns minutos. Botou a garota nos braços e correu para o refeitório. Torcendo para o antigo forno industrial ainda estar funcionando.

Do lado de fora da instalação Omen se sentava em um container amassado que havia a muito despencado dos cabos de aço de um navio cargueiro preto com a logo da Kingdom. A base de Tundra havia sido abandonada como todas as outras bases que eles não tinham sucesso nas experiências. Omen havia sido não só uma das experiências. Foi a primeira delas. O primeiro homem a servir de cobaia para os planos de uma empresa que só visava o próprio lucro.

Ele nem mesmo sabe quem era antes de tudo. A única lembrança mais velha que tem é de ser sugado para um lugar escuro. Um lugar com cheiro ácido que lembrava muito a nossa terra. Ele ficou lá dentro pro anos. Ao voltar, se deparara com uma Chinesa e um garoto risonho que não lembrava o nome. Seu rosto não existia mais. Sua pele, era incandescente e gasosa. Foram semanas para entender e conseguir manter seu corpo um pouco sólido. Ataduras ajudavam a conter a pele que quase sempre se desfazia quando ele se descuidava e divagava sobre o que estava acontecendo consigo mesmo. Após 2 anos conseguia ir e voltar da dimensão escura. Andava pelas ruas sem luz durante dias, e ao voltar para nossa dimensão no mesmo lugar em que estava no outro mundo, não haviam se passado nem alguns segundos em nossa terra. 

Teleporte, Sage explicou. Para nós aqui na terra, era apenas um teleporte o que Omen fazia. Ele tentou fazer as viagens com outros objetos, animais, pessoas. Mas quanto maior era a carga. Maior eram as chances de dar errado. Um cachorro pagou o preço e precisou ser enterrado. Agora ele fazia viagens sem nada que estivesse vivo. Mesmo tendo a Sage para ajudar a trazer de volta.

Fora essas lembranças. Não existia mais nada. Nenhuma memoria. Nenhum documento. Nada. E isso o assombrava mais do que a aparência que ele tinha agora. Seu passado havia sumido. Assim como seu rosto.

Um grito baixo ecoou nas paredes enormes de gelo que circulavam o laboratório. 

-Sage?!

Dentro da cozinha Sage se contorcia para evitar as estacas de gelo que subiam do chão em volta do corpo de May que estava encolhida do lado do forno que agora estava congelado. 

Sage puxou do bolso um cristal de radianita do tamanho de uma maçã e jogou no chão a sua frente. Ao se espatifar no chão o cristal se multiplicou e se fundiu em uma velocidade incrível, criando uma barreira verde entre as ela e as agulhas afiadas de gelo.

Uma mão escura segurou seu ombro e a puxou para o lado de fora das instalações do prédio. 

-Acho que já temos a arma perfeita pra usar contra aquele Phoenix! Basta saber usar ela melhor!

-Omen, você viu? Ela é uma Panteon A!

-Ótimo! Mais uma preocupação! Me espera aqui. Vou tirar ela de lá.

Omen puxou as ataduras de seus braços e sua pele brilhosa começou a evaporar, lançando no ar uma fumaça preta espessa que deixou tudo um breu total. Alguns minutos se seguiram até a fumaça se dissipar e ele sair do prédio com May desacordada em seus braços

-Você tem mais algo para fazer, Sage?

-Não. Obrigado por conter ela. Eu não ia conseguir.

-Me agradeça depois. Vamos embora daqui. É provável que eles venham em algumas horas.

-A Kingdom abandonou esse local. Eles não teriam motivos pra voltar.

-Não estou falando da Kingdom. Ela é nosso menor problema Sage. Preciso te contar onde minhas viagens me levaram. Existem radiantes bem mais antigos. Eu conheci um, em outro mundo. Eles se chamam A Colmeia.

-Espera! Eu não entendi. Quantos eles são?

-Eles são um. O mesmo radiante. Habitando milhares de corpos diferentes. E estão aqui. Graças a Kingdom, e a nós radiantes. Onde está o Faek? Ele ia ser de grande ajuda nesse momento.

-Ele não veio comigo. Ele não faz mais parte da iniciativa, você sabe disso!

-É claro que é! Se ele luta pela queda da Kingdom, ele continua sendo um Valorant! Vá para a cidade. Vou atrás dele! 

-Ok. Pode me dar ela então!

-Ela vai junto. 

- O que?! Não! Você não pode...

Mais uma vez Omen se foi. E foi como se ele nunca estivesse passado por ali. 

E sempre foi assim.

Valorant - Os Primeiros RadiantesOnde histórias criam vida. Descubra agora