03 - Entre casos e acasos

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Uma leveza se prendia ao peito de Hongjoong quando pensava nas últimas coisas que viu na noite anterior, ao deixar Jongho e San dormindo sozinhos no quarto do mais novo.

Jongho fez questão de tomar todos os cuidados possíveis para com a visita, desde separar um pijama confortável até fazer chocolate-quente e distrair San para que ele não pensasse no que aconteceu.

Hongjoong tomou o cuidado de informar o mais novo de tudo o que acontecera enquanto San estava no banho, e o Kim tinha certeza de que nunca havia visto Jongho tão irritado quanto quando Hongjoong lhe contou de todas as suas desconfianças do ex-namorado de San.

"Eu, sinceramente, espero que ele nunca tenha que lutar contra mim em um campeonato", foram as exatas palavras do moreno. Hongjoong sentiu um frio percorrer sua espinha naquele momento.

Mas agora, sentado na cobertura do prédio da biblioteca e observando os poucos alunos que caminhavam pelo campus, Hongjoong podia dizer que se sentia mais tranquilo por saber que Jongho estava disposto a proteger San da forma que podia.

Você não devia matar aulas desse jeito, sabia? – a voz de Seonghwa do outro lado da linha constantemente arrancava Hongjoong de seu estado de transe, trazendo-o de volta para a realidade.

–Foram só duas aulas. Eu posso recuperar no fim de semana – rebateu o Kim, com uma risada nasalada. Ele podia ouvir Seonghwa suspirando do outro lado da linha, provavelmente revirando os olhos se Hongjoong fosse familiar o suficiente com o outro.

Claro que pode, senhor gênio. Você pelo menos tomou café da manhã hoje? – "não", seria a resposta do mais novo. Hongjoong havia saído cedo do apartamento com o intuito de comer algo no caminho, mas seu ônibus quebrou e ele teve que fazer o resto do caminho até a universidade a pé – Seu silêncio diz muito. Estou te esperando na entrada da biblioteca. Vamos almoçar juntos – e com isso o mais velho desligou, sem dar uma chance para Hongjoong recusar.

Talvez fosse o fato de os dois terem conversando via mensagens por um tempo na noite anterior, ou simplesmente a facilidade com que as palavras de Seonghwa traziam conforto, mas Hongjoong não podia deixar de se sentir atraído para o outro como uma agulha seguindo um ímã.

Seonghwa era apenas bom.

Sem se deixar pensar demais, o platinado desceu do parapeito e pegou sua mochila do chão, descendo os três lances de escada com leveza, nem por um momento cogitando apenas deixar o Park esperando sozinho.

–Kim Hongjoong! – a voz era grave demais para ser confundida e talvez, talvez, se Hongjoong tivesse sido um pouco mais rápido, ele poderia ter escapado da mão que o empurrou com força contra a parede do corredor, mas seu cérebro estava exausto, um efeito colateral das poucas horas dormidas na noite anterior.

–Puta merda, você não dá descanso mesmo – zombou o Kim, apenas para ser jogado contra o chão com força, uma bota pesada vindo de encontro com seu estômago apenas segundos depois, fazendo o platinado grunhir de dor. A mão de seu agressor se enroscou nos cabelos descoloridos e forçou Hongjoong a levantar o olhar – Você está horrível, KinHwan. Não dormiu direito noite passada?

–Você se acha muito engraçado, não é? Seu merdinha desgraçado – Hongjoong se preparou para o impacto que viria, mas foi surpreendido quando uma terceira voz se fez presente no corredor, tomando a atenção de seu agressor.

–Cha KinHwan! – o Kim soltou o ar que não sabia que segurava quando Mingi se aproximou dos dois, levantando KinHwan pelo colarinho e o empurrando para longe – É meu último aviso. Fique longe – rosnou. Mingi esperou por alguns segundos antes de ajudar Hongjoong a se levantar, pegando a mochila e o celular do menor do chão e caminhando com o Kim para longe dali.

Hongjoong podia sentir o olhar de fúria de KinHwan em suas costas, mas preferiu ficar em silêncio.

~

–Você é o mestre em se meter em confusão, hyung – comentou Yunho, observando o estado deplorável do torso de Hongjoong, enquanto este tinha um sorriso travesso nos lábios.

Foi para Yunho quem Mingi ligou quando a enfermeira da universidade alertou o estudante do horário das aulas.

Mingi só deixou a enfermaria quando o Jeong chegou e deu um sermão no Kim por tamanha confusão na qual se meteu.

"Eu te deixo sozinho por um dia e preciso te buscar na enfermaria!" foram as palavras exatas de Yunho quando o rapaz chegou ofegante à enfermaria, bochechas coradas e expressão preocupada.

Agora, sendo encarado por um de seus melhores amigos com um olhar pesado, Hongjoong se sentia pequeno e indefeso, sentado em sua cama enquanto Jongho e San preparavam o jantar na cozinha do apartamento.

–Não é como se eu pedisse pra apanhar – murmurou o Kim, abraçando seus joelhos e fazendo beicinho. Yunho se sentou ao seu lado em silêncio e apenas assentiu, brincando com seus próprios dedos enquanto o silêncio preenchia o cômodo.

–Eu sei, hyung. Eu sei. Você não tem culpa. O culpado é aquele bastardo desgraçado – Hongjoong se apoiou contra o ombro do maior e soltou um suspiro pesado, fechado os olhos por poucos segundos antes de alguém bater na porta e interromper a quietude.

–O jantar está pronto! – a voz alegre de San se fez ouvir por detrás da porta e arrancou um sorriso mínimo de Hongjoong, que soltou de suas pernas e se levantou com um grunhido baixo.

–Vamos?

the 100th dayOnde histórias criam vida. Descubra agora