SEU TERNO

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Levantei da cama, ainda um pouco preguiçosa. Observei ele que ainda se ajeitava para sair da cama.

– Agora sim vou pedir uma roupa decente para você. – Falei caminhando até o banheiro, aonde eu tinha deixado seu smoking e calças. – Eu peço para lhe mandarem hoje mesmo para o seu hotel. Pode anotar o nome e o quarto por favor?

Voltei do banheiro com as roupas dele. Passei pela escrivaninha do meu quarto, retirando um caderno azul e uma caneta preta. Coloquei o caderno em sua frente, o olhando brevemente.

De repente ele ficou sério, preocupado novamente. Desfiz meu sorriso e me sentei ao seu lado na cama novamente.

– O que foi?

Ele olhou para mim com um sorriso triste. Ele mexia em suas juntas, brincando com os próprios dedos, tentando não mostrar nenhum tipo de nervosismo. Mas eu, por incrível que parecesse, eu reconhecia os sinais que ele dava. Eram comuns, mas ainda sim surpreendentes quando vinha de um garoto como ele. Garoto não, ele já havia se mostrado homem desde o minuto em que eu o conheci. Não que eu ficasse extremamente impressionada com um homem que me respeitasse. Isso era o básico do básico. Mas do pouco tempo que fiquei junto a ele, foi como se tivessem se passado meses.

Mas tudo não passava de pouquíssimas horas.

Ayrton Senna não era só um garoto. Ele era um homem louco que corria em uma velocidade que nunca, nem em um milhão de anos, eu correria dentro de um pedaço de lata motorizada. Uma vez que todos os loucos tinham pelo menos dez por cento a mais de genialidade, independentemente do to tópico, eu poderia considerá-lo um gênio. Só que gênios, tirando os da comunicação, eram falhos em fala. Então tudo o que me restava era analisá-lo. Cada traço, trejeito, sorriso, balançar de mãos, tom de voz... Enfim, tudo.

– Eu vou pro Canadá. Tenho alguns compromissos lá e depois nos Estados Unidos.

Desta vez quem havia perdido a fala era eu. Eu me esquecia completamente que pessoas como ele eram como nômades. Viviam de país em país, de GP em GP. Ayrton não tinha tempo para qualquer coisa, já eu, o que eu mais tinha era tempo e falta de liberdade. Obviamente eu podia viajar, mas minhas raízes tinham que ser bem firmes aqui. Só pude fazer uma parte da faculdade em Paris e outra em Madrid, mas fora isso, eu ficava sempre em Mônaco.

Ele esticou o braço, pegando a minha agenda azul, a encarando para depois escrever os detalhes do hotel e suíte.

– Mas depois vou ter uma corrida na Inglaterra.

Voltei a olhá-lo, tentando conter um sorriso. Mesmo que fosse mínimo, meu sorriso estava ali.

– Só vou com um convite digno, Ayrton...

Ele deu uma risada fraca, pegando a minha mão.

– Oh, minha "princesse", você gostaria de ir para o GP da Inglaterra como a minha convidada de honra?

Oui, meu... – Parei para pensar em algum apelido. –...Odeio lembrar que seu país é presidencialismo, isso acaba com qualquer chance de eu lhe chamar de príncipe.

Ele riu baixinho e beijou a minha mão suavemente.

– Eu preciso levar isso para a lavanderia e pegar uma roupa do Albert para você. – Lhe dei um beijo na bochecha. – Já volto, "Barão do Pau Brasil".

– Felicia, não fala isso perto de ninguém...

– Por quê?

–...Só tente arranjar outro apelido.

Assenti, caminhando para a porta. A destranquei e dei de cara com o carrinho do almoço.  Claro, duas da tarde.

Puxei o carrinho para dentro do quarto.

monte carlo | ayrton senna ✔️Where stories live. Discover now