SETE

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Descemos tentando acompanhar o ritmo do sentinela. Lowan ficou no quinto andar e entrou rapidamente em seu quarto. O sentinela me deixou na porta do quarto que estava usando e depois tomou rumo para as escadas.

— Encontrem-nos no salão principal. — E foi embora.

Nalina não estava lá. Comecei a ter uma estranha preocupação pela empregada. Havia uma calça preta mais grossa em cima da cama junto a um sobretudo cinza e uma blusa de mangas compridas da mesma cor. E no chão um par de botas de cano médio. Seja lá para onde iríamos, devia ter muita lama. Me arrumei o mais rápido que consegui.

Saí do quarto as pressas e desci até o salão principal. O porquê de me quererem nessa "viajem" eu não sabia. Aparentemente fui uma das últimas a chegar. A Governanta já estava com uma expressão impaciente, em contraste com Lowan, que estava a própria definção de calma e indiferença ao seu lado.

Assim que todos pareceram chegar, os sentinelas avisaram que os veículos chegariam nos portões secundários em alguns minutos; tempo suficiente para irmos até os mesmos.

Não sabia ao certo onde ficar durante o caminho, portanto procurei manter o máximo de distância possível. Durante o percurso, fui memorizando o que podia com a esperança de que toda essa antenção compenssasse quando estivesse contando essa história no sofá da sala com meu tio Luke.

Logo, já estávamos nos portões, os sentinelas se dividindo em três grupos e cada um conduzindo algumas pessoas para cada veículo escuro. Emma e mais um homem do círculo ficaram comigo em um dos carros-pipa. Rapidamente, o motorista no qual não conseguia ver começou a rota até o lugar desconhecido. Só piorava pelo fato de as janelas serem negras quase impóssivel de ver o lado de fora.

— Para onde estamos indo? — perguntei sem a esperança de uma resposta. Apenas para me distrair e não entrar em pânico.

— Vamos ver uma fenda que acabou de abrir. Tentar fechar, e estudá-la se conseguirmos — respondeu Emma quase de imediato.

— O que são essas fendas?

— Ainda não sabemos ao certo o que são. Mas esse mundo foi criado às pressas, há muitas falhas desconhecidas para concertar. Tudo que posso lhe contar é que essas fendas podem levar qualquer um para qualquer lugar ou trazer qualquer coisa para cá.

Podem me levar para casa. A idéia era quase boa, mas afastei a mesma. Eu não devia me jogar em um portal aleatório com a esperança mínima de voltar para casa.

— Se deixarmos essas fendas abertas, elas vão expandir e podem tomar toda Myliand. Se alguém cair nelas, na pior das hipóteses, você tem uma passagem apenas de ida para o mundo das trevas.

— O que são as trevas? — Eu precisava coletar o máximo de informações sobre esse mundo.

Emma poderia escolher não responder, mas bufou e continuou:

— As trevas são criaturas sombrias, hipinotizantes, malignas e muito perigosas. Com as fendas abertas, até mesmo elas podem sair de seja lá qual for o buraco onde se escondem e torturar pessoas das piores formas possíveis.

— Nossa — foi tudo que consegui responder.

Fiz mais algumas perguntas ao longo do percurso mas Emma as ignorou com perfeição. Até o homem — que descobri ser um conselheiro — já não estava mais aguentando minha companhia. Não os culpava.

Era difícil saber quanto tempo levou o percurso. Eu diria que foi por volta de cinco horas, mas claramente era menos que isso. Os veículos finalmente pararam e os sentinelas foram os primeiros a sair. Assim, fomos adiante até o início de uma montanha incrivelmente alta. Lá, havia um espaço de nada, ou o mais próximo disso.

Linhas negras envolviam e dançavam em volta do mesmo em uma sincronia absurda. Se espalhavam tão rápido quanto uma doença terminal desconhecida. Tentei ignorar um suor frio repentino e a sensação de algo que não conseguia descrever invadindo meu corpo. A Governanta e uma integrante do círculo estavam usando algum poder — dom, não poder — desconhecido para tentar conter a fenda e as sombras.

Também podia jurar que estava chovendo quando saí do veículo. Olhei para cima e vi gotas paradas bem acima de nossas cabeças, ao mesmo tempo que achei incrível, fiquei com medo. Esse lugar inteiro me dava medo, nunca pensei que essas coisas poderiam de fato existir.

O conselheiro que estava fazendo isso; percebi pela sua concentração.

— Conselheiro Helus. Elementar. Controla os quatro elementos primordiais — informou Emma ao meu lado.

— Interessante — respondi voltando a focar nas gotas que pendiam no ar com o intiuto de esquecer o desconforto e a sensação estranha, mas não era tão difícil devido a sua magnitude.

Os sentinelas trouxeram um mecanismo que absorveu a fenda por completo. A sensasão que pendia em meu corpo foi se desfazendo aos poucos e logo eu me sentia mais leve. Pensei que talvez todos estivessem sentindo o mesmo, e já estivessem acostumados, por isso não pareciam demonstrar tanto incômodo.

A volta para o palácio foi tão desconfortável quanto a ida, a única diferença foi o silêncio absoluto.

Assim que chegamos, um sentinela me avisou que o jantar seria servido no meu quarto essa noite. Fiquei pensando porquê eu precisava ter ido aquele lugar. Não tive nenhuma utilidade, mas a Governanta poderia querer que eu aprendesse sobre isso. De qualquer forma, as informações foram úteis.

Princesa das Trevas (em revisão)Where stories live. Discover now